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Abaixo o Dia Mundial da Água

por Efraim Rodrigues *
publicado em 25/03/2007.

Eu tenho medo de ser homenageado por datas. Não sou negro, nem mulher, nem índio. Mas sou agrônomo, o que dá mais ou menos no mesmo. Se você tem uma
data só sua, é porque tem algum fardo para carregar.

Nesta semana comemoramos o dia da água. Já que estas comemorações não servem para nada mesmo, ao menos lembremos o que aconteceu desde o último 22/03.
No ano passado, o governo quis porque quis transpor o rio São Francisco. Então passou porque passou por cima de todas opiniões em contrário, e tocou a coisa até que um bispo fez uma greve de fome. Tenho enorme respeito por Dom Luis Cappio, por sua abnegação, e comungo de suas idéias, mas a situação é o resumo da política de recursos hídricos de nosso país. Ela se liquefaz diante de uma pessoa.

Neste ano também descobri que não há como retirar algumas substâncias que as algas produzem em águas poluídas. É até possível retirar as algas, mas não substâncias como microcistinas e nodularinas que causam câncer de fígado. Se você fizer hemodiálise com esta água, é morte rápida, como aconteceu em Caruaru. Se beber, é morte lenta.

Outra má notícia são os inúteis e inúmeros projetos e mais projetos plantando árvores na margem de cursos de água. Excluindo os realmente grandes, de milhares de ha, não há um que tenha sido a semente da mudança de qualquer bacia. Uma boa idéia para este ano, até o próximo dia 22 de março, seria repensar a relação custo-benefício de projetos com água. Será que isto tudo não seria um enorme grupo de ingênuos plantando uma barreira de árvores para esconder um rio morto ? Alguém conhece um rio que seja, que melhorou sua qualidade de água ?

Há boas notícias, ainda que restritas ao universo das idéias.

No final do ano passado um grupo de pessoas fez as contas direitinho e jogou flores para Iemanjá em Curitiba, algumas semanas antes do ano novo. A idéia é que elas chegariam na Foz do Rio da Prata à meia noite. A idéia é brilhante, por fazer as pessoas pensarem na ligação entre a ligação de esgoto em Curitiba, com todo o trajeto pelo Rio Iguaçu até o Paraná, e desaguando milhares de Km lá no Uruguai. As flores de Iemanjá e o esgoto de Curitiba vão para lá.

Uma outra boa notícia, é que parece que mais pessoas perceberam que seus hábitos alimentares podem ajudar muito mais a crise da água, do que a água que gastam diretamente. A agricultura é a principal vilã da água. Coma menos carne, e estará economizando muita água.

Eu sonho com o dia do Poluidor de Águas.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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