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Parabéns!

por Maria Cristina Castilho de Andrade *
publicado em 01/08/2004.

Em dezembro, completa 26 anos. Carrega o peso de muitos desencontros. A mãe, num atalho que desconheço, perdeu os passos sem desvios e entregou-se ao álcool. Foi pela água aguardente que vieram as drogas ilícitas e a dificuldade de criar os filhos - uma menina e um menino - centrados. Do pai, penso que jamais me falaram.

Não me recordo como os conheci. Vieram fortemente e acamparam em algum terreno de minha história, como tantos outros excluídos que moram em mim. Lembro-me com nitidez do sorriso dolorido da mãe e das inúmeras vezes que me procurou. Buscava algo que lhe preenchesse as mãos em cálice, ao chegar diante do filho na cadeia. Somente agora percebo que nunca pediu sequer uma moeda para ela. Os filhos sempre, em primeiro e único lugar.

O rapazinho voltou à cadeia mais duas vezes. Levavam-no os devaneios diante de um tênis na porta da loja, uma camiseta solta no cabide, um objeto qualquer, que poderia ser transformado no punhado de erva. Na época, acreditava ser possível acertar o rumo a partir da fumaça que entorpece.

A mãe era doente. Seu estado agravou-se. O jovem, que percebera a inutilidade das fugas na resolução dos vazios, vagava pelas ruas esforçando-se por um emprego. Portas fechadas rapidamente.

A gravidade da doença da mãe impediu-a de caminhar. O moço ficou em casa cuidando dela. Um ano e meio pelo menos. Esqueceu o vazio pela troca de fraldas, pela comida que lhe dava na boca, pelo banho que a fazia experimentar a renovação. Viveram assim, nos últimos tempos, num colóquio de ternura e pegadas de onde brotavam flores-de-lótus. A irmã, casada e com filhos, vinha quando era possível. A mãe lhe pedia que lesse o Evangelho do Natal.

Partiu a mãe. O filho ficou na casa despovoada, contudo sem vazios. Acertou os passos. Recomeçou na escola. Deram-lhe uma chance em construção civil. Assim que os documentos estiverem acertados, ganha Carteira de Trabalho com assinatura.

Semana passada, encontramo-nos. Acabara de sair da escola. Fez questão de mostrar o caderno em ordem, dividido em matérias. Caneta azul e vermelha para copiar as explicações. Atividades a lápis. Numa folha, a professora escreveu “Parabéns!” É a sua glória.

Antes de se despedir, contou-me que, todas as noites, sonha com a mãe, como se ainda cuidasse de suas feridas. Entendeu a maneira de curar as crateras interiores, transformá-las em gruta de Belém.

Sobre o Autor

Maria Cristina Castilho de Andrade: Cristina Castilho é professora de Português e agente das Pastorais da Mulher e a Carcerária. No trabalho com mulheres prostituídas e presidiários, circulou e circula pelo submundo, conhecendo sua realidade. Seu livro de crônicas conta a história das pessoas com quem se deparou no submundo do mundo. Escreve semanalmente no Jornal da Cidade de Jundiaí; mensalmente no Suplemento Estilo do Jornal de Jundiaí - Regional e, quinzenalmente, no Jornal de Abrantes - Portugal.

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