Crônicas,contos e outros textos
PÁGINA PRINCIPAL → LISTA DE TEXTOS → José Aloise Bahia →















Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS -
Uma viagem cultural
VerdesTrigos está hospedado no Rede2
Leia mais
-
NOSSOS AUTORES:
- Henrique Chagas
- Ronaldo Cagiano
- Miguel Sanches Neto
- Airo Zamoner
- Gabriel Perissé
- Carol Westphalen
- Chico Lopes
- Leopoldo Viana
- mais >>>>
Link para VerdesTrigos
Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.
Anuncie no VerdesTrigos
Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui
Fratura Exposta
por José Aloise Bahia
*
publicado em 02/07/2005.

Os critérios do autor remetem a uma temporalidade orientada pela desorientada postura diante de uma tela/folha toda em branco e o trânsito/resgate da cor vermelha em linhas minimalistas ávidas. Uma experiência fértil e sedenta, ruminadas por uma somática transgressão, e consumadas por um poder de síntese apurado. Determinadas por uma diagramação e rigor formal com distinção.
Mesmo contendo poemas curtos, a sua essência é um exercício de sensibilidade prolongada. Aguçamento dos sentidos em explorações gráficas, visuais e sonoras. Mix, encontros vicejantes, saborosos, ardentes, entranhados numa palatável e sublime sensualidade: minha língua molúsculo/ entra em becos vadios/ cava cavernas no escuro/ vaza dos vaus sombrios// tua língua molúsculo/ fonte de eflúvios efêmeros/ nédio nácar que osculo/ super gema do gênero// nossas línguas molúsculas/ musculares púrpuras/ lânguidas contíguas// línguas de fogo vivas/ lesmas de libar salivas/ nuas e ambíguas.
Apuro formal - O poeta é obcecado com o poder dos verbos. Alguns dos poemas, em forma plena, atestam o desejo celular tatuado na pele, demonstrando a desenvoltura de uma linguagem poética estruturada e melódica. Ouvidos atentos. Minimalismo fértil. Metamorfose pura: crianças crescem para cima// adultos crescem para os lados// velhos crescem para baixo// mortos florescem.
O apuro formal desse livro, assimiladas as melhores virtudes do concretismo, assim como as preleções de Pound e Mallarmé no trato com a linguagem, resulta num conjunto de poemas de alto nível em que nada sobra e a linguagem, em sua essência, se mostra com exuberância ao olhar. Se em alguns momentos um ou outro poema nos soa simplista, como egg/ego, dada a extrema secura de elementos a que se chegou para expressar uma idéia, por outro lado poemas de mesmo gênero como guarDAR, péssarinho ou cicatriznos empurram no sentido oposto, ou seja, de que a linguagem poética está altamente tensionada, observa Ademir Demarchi na contracapa de Carne Viva.
Marcelo Sahea nasceu no Rio de Janeiro, vive em Brasília. Gosta de passear e dialogar, a partir dos seus olhos e óculos - por extensão também pela razão esclarecida e desdobramentos em suas mãos ágeis -, com as imagens atuais e on-line do computador, vanguardas da modernidade, coloridas do Fauvismo, figurativas da Renascença e do Barroco. Utiliza o desenho de Pietro da Cortona (1596-1669) na belíssima capa do livro. Aliás, faz um jogo imagético rasgado ao desmembrar o corpo em três partes.
Dialética viva e consubstanciação de uma fratura exposta e fragmentada, marca da contemporaneidade. O essencial é tentar juntar estas três partes. Caminho possível e acerto do poeta: uma operação vascular e óssea. Na sua trajetória extrema persegue página por página, e consegue, a preciosa e urgente coagulação das palavras que embalam. Pedem passagem em meio a cicatrizes de letras, que alimenta a sede interminável das enzimas em Carne Viva.
ps: envolto ao livro-objeto, acompanha uma gaze. Para estancar possíveis hemorragias visuais...
Sobre o Autor

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
LEIA MAIS

