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Rachel de invisíveis jardins

por Chico Lopes *
publicado em 02/01/2005.

Estabeleci com Rachel Jardim, em algum ponto dos anos 80, uma relação dessas que só acontecem entre um leitor triste e um livro que parece tão dolorido quanto a sua vida e, se não a explica, ao menos a consola. O leitor era eu, claro, e o livro dela, Inventário das cinzas, que um amigo livreiro me mandara de São Paulo.

Quem vive mais para ler que para viver (e era esta uma boa definição de minha vida, naqueles tempos) sabe o que é isso: os livros nos parecem mais vivos, mais interessantes e palpitantes que as pessoas e os ambientes que nos cercam, e, se ainda por cima se trata de cidades do interior, onde o tédio e a falta de saída são quase sempre infalíveis, a coisa pode ser obsessiva. Passei uma boa temporada lendo e relendo a prosa solta, indefinível, entre memória e desabafo do presente, de Inventário das cinzas. Se alguém me dissesse, naquela época, que eu um dia seria escritor publicado e conheceria Rachel Jardim, desesperançoso como eu vivia, teria achado isso o mais arrematado absurdo.

Mas, a vida nos leva para onde ela, vida, quer, e não para o que pensamos querer ou saber. Eis-me em Poços, neste 2004, tendo feito com amizade pela Internet com uma escritora de Brasília, Rosângela Vieira Rocha. Rosângela conhecia Rachel de telefonemas, e me contou que a escritora de Juiz de Fora morava no Rio, mas não era de Internet nem de correspondências. Amiga como ela só, Rosângela acabou conseguindo, para mim, uma cópia xerox do Inventário das cinzas, pois nem em sebo se achava mais esse livro. E mandou-me mais dois de Rachel, Os anos 40 e O penhoar chinês. Mas, fez ainda mais: mandou-me o endereço de Rachel para que eu lhe enviasse o meu Nó de sombras.

Vivi alguns dias de ansiedade, à espera de um sinal de Rachel, esperando é claro que ela emitisse seu julgamento sobre meu livro de estréia. O julgamento, quando veio, não poderia ser mais animador.

Estabelecemos uma troca de correspondência. Não tinha coragem de lhe telefonar, embora ela própria me desse o número de seu telefone. Ainda estava um pouco abalado com essa perspectiva de ouvir a voz de alguém que fora para mim como um mito para lá de inatingível (só Deus sabe o que a gente, solitário, elabora de fantasmagórico e lisonjeiro sobre o autor de um livro que parece falar conosco, nos períodos mais difíceis!). E ela me telefonou, por ocasião do lançamento do meu segundo livro Dobras da noite. Ouvi uma voz agradável, animada, informal. Creio até que a retive falando comigo tempo além do devido, porque era-me difícil acreditar nisso: eu falava com Rachel Jardim!

O que posso dizer dela, para quem não a conhece? Rachel afastou-se da vida literária, onde teve sucesso com Os anos 40, Cheiros e ruídos e outros livros, com sua prosa percorrida por delicadezas infindáveis de memória, sonho e devaneio, mas também incisiva, podendo ser dura, mesmo implacável. Tem um grande apego a Minas e, como poucos livros, Os anos 40 nos explica este estado de um modo muito claro, impiedoso, mas com enormes doses de poesia. Ama Proust. No Rio de Janeiro, com um grupo de estudiosos, tem todas as quartas-feiras (em homenagem às quartas de Mme. Verdurin, de Em busca do tempo perdido) encontros para discutir o grande Marcel.

Confirma-se, dela, a primeira impressão que Inventário das cinzas me deu: a de uma mulher culta, clara, dada à solidão, amiga de verdades que doem, das revelações dos outros mundos de percepção e beleza que sóa literatura pode nos dar. Lê muito, ocupa seus dias com leituras e releituras. Já não acredita mais num monte de imposturas e canseiras estéreis da chamada vida literária, com razão. Continua com fé no aroma dos invisíveis jardins em que todos nós, amigos mais da arte que da vida (porque esta em geral mostra-se inconsolável), apostamos. Onde não há jardim/as flores nascem/de um secreto investimento em formas improváveis, disse o sábio Drummond.

Quem quiser relê-la, terá dificuldade para encontrar seus livros. Mas o indispensável Os anos 40 foi reeditado pela Funalfa de Juiz de Fora com a José Olympio. Convém remergulhar em Rachel. Ela escreveu coisas feitas para durar e resistir.

Sobre o Autor

Chico Lopes: Chico Lopes é autor de dois livros de contos, "Nó de sombras" (2000) e "Dobras da noite" (2004) publicados pelo IMS/SP. Participou de antologias como "Cenas da favela" (Geração Editorial/Ediouro, 2007) e teve contos publicados em revistas como a "Cult" e "Pesquisa". Também é tradutor de sucessos como "Maligna" (Gregory Maguire) e "Morto até o anoitecer" (Charlaine Harris) e possui vários livros inéditos de contos, novelas, poesia e ensaios.

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Francisco Carlos Lopes
Rua Guido Borim Filho, 450
CEP 37706 062 - Poços de Caldas - MG

Email: franlopes54@terra.com.br

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