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Fratura Exposta

por José Aloise Bahia *
publicado em 02/07/2005.

Em Carne Viva (edição do autor, 2003), de Marcelo Sahea, inicialmente publicado no formato e-book, as palavras articulam uma fratura exposta singular na poesia. A ousadia do escritor desmonta qualquer vocábulo no seu silêncio, e surta um parto provocacional à luz de fórceps estéticos criativos e concretos. Visceral.

Os critérios do autor remetem a uma temporalidade orientada pela desorientada postura diante de uma tela/folha toda em branco e o trânsito/resgate da cor vermelha em linhas minimalistas ávidas. Uma experiência fértil e sedenta, ruminadas por uma somática transgressão, e consumadas por um poder de síntese apurado. Determinadas por uma diagramação e rigor formal com distinção.

Mesmo contendo poemas curtos, a sua essência é um exercício de sensibilidade prolongada. Aguçamento dos sentidos em explorações gráficas, visuais e sonoras. Mix, encontros vicejantes, saborosos, ardentes, entranhados numa palatável e sublime sensualidade: minha língua molúsculo/ entra em becos vadios/ cava cavernas no escuro/ vaza dos vaus sombrios// tua língua molúsculo/ fonte de eflúvios efêmeros/ nédio nácar que osculo/ super gema do gênero// nossas línguas molúsculas/ musculares púrpuras/ lânguidas contíguas// línguas de fogo vivas/ lesmas de libar salivas/ nuas e ambíguas.

É o tipo de leitura que a pessoa encara, observa, pontua, escolhe, e vai adiante. O que mais agrada são as construções visuais, convergência de imagens com as palavras, que provoca toda uma gama de sinestesias. Os poemas remetem a uma interatividade direta, assimilada e confluente, tecida por uma temática meio sombria em seus jogos de linguagens. Jogando-nos de um lado ao outro: trabalhando com signos opostos. Uma tensão em movimento: amor cego feito morcego/ nas cavernas da noite fria/ o relâmpago da paixão/ te denuncia// amor cego feito morcego/ à luz das trevas do meio-dia/ o blackout da razão/ te renuncia// amor cego feito morcego/ no vôo livre da poesia/ me guia.

Apuro formal - O poeta é obcecado com o poder dos verbos. Alguns dos poemas, em forma plena, atestam o desejo celular tatuado na pele, demonstrando a desenvoltura de uma linguagem poética estruturada e melódica. Ouvidos atentos. Minimalismo fértil. Metamorfose pura: crianças crescem para cima// adultos crescem para os lados// velhos crescem para baixo// mortos florescem.

O apuro formal desse livro, assimiladas as melhores virtudes do concretismo, assim como as preleções de Pound e Mallarmé no trato com a linguagem, resulta num conjunto de poemas de alto nível em que nada sobra e a linguagem, em sua essência, se mostra com exuberância ao olhar. Se em alguns momentos um ou outro poema nos soa simplista, como egg/ego, dada a extrema secura de elementos a que se chegou para expressar uma idéia, por outro lado poemas de mesmo gênero como guarDAR, péssarinho ou cicatriznos empurram no sentido oposto, ou seja, de que a linguagem poética está altamente tensionada, observa Ademir Demarchi na contracapa de Carne Viva.

Marcelo Sahea nasceu no Rio de Janeiro, vive em Brasília. Gosta de passear e dialogar, a partir dos seus olhos e óculos - por extensão também pela razão esclarecida e desdobramentos em suas mãos ágeis -, com as imagens atuais e on-line do computador, vanguardas da modernidade, coloridas do Fauvismo, figurativas da Renascença e do Barroco. Utiliza o desenho de Pietro da Cortona (1596-1669) na belíssima capa do livro. Aliás, faz um jogo imagético rasgado ao desmembrar o corpo em três partes.

Dialética viva e consubstanciação de uma fratura exposta e fragmentada, marca da contemporaneidade. O essencial é tentar juntar estas três partes. Caminho possível e acerto do poeta: uma operação vascular e óssea. Na sua trajetória extrema persegue página por página, e consegue, a preciosa e urgente coagulação das palavras que embalam. Pedem passagem em meio a cicatrizes de letras, que alimenta a sede interminável das enzimas em Carne Viva.

ps: envolto ao livro-objeto, acompanha uma gaze. Para estancar possíveis hemorragias visuais...

Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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