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Há 19 anos no futuro

por Efraim Rodrigues *
publicado em 14/07/2007.

Eu gosto da história do sujeito que acorda depois de 19 anos. Há um caso em Arkansas-EUA e outro na Polônia. Se eu tivesse dormido os últimos 19 anos, estranharia o esverdeamento das instituições, bancos, grandes indústrias, supermercados, todos preocupados.

Há 19 anos, João Gilberto cantava "O Havaí seja aqui" Agora Marte é aqui. O que não é verde, tem que parecer verde. O que o ecólogo não puder resolver, o publicitário dá um jeito. Haja tinta verde. O condomínio de luxo acaba com a vegetação nativa, mas vende qualidade de vida no outdoor. Hoje, exige que as construções tenham tapumes verdes.

O supermercado atende a pressão por causa dos saquinhos. Adota então um saquinho oxi degradável. Conforme o nome, precisa de oxigênio para degradar. Mas não tem oxigênio dentro do lixão, nem radiação ultra violeta. Em suma, um desperdício de TDPA (o aditivo que torna o plástico oxi-degradável) com nenhum benefício ambiental. No entanto, satisfez alguns clientes superficialmente verdes.

Há 19 anos, os eventos esportivos eram o que eram. Um monte de gente junta, vendo quem pula, corre, nada e salta mais. Hoje ele também tem que ser verde. Durante os 17 dias de PAN, três usinas termoelétricas irão disponibilizar 160 MW de energia 24 horas por dia. Algo próximo a 16 mil ton a mais de carbono no ar. A prefeitura do Rio diz que vai plantar um corredor verde do Pan, ligando os Parques da Tijuca e Pedra Branca. A seguir a regra dos últimos 19 anos, quando os corredores do Pan voltarem para seus países, esqueceremos o corredor verde também. Aqui, tudo que é construção, já é ruína, dizia o Caetano enquanto nossos dois personagens dormiam.

Na semana passada houve o Live Earth. Há 19 anos, bastava ouvir balançando a cabeça como um urso apoplético. Agora, além disso, precisa também ser verde.Se por acaso, você se cansar de ver a Shakira sic "incendiando o palco" no site da Microsoft, poderá clicar no banner que anuncia o fora-de-estrada 4x4. Ética ambientalista é uma coisa, o tamanho do meu carro é outra coisa.

As conquistas ambientalistas das duas últimas décadas não foram pequenas, e mesmo este ambientalismo epidérmico e retórico não é pouco. Nossa consciência ambiental é já um fruto verde. Nos próximo 19 anos, as pessoas deixarão de ser clientes para serem cidadãos, abdicando de comprar bens de consumo que terminam por consumir nossos bens mais importantes. Para isto, precisaremos acordar deste nosso ambientalismo verde.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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