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Alguém vai perder esse filme?
por Jorge Pieiro
*
publicado em 25/01/2005.
(Max Mallmann)
Em consagrado manual de teoria da literatura, René Wellek e Austin Warren refletem sobre a função da literatura e sublinham que uma obra literária exerce com êxito a sua função quando prazer e utilidade coexistem, fundindo-se. Em determinado ponto, a partir da leitura de Platão e de Santo Agostinho, os autores questionam se alguma literatura é incitativa e outra catártica, ou se a diferença estaria em grupos de leitores e na natureza da sua reação.
Essa questão não deve se resolver... A leitura de prazer é, apesar da necessária reserva inquisitorial daquilo que se chama crítica, o grande espetáculo. Barthes assumia a posição de seu interesse pela linguagem, porque ela o feria ou o seduzia. Mas, ao tentar evoluir o pensamento, voltava-se ao texto e ao prazer que ali se encerrava. Isso parece estar sempre presente nas forçadas crises de pensamento, ou seja, nas divagações que a mente impertinente teima em possuir. Mas, ao leitor qualquer (o que se diverte com a leitura?), isso não tem a menor importância. O que se configura como primordial é a satisfação do ato, do sentido que se produz.
Pareço, até aqui, insinuar uma tentativa de desviar atenções ou preparar a defesa de um ponto de vista. Mas como poderia ser diferente, se todos nos valemos desses artifícios? E para que serve a vida, se não para que possamos forjar o indefinido? Estabelecer o conflito entre o inútil e a práxis? Evidenciar os equívocos da nossa própria criação? Encaremos pois, alguns aspectos que nos justificam...
Há realmente uma diferença fundamental entre o sonhador e o pedante: a grosso modo, o pensamento do primeiro é a nuvem; o do outro é o inferno. Entre os dois, resta apenas a distância de uma vida normal(?). Todos nós, leitores, percorremos essas órbitas. Se por um lado, apreciamos o fácil, por outro, buscamos percorrer o labirinto, em chamas, como se a meta fosse a pérpetua crise.
Então, vamos aos fatos. Que aconteceria se em vez de tentar decifrar o livro dos Vedas ou as chaves alquímicas de Hermes Trimegisto, ou descobrir o fundamento de Ser e tempo, de Heidegger, reescrever Ulisses, de Joyce etc etc etc, fosse-nos dado apenas um incentivo para ler O rei das fraudes (Rocco, 2003) ou O último jurado (Rocco, 2004), ambos de John Grisham ou Paranóia (Rocco, 2004), de Joseph Finder, antes que essas tramas padronizadas de suspense tomassem as telas dos cinemas?
Sim, estas últimas são tramas padronizadas escritas por 'instituições' - há sempre longas notas de agradecimento a pesquisadores, colaboradores, conselheiros ao final das obras. Mas essas 'instituições' que se acotovelam nas listas de mais vendidos sabem fazer o leitor se divertir, se emocionar com a leitura, embora depois que o tempo passa a repetição desses livros com fórmulas torna-se cansativa. Mas aqui cabe polemizar... Seria o caso de nossos pretendentes a romancistas começarem seguindo os mesmos passos? Seria o caso de os leitores de primeira água tomarem esse caminho até se sentirem entediados e partirem aos labirintos?
Essas questões também não devem ser resolvidas... Cabe, no entanto, lembrar que um roteirista da TV Globo e romancista gaúcho, de nome importado, Max Mallmann (1968), escreveu um romance que não se perderia entre as prateleiras da estante para cinema. E vale dizer que na obra, Zigurate - uma fábula babélica (Rocco, 2003), o autor é tão ou mais engenhoso e convincente em seus delírios ficcionais que muitos daqueles pré-roteiristas importados. É uma obra com enredo e com personagens bem constituídos. Se isso não bastasse, há uma fluência cinematográfica que muito lembra os romances de R. Roldan-Roldan, todos editados pela editora campinense, Komedi. Conhecem-no?
Dito isto, parece que tudo até aqui não passa de uma invenção; ou que o romance de Mallmann é irretocável. Não é verdade. Se assim fosse, melhor não pensar na vida. Certo é que Zigurate poderia tornar-se também filme a tentar justificar mais ou menos alguma coisa. Alguém se habilita à produção?
Serviço
Zigurate - uma fábula babélica - Romance de Max Mallman. Editora Rocco, 2003. 224 páginas. R$ 31,50.
Trecho
- Por que tu não conseguiste transformar a francesa numa imortal? - perguntou Mariana em português gaúcho.
- Porque eu menti, Mariana. Menti - disse Lugal, e sua voz soava como se houvesse grilhões em sua garganta. - Ninguém pode ser transformado em imortal. Falei aquilo só pra Sophie morrer feliz. Só pra que ela não morresse se sentindo derrotada pela morte, como aconteceu com o meu filho. (p. 215)
Sobre o Autor
Jorge Pieiro: Jorge Pieiro é escritor e professor de literatura. Auto de várias obras:• Caos Portátil (contos). Fortaleza: Letra & Música, 1999.
• Galeria de Murmúrios (ensaio). Fortaleza: [s/n], 1995. (Cadernos de Panaplo).
• Neverness (poema). Fortaleza: Resto do Mundo/Letra & Música, 1996.
• O Tange/dor (poemas). Fortaleza: [s/n], 1991.
• Fragmentos de Panaplo (contos breves). Fortaleza: [s/n], 1989.
• Ofícios de Desdita (ficção). Fortaleza: IOCE, 1987.
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