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Paixão aprendida na infância
por Rosângela Vieira Rocha
*
publicado em 15/07/2005.
Única "brasiliense" presente na antologia de novas escritoras brasileiras organizada por Luiz Ruffato, Rosângela Vieira, mineira de Inhapim, trafega por diversos gêneros literários
Nas recordações que guarda da infância, a escritora Rosângela Vieira se emociona ao lembrar do primeiro romance que leu. Na época, tinha apenas dez anos de idade, morava na cidade mineira de Inhapim e torcia para que pelo menos algum exemplar chegasse em suas mãos. "Em geral, as mães não gostavam que as crianças lessem romances, com medo de alguma rebeldia. Além disso, meu município não possuía livraria, tínhamos que dividir os livros com toda a cidade, quando chegava minha hora de ler faltavam folhas, havia páginas rasgadas…", relembra. O famoso Orgulho e preconceito, de um dos mais consagrados nomes da literatura mundial do século 19, Jane Austen, levou a menina Rosângela a ser picada pelo chamado inseto literário e criou um mundo de imaginação na mente daquela criança.
Em Brasília desde os 14 anos, Rosângela, agora com 52, é uma das principais representantes das escritoras brasilienses que lutam para que a produção feminina alcance maior expressividade. "O movimento de valorização das mulheres escritoras é recente e tem crescido no Brasil desde os anos 90. A união feminina é a prova de que o fenômeno é real e duradouro", destaca.
Recentemente, Rosângela integrou duas antologias. Na segunda parte da coletânea organizada pelo escritor Luiz Ruffato, Mais 30 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira, a escritora deu sua contribuição com o conto A oitava onda e acredita que o trabalho foi uma vitrine para outros lançamentos. "Os livros do Ruffato são inéditos e abriram portas para que as editoras vejam a produção feminina além dos nomes já conhecidos, como Rachel de Queiroz e Clarice Lispector."
"Quando iniciei a pesquisa para compor o primeiro livro, 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira, vi que a história tem uma lacuna. Várias mulheres pertencem a essa geração de talentos e não eram citadas. Reconheci pelo menos 70 mulheres que são poetas, contistas e cronistas pouco reconhecidas", justifica Ruffato.
Em outra iniciativa, em 2004, Rosângela estreou, com o conto O arrebatamento, na Antologia do conto brasiliense, organizada pelo poeta mineiro radicado na capital federal Ronaldo Cagiano. "Assim como grande parte das escritoras brasileiras, gosto de me aventurar por diferentes gêneros literários. Explorei a narrativa curta e a experiência me rendeu outros trabalhos", detalha a autora.
A tendência a explorar o universo feminino se mostrou latente nos dois livros publicados por Rosângela. O interesse na construção da identidade das mulheres e o papel delas na sociedade foram temas que instigaram a também professora a escrever Rio das Pedras em 1984. "Muitas experiências, algumas ficções e despretensiosa visão de mundo. As pessoas me perguntam se era autobiografia. Não era. Hoje, quando o leio, vejo coisas interessantes e sinto que foi o primeiro passo para os outros livros que lancei", resume a escritora.
Estréia oficial
O resultado, no entanto, não foi o esperado. A obra não chegou nas prateleiras comerciais, mas também não apagou o visceral fogo criador. Em 1990, Rosângela lançava o romance Véspera de lua, que, na verdade, foi o primeiro oficialmente publicado, após receber o Prêmio Nacional de Literatura da Editora UFMG. Apenas em 2001, na contramão dos acontecimentos, decidiu inscrever a novela Rio das Pedras no concurso Bolsa Brasília de Produção Literária, promovido pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Saiu vitoriosa, com o livro nas mãos. Em Véspera de lua, a trajetória de Paula, homossexual que vive história de amor com Ester, é contada em 48 horas. "Como escritora, gosto de enfrentar desafios textuais. Falar sobre o tema era algo obscuro naquela época e ainda é. Fiz uma pesquisa delicada, conversei com as pessoas. Sempre vi livros sobre a homossexualidade masculina, mas não sobre a feminina", afirma.
Depois de lecionar na Universidade Federal da Bahia durante sete anos, e de se graduar em Direito, retornou a Brasília em 1998. Hoje exerce a docência na UnB, ministrando oficinas de texto. Engajada na profissão de escritora, Rosângela se prepara para lançar o livro de contos Pupilas ovais, em setembro, com recursos do Fundo da Arte e da Cultura (FAC), e promete, até 2006, outra novela. "A escrita como desabafo acabou. A explosão da literatura feminina não é um presente nem uma dívida, já era a hora de as mulheres ganharem o devido espaço. Recebi recentemente um livro organizado por mulheres da Paraíba e também vou explorar as histórias que brotam na minha imaginação. Agora, o bicho vai pegar", brinca a escritora.
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Tatiane Lopes
Da equipe do Correio
Monique Renne/Especial para o Correio Braziliense - 15/07/2005
Sobre o Autor
Rosângela Vieira Rocha: Mineira de Inhapim/MG, jornalista e mestre em Ciências da Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo; atualmente é professora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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