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Nobel discute o papel do revisor

por Rubens Shirassu Júnior *
publicado em 29/08/2005.

Com uma perfeição estilística, a prosa de JoséSaramago, 83 anos, Prêmio Nobel de Literatura em 1989, reinventa o romance histórico como um dos principais ficcionistas portugueses do século. Seu livro História do Cerco de Lisboa, 320 páginas, volume 4, da Coleção Biblioteca Folha, não é um romance histórico como o título parece indicar. Ao contrário, a ação passa-se na atualidade, na capital portuguesa. A narrativa gira em torno de Raimundo Benvindo Soares, um revisor de textos, solteiro, de 50 anos, que "não pensa em casar-se". A profissão do protagonista é determinante. Ele trabalha com palavras e torna-se obrigatório lembrar os versos dos poemas "O Lutador" ("Lutar com palavras/ é a luta mais vã./ Entretanto lutamos/ mal rompe a manhã") e "Poema de Sete Faces" ("Mundo mundo vasto mundo/ se eu me chamasse Raimundo/ seria uma rima, não seria uma solução"), de Carlos Drummond de Andrade.

O revisor chama-se Raimundo e não consegue se estruturar. Ao trabalhar nas provas de um livro de história sobre o cerco de Lisboa, altera o pensamento do autor, afirmando que os cruzados não ajudaram os portugueses a conquistar Lisboa dos Mouros. Estes a dominavam há 360 anos e apenas foram expulsos graças à indispensável ajuda dos cruzados estrangeiros que lutavam ao lado de Afonso Henriques (Rei Afonso I, desde 1139). O erro proposital de Raimundo é descoberto após 13 dias (número da sorte ou do azar?) e leva-o a conhecer Maria Sara, supervisora dos revisores. Apaixonam-se. Paralelamente, ele começa a escrever um romance sobre o cerco de Lisboa. Os fatos são falsos, mas perfeitamente aceitáveis como ficção. A aproximação amorosa entre Maria Sara e Raimundo corresponde às vitórias dos portugueses sobre os mouros e ao aumento da afeição entre Ouroama e Mogueime, personagem do revisor (agora autor).

À medida que os muros (históricos, emocionais e ficcionais) são derrubados, cresce o fascínio da prosa de Saramago. Tradutor experiente, o criador de A Jangada de Pedra conhece o valor das palavras e as utiliza como peças de um enigma. O autor coloca, de um lado em questão a ética profissional, a credibilidade do prestador e, a manipulação pela propaganda ideológica das instituições e meios de comunicação, pela alteração proposital de dados feita por Raimundo, o revisor de textos.

Ao final de obra, predomina o cosmos, a organização e a completude. Raimundo termina o romance, narrando a vitória dos portugueses. Os cruzados apenas se empenharam no cerco de Lisboa quando receberam a promessa de poder saquear livremente as posses dos muçulmanos. A visão irônica de Saramago é de fina mordacidade. O revisor-autor estáfeliz junto a Maria Sara, mas começam a surgir dúvidas quanto à futura estabilidade dessa união. Observa-se a preocupação do autor em não permitir a estabilidade completa. O universo é considerado um todo em mutação. A mudança seria a única constante invariável. Em suma, o cosmo mostra-se somente transitório.

Sobre o Autor

Rubens Shirassu Júnior: Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.
É o autor da coluna OLHO MÁGICO na VERDES TRIGOS.

Contato: jrrs@estadao.com.br

Veja também o "ORIENTE-SE: Manual de Procedimentos no Japão"
Edição Independente de Rubens Shirassu Júnior
Site do Livro: http://www.stetnet.com.br/orientese/

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