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Expresso Mineiro: Pão de Queijo Notícias

por José Aloise Bahia *
publicado em 27/02/2005.

"Pão de queijo também é nome de jornal?" Questiona a curiosa sobrinha de 15 anos ao ver uma folha impressa. "Não, não é jornal. O nome de um saite", respondi. "O nome de uma revista e de um newsletter". Acho que ficou mais ou menos na mesma. Ela insistiu com outra pergunta: "Pão de queijo também é internacional? É inglês?". Afirmei com um olhar, e já meio sem paciência: "Não, pão de queijo é mineiro mesmo, uai". Dei uma pausa no teclado. Foi aí que me dei conta que ela estava falando também de uma outra palavra: newsletter.

O leitor deve estar se perguntando, o que te tem a ver a conversa com a minha sobrinha, as palavras newsletter, revista e pão de queijo? Primeiro: a iguaria mineira transpôs as mesas das cozinhas, restaurantes e lanchonetes e chegou a internete. Não, não se trata de fornecer a receita da massa assada no forno. Se alguém pensou numa saborosa chávena de rubiácea ou café expresso, acompanhando o petisco, passou perto. Principalmente, se a ligação for com a palavra expresso. Está difícil!? Então vamos ao que interessa: Pão de Queijo Notícias é um expresso diário e virtual de informação, feito por profissionais da imprensa em Belo Horizonte. A cobertura é a capital mineira e todo o interior do Estado de Minas Gerais e outras cidades brasileiras. E o mais importante: o informativo é um grupo aberto de discussões na área de comunicação social.

Pois bem, como nós temos uma certa mania em copiar estrangeirismo, e eu uma certa resistência, prefiro adotar uma outra expressão. Aliás, reforço um sentido mais pleno já dito anteriormente: expresso diário e virtual de informação (ou de notícias, de debates, de reflexão). Em se tratando do PQN, esta seria uma possível tradução com significados mais dignos de entendimentos para a palavra newsletter. Segundo: já tem história. Em novembro de 2003 foi realizada a primeira edição do "Seminário Mineiríssimo de Jornalismo Pão de Queijo Notícias", um evento que debateu e procurou alternativas de trabalho para os jornalistas, além de apresentar novas tecnologias do mercado profissional. Hoje, está na internete (www.paodequeijonoticias.com.br) e arrasa nas Alterosas em sua mais nova versão: virou revista impressa. O fundador do PQN, o jornalista Robson Abreu, lançou o primeiro número em dezembro de 2004, numa cerimônia e tanta em Belo Horizonte, no anfiteatro mais chique da capital, o Palácio das Artes.

Os números do PQN - De acordo com Abreu a lista do PQN já conta com 3.735 e-mails cadastrados no Brasil, Minas, outros estados e até do exterior. Quantos e-mails você recebe diariamente? "Depende, geralmente recebo 500 e-mails em dias de pouca discussão. Quando a coisa apertou, como o debate da UFMG, recebi 700", comenta. Quais são as temáticas levantadas e as mais discutidas pelo pessoal? "Às vezes até cinco temáticas diferentes numa mesma edição. Neste momento estamos debatendo quatro: UFMG, estágio não remunerado, questão dos impostos altos e a revista, que vai para o seu segundo número". São dados surpreendentes para um movimento que começou há quase dois anos. Terceiro: toda a participação via internete e na revista impressa são feitas por colaboradores. Pode-se até pensar numa imprensa independente: uma espécie de cooperativa, sem remuneração e com muita dose de criatividade e solidariedade. E ainda tem as festas, chamadas "minivers", minianiversários do PQN. Congratulações que reúne mais de 150 jornalistas em eventos temáticos como a "famosa feijoada". Em sua última edição participaram 190 jornalistas num badalado espaço mexicano de Beagá. Convenhamos: nunca na história mineira, um jornalista conseguiu mobilizar tanta gente na categoria.

"Sem a colaboração dos pares, sem a contribuição dos profissionais da imprensa, não seria possível a revista. A luta foi difícil, mas não inglória. Tanto assim que aí está, em noite de gala, se exibindo em seu primeiro número, bem à moda de César, atravessando o Rubicão: a sorte está lançada". Eis um trecho do editorial da revista PQN Pão de Queijo Notícias: jornalismo para comunicação em seu primeiro número. O preço: R$ 9,90. Para 64 páginas de ousadia, multiplicidade, reflexão e combatividade. Na sua matéria de capa, chama a atenção à manchete "Queremos um Conselho? Após tanta discussão e manipulação, projeto de lei ganha alterações e o órgão passa a se chamar Conselho Federal dos Jornalistas". São oito páginas relatando a cronologia e as tentativas de criação de um conselho ao longo da história da comunicação social brasileira. Detalhe: a reportagem ouve quase todos os personagens relacionados à questão. Políticos, sindicalistas, jornalistas, professores, radialistas, Ongs (TVER), OAB, etc. participam de uma matéria ampla e pertinente. Só faltaram as vozes dos donos das empresas de comunicação (TVs, rádios, revistas e jornais), assessores de imprensa e o pessoal das relações públicas. "Esse outro lado seria uma segunda matéria. Como o projeto foi "arquivado" vimos que a notícia ficou caduca. Mesmo assim, daremos espaço na edição de número dois, que sai agora em março de 2005", observa o editor executivo Robson Abreu. No primeiro número coexistem também temas variados, acolhendo uma gama qualificada de cidadãos: profissionais, estudantes, desempregados, professores, editores, redatores, etc.

Quarto: dificuldades foram o que ainda não parou de existir desde o número um do expresso diário e virtual de informação, e no da revista. Como observa Abreu as maiores são no envio dos e-mails pela internete. Ele tem que separar mais de 3.000 e-mails em grupos de 40 (para que as mensagens são sejam percebidas/recebidas com spans) e ficar teclando ctrl+c e ctrl+v. Um esforço repetitivo tamanho que chega a doer os dedos. Com relação à revista, o eterno problema das demais, principalmente as menores e as que começaram a ser publicadas recentemente: captar publicidade no mercado. Aí é que entra os amigos e os colegas. Entre uma indicação e outra Abreu toca o barco. Consegui fechar a primeira edição com mais de 10 anunciantes.

Quinto: o próximo passo, além da segunda edição da revista (pretende-se estender ao público nacional), é reeditar o Prêmio PQN de Ouro para os melhores da imprensa mineira do ano de 2004. No ano passado, o sucesso da festa e a integração foram tão grandes que até empregos mais ou menos duradouros alguns jornalistas conseguiram. A lista de votação por categorias já está on-line (melhor jornalista de TV, de jornal, de rádio, melhor saite, etc.). Cada cadastrado pode escolher um nome entre três opções sugeridas e selecionadas pela turma que visita o saite e lê o expresso diário e virtual de informação (insisto nesta expressão). Mais informações: paodequeijonoticias@globo.com.

Sexto: e o que a minha sobrinha tem a ver com tudo isto que está escrito acima? Para minha tranqüilidade, no meio do bate-papo daquela tarde, não fui mais interrompido quando já estava escrevendo o segundo parágrafo desta pequena matéria. Somente observei de longe que ela estava remexendo em alguns livros da estante. Já no finalzinho, precisamente no começo deste último, Sophia chega perto de mim, e cara a cara me revela: "Tio, já sei pra quê eu vou prestar vestibular!". Eu respondi de maneira afável: "Olha, olha, que notícia boa. A princesa já sabe o que quer estudar na universidade". O espanto veio com o complemento: "Eu vou prestar vestibular para comunicação social. Eu quero ser jornalista". Depois daquilo fiquei olhando para ela, para o computador e a janela aberta, pois estava fazendo um calor dos diabos. Um misto de felicidade ou infelicidade, pena, caneta, teclado, incertezas, sei lá, abateu-se sobre mim. Mais uma na família estava decidida a trilhar este caminho tortuoso, fecundo e cheio de surpresas. Ah! Particularidade que estava esquecendo de comungar com os leitores: o pai dela (casado com a minha irmã) tem um jornal de circulação média aqui na capital. Na sua opinião, você não acha que ela tem tudo para dar certo e, nem bem iniciou já está começando com sorte na futura profissão?

Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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