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Imbróglio 513

por Terezinha Pereira *
publicado em 19/02/2005.

"_ O meu nome é Severino,
não tenho ouro de pia.
Como há muito Severinos,
........
Somos muitos Severinos
Iguais em tudo na vida:
Na mesma cabeça grande
........
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta."
........


Meu nome, como o de tantos de minha terra é Severino. Acontece que, desta sina de vida severina, fui salvo por uma finta. Hoje, me acho no Circo Brasília. Estimado público, comecemos o nosso próximo espetáculo:

Que devemos ser autônomos, nos livrar do Grande Circo, é essa a nossa idéia, os cinco malabaristas da hora. Se Bolso diz que o Green é "defensor de sequestradores e de pseudo-torturadores" ; que nós, os artista, "não podemos ser regulados pelos do Grande Circo", grita o Aleluia; o Guima se manifesta como se fosse "o enunciado da opinião de nossos espectadores"_ aqueles que tiram do seu, o tanto que é preciso para pagar nossas contas........ Nenhum desses quatro lhes oferece o céu. No meu sangue, diferente dos distintos Severinos, há é mais tinta. Apesar de tantos Severinos, sou um outro.

Meus caros companheiros de terno e gravata, nesta terra quente de dar gosto, eu estou aqui a lhes prometer o paraíso. Além dessa verba indenizatória, que a todos possibilita o uso dessa roupa imponente, cujo colarinho faz sentir o gosto da forca, mas que não passa de nossa única penação, eu lhes prometo, a troco dessa cadeira de maior importância, uma recompensa de vinte e um mil e quinhentos reais a cada mês. Ora, não avexemos! Nem um só daqueles do lado de fora do Circo Câmara, vai se ocupar em executar seus cálculos. Por exemplo: multiplicar essa tutaméia, que ora lhes apresento, por 513 vezes 13 e inferir que isso vale cento e quarenta e três milhões, trezentos e oitenta e três mil e quinhentos reais na conta anual da nossa casa. Isso, livre da verba que indeniza nossa roupa enforcante e quente, mais água, luz, telefone e correio, mais moradia, gasolina e passagens de avião para nossas bases, pois temos que estar sempre atentos, para garantir a recompensa pelos nossos generosos serviços nos quatro anos do porvir. Ninguém vai se preocupar em fazer as contas, meus caros companheiros de picadeiro, como por exemplo, dividir vinte e um mil e quinhentos por trezentos reais para rematar, que essa merreca dá para gratificar 71 daqueles que ganham o que não dá para o de comer e, com esse, têm de comer do pouco e do pior, além de pagar água, luz, gás mais os "et cetera". Ninguém vai fazer as contas para saber quantos buracos de estrada podem ser tapados com esse valor mensal, gentilmente oferecidos pelos nossos espectadores, espalhados por esse país inteiro. Prevalece é a dignidade de Nossas Excelências.

É........

País inteiro de Severinos, que morrem de morte matada, na luta pelo de plantar, pelo de morar, pelo de ir e vir, pelo de viver. Severinos, que mudos, calados, pagam por seu imbróglio, senhor Severino, pois o que lhe é dado pelo seu glorioso trabalho está registrado na lei que Vossa Excelência e seus excelentíssimos parceiros, acrobatas de mais tinta no sangue, registraram. Cumpra-se.

Sobre o Autor

Terezinha Pereira: Terezinha Pereira é romancista, contista, cronista, graduada em Letras, membro da Academia de Letras de Pará de Minas

Publicações:
_ "Em confidência", romance publicado pela Mazza Editora, Belo Horizonte, 2000, premiado em concursos literários realizados no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais;
_ "Uma pianista numa noite branca..." , Caderno Literário de contos, 2004, pela Academia de Letras de Pará de Minas em parceria com o Jornal Diário;
_ Contos, na "Revista da Academia Mineira de Letras" (4 revistas);
_ Artigo, projeto de estudo do livro "Dom Quixote" para alunos de 8ª série do Ensino Fundamental, publicado na revista "Presença Pedagógica", de setembro/2005;
_ JB Online, Café Literário: Colunista da Semana, 23 a 29/11/2005.

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