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Ianques no Paraguai

por Manoel Hygino dos Santos *
publicado em 15/07/2005.

Ao diário “La Nación", de Buenos Aires, o deputado Roberto Jefferson disse que há um esquema stalinista neste país, cujo objetivo “é comprar a burguesia corrupta". Segundo o jornal, o parlamentar tem em seu poder informações de “alto calibre", que tornará públicas no momento oportuno.

Do outro lado da fronteira de Argentina e Brasil, ocorria algo inédito na América do Sul, conforme noticia Verdes Cultural, um site de Henrique Chagas, de Presidente Prudente, SP. É que Assunção autorizou o estacionamento de tropas norte-americanas em território guarani, na estratégica região da usina de Itaipu.

A região é estratégica no continente, localizando-se ali a maior represa do mundo, cuja energia supre todo o território paraguaio e atende importantemente o território brasileiro. Ademais, é uma das mais férteis áreas do planeta, aproximadamente em eqüidistância de Pacífico e Atlântico.

O Paraguai, a despeito da situação de penúria a que foi atirado pela Tríplice Aliança, a nefasta coalisão de países do Cone Sul (excetuado o Chile), tem sido ocupante de uma área valiosíssima na América do Sul. Por ela se interessaram poderosas nações européias, sobretudo o Reino Unido, quando perceberam que o Brasil estava fora de seus tentáculos, por motivos históricos, assim como Argentina, sempre sonhada para ponta de lança inglesa na região. A história da nação sulina do Prata não estaria, nem estará, completa se não se atinar para a significativa atuação britânica ali e para vultosos interesses.

Até hoje, as Malvinas constituem um espinho na garganta dos argentinos. Se a guerra dos militares foi uma aventura inaceitável em face das circunstâncias, a grande verdade é que a nação do Sul jamais admitiu a presença britânica naquele remoto arquipélago no Atlântico. É como Portugal ou outra qualquer nação da Europa, se quisesse manter para si ou conquistar Fernando Noronha ou as ilhas de Trindade.

O Reino Unido queria mandar em parte da América do Sul e nada melhor que se estabelecendo na região do Prata. Sem condições de fazê-lo, buscou influenciar e trazer para seu lado o Paraguai, de presidentes duros, firmes, até cruéis, mas que souberam montar governos fortes e com apoio popular, pelo menos aparentemente. A força faz adeptos.

Carlos de Olivera Gomes é peremptório ao afirmar que a Guerra, dita do Paraguai, contra Francisco Solano López, teve origem em manipulações de natureza política urdidas por Mitre, presidente da Argentina, amparado por grandes interesses mercantis e financeiros regionais e multinacionais, representados por últimos principalmente por banqueiros e poderosos mercadores da Inglaterra.
Era a segunda metade do século XIX. O ministro da Fazenda Mitre chegou a escrever, em 1867, que “a guerra contra o Paraguai também se destinava a obter vantagens para o comércio mundial, principalmente para o comércio inglês, que terá no Paraguai um excelente mercado a explorar." São palavras textuais.

O tempo se encarregou de mudar parceiros e apetites. O Reino Unido foi substituído pelos Estados Unidos. As crônicas desavenças ou interesses _ ou ciúmes _ entre Argentina e Brasil continuaram. O Paraguai ficou para escanteio, sofrendo as conseqüências do conflito.
No do século XX, todos precisavam de energia elétrica. a grande proposta de solução seria a construção de uma hidrelétrica. Nasceu Itaipu, que _ na opinião de abalizados entendedores da política sul-americana _ encontraria a melhor solução com a junção de Paraguai, Argentina e Brasil para o empreendimento. “Seria uma organização muito mais eficiente do que a bilateral", julga o embaixador Leitão da Cunha. Não preponderou a idéia.

Agora, os americanos instalarão tropas no Paraguai. As demais nações, Brasil, Argentina e Uruguai _ não devem ter sido ouvidas. Permitiriam?

Sobre o Autor

Manoel Hygino dos Santos: *Jornalista e escritor. Membro da Academia Mineira de Letras, cadeira n. 23.

Livros publicados:
Vozes da Terra , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 1948 , Contos e Crônicas
Considerações sobre Hamlet , Ed. Imprensa Oficial de Minas Gerais , Belo Horizonte , 1965 , Ensaio Histórico – Literário
Rasputin – último ato da tragédia Romana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1970 , Ensaio
Governo e Comunicação , Ed. Imprensa Oficial , Belo Horizonte , 1971 , Monografia
Hippies – Protesto ou Modismo , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1978
Antologia da Academia Montes-Clarense de Letras , Ed. Comunicação , Belo Horizonte , 1978 , Coordenação de Yvonne de Oliveira Silveira
Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1979 , Ensaio
No rastro da Subversão , Ed. Faria , Belo Horizonte , 1991 , Ensaio
Darcy Ribeiro, o Ateu , Ed. Fumarc , Belo Horizonte , 1999 , Biografia
Notícias Via Postal , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 2002 , Correspondências


E-mail: colunaMH@hojeemdia.com.br
Matéria originalmente publicada no Jornal "Hoje em Dia", Belo Horizonte/MG

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