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Pra não perder o costume

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 24/01/2009.

É, gente. Mudar radicalmente, assim de repente, é coisa muito difícil. Que o diga o Abençoado Obama, que agora no Oval Office, já com a faca e o queijo, ainda precisa plantar a goiaba. É lenta a natureza das grandes mudanças, mas eu, vocês sabem, sou atentada até na desesperança. Pois não é que embora eu já não leia o Globo, e tenha deixado de lado esse meu sonho abortado de ser colunista, continuo insistindo nas mínimas chances que se apresentam? E não, não é que eu ainda as procure avidamente como antes, mas, gente: tem coisa que cai no meu colo, assim, de mão beijada, vai saber por quê. Deve ser a tal mãozinha leve do destino.

Vai daí que navegando online, onde mais, no site de blogs do Globo, me deparei com o tal concurso do Arnaldo Blog, sutilmente homenageado neste aqui, que todo santo dia vos diverte, até no nome; Noga Bloga, blog, bloga, entenderam? Pois é. É isso aí. Cá estava eu lá (uai, é lá ou cá?) no blog do Arnaldo quando li sobre o tal concurso de tradução poética para o trecho da prédica (cá entre nós, meio antitética) do tal pastor na posse de Obama: o cool BHO faria a si próprio — e a todos nós, claro — um grande favor mantendo sua fé e opções eclesiásticas longe, mas bem longe das lidas do Estado, mas ó, estamos aqui pra criticar ou pra traduzir? E tradução poética, vocês sabem, desde o advento dos múltiplos gozos de Ulysses, pra não citar o anterior Hierosgamos, é comigo mesma, oba. Tô nessa. Vini, vidi, vinci, com o copidesque e tudo. Embora o generoso Globo jamais me livre do epíteto (ui!) de "leitora", vá lá, tudo bem: se o jornalão andasse por aí divulgando de graça que sou cronista, e não simples turista, se obrigavam a dar-me o tão ambicionado emprego, pois não? E não haveriam mesmo de querer isso, uma maldita trocadilhista manchando as sérias hordas jornalísticas, ainda mais, meu Deus!, com esse obscuro e tétrico palavreado. Mas não tem importância: valeu pela graça, AB, por A mais B. Embora, claro, não tenha sido ainda o meu melhor, reconheço: meu Sklar é com ká.

Agora. Cá entre nós. Quem não desiste mesmo de sua casquinha política é o tal do Cacique Cobra Coral, né não, gente? Arre. Deus me livre. Sou só eu ou todo mundo percebe o grande vexame que é um sujeito adulto, poderoso e potencialmente culto —como o noviço Eduardo Paes — apelar pra dancinha da (anti?)chuva em público quando o calo administrativo aperta? Francamente. Ainda bem que já não moro no Rio, e nem votei pra prefeito, mas se tivesse votado nele, tsk tsk, estaria agora roxa de vergonha. Gabeira, tenho certeza, não pagaria esse mico, ô, alcaide, pobre da nossa cidade.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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