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O mal-estar da civilização, suas causas e possíveis curas.
por Carol Westphalen
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publicado em 24/08/2003.
É utópico acreditar que a vida numa cidade moderna irá trazer estabilidade financeira, prazer, conforto e paz. Segundo Freud, a busca do nosso “eu” está inteiramente relacionada ao prazer. O objetivo do princípio da natureza humana está na busca pela satisfação pré-genital/libido, a qual é classificada pela psicanálise como perversão, ou seja, amoral. O mal-estar é um dos sintomas que, dificilmente, deixará de existir, pois o individualismo das sociedades produtivistas e consumistas faz com que as coisas valham cada vez mais e as pessoas cada vez menos.
Existe uma necessidade vital do homem de possuir uma identidade, a qual, infelizmente, está fadada à frustração por causa de algumas características desumanas - portanto, nocivas -, das metrópoles. Um homem sem rosto, dotado de uma fisionomia falsa – oferecida pelo ambiente em que vive -, e, na ausência de auxílio, corre o risco de entrar em crise e, possivelmente, desenvolver apatia, depressão, melancolia ou, até mesmo, uma doença mental grave, a qual pode desencadear, inclusive, um comportamento violento.
O mal-estar também é influenciado pelo crescimento da miséria. Os governantes do terceiro mundo, descaradamente, pedem para que seus povos acreditem numa suposta democracia - tal solicitação, provavelmente, ofende sua ínfima dignidade. Vejamos o significado de ‘democracia’, segundo o dicionário Michaelis: seria uma forma de governo na qual o poder emana do povo. E, segundo o livro ‘Sociedade, O espelho partido’ – um dos livros que faz parte da biografia dessa reflexão –, democracia seria a busca permanente pela sustentação equilibrada de dois valores (liberdade e igualdade) que, em nossa realidade social, mostram, de forma bastante óbvia, uma contradição.
A religião também é um fator importante na questão do mal-estar da civilização, pois as crises, nas quais estão contidos alguns dos sintomas do mal-estar, levam muitas pessoas à igreja, a qual proporciona um falso alívio. Sob o ângulo psicanalítico, a religião que impõe regras (imperativas) e se diz como único meio de cura é, na verdade, uma neurose obsessiva. Pessoas isoladas desenvolvem neuroses particulares e grupos de pessoas desenvolvem neuroses coletivas, uma delas é a religião. Segundo a psicanálise, algumas religiões até “amenizam” sofrimentos e dão um certo “sentido” à vida de muitas pessoas. Mas, deve-se ter cautela ao escolher uma filosofia de vida espiritual, pois existem religiões que acabam por produzir uma perturbação psicológica - deve-se desconfiar daquilo que é óbvio, pois a certeza nada mais é do que um hábito mental no qual as pessoas estão acostumadas a acreditar. O vício na religião, assim como na comida, no jogo ou nas drogas, são formas que algumas pessoas encontram de lidar com as frustrações, insatisfações e neuroses causadas pelo cotidiano caótico que elas precisam enfrentar.
Basicamente, as crises de identidade, as desilusões (frustrações e insatisfações), a educação precária, o difícil acesso à cultura, o cotidiano extremamente exaustivo e o crescimento das misérias são as causas do mal-estar da civilização. A educação e a cultura são os fatores que mais definem o ser humano e suas relações na sociedade. Assim como costumes e pensamentos os quais são proporcionados a cada pessoa por seus pais, familiares, amigos, colegas de escola e/ou trabalho, o acesso a livros, revistas, cinema, teatro e, até mesmo, à internet são ferramentas que possuem, juntas, o poder de impedir que as pessoas se tornem alienadas, ignorantes, atônitas, revoltadas e, conseqüentemente, violentas no futuro. Algumas pessoas em estados já patológicos, na ausência de ajuda profissional, podem se tornar agressivas ou, até mesmo, perigosas. O trabalho de um psicanalista é fundamental nos dias de hoje, tanto em pequenas como em grandes concentrações urbanas, pois esse é o tipo de profissional que tem como objetivo tentar curar e/ou amenizar o mal-estar de pessoas transtornadas e/ou confusas - patologicamente ou não.
Neuroses, histerismos, confusões psicológicas e, até mesmo, algumas doenças mentais de baixo nível de gravidade podem ser amenizadas com terapias (individuais e/ou de grupo), remédios alopáticos e/ou não-alopáticos, juntamente com o apoio de familiares e amigos – podendo chegar, até mesmo, à cura total. Em alguns casos, atividades como esportes são recomendadas, pois atividades físicas transformam a energia, que patologicamente estaria sendo usada para um fim negativo, em impulsos positivos para o bom funcionamento do corpo e da mente. A arte também pode ser uma outra saída para alguns distúrbios causados pelo estresse da vida moderna. A cura, propriamente dita, não está em fazer a pessoa fechar os olhos para as regras da sociedade em que vive, muito menos em fazê-la aceitar essas regras, mas sim em fazê-la, ao menos, respeitar e compreender as coisas e as pessoas à sua volta – diminuindo, então, a possibilidade de que essa pessoa se torne nociva para sua sociedade. Segundo estudos e pesquisas realizadas por alguns psicólogos, o equilíbrio interior está intensamente relacionado à descoberta e aceitação do verdadeiro “eu”, assim como, à preparação do psicológico para se lidar com as frustrações do mundo moderno.
Sobre o Autor
Carol Westphalen: Caroline C. Westphalen nasceu em Porto Alegre, mas aos 10 anos foi morar em São Paulo. Formou-se em Comunicação Social e fez pós-graduação em Sócio-Psicologia. Atualmente, mora no litoral do Rio Grande do Sul, faz Psicologia e trabalha como jornalista/colunista.Em 1999, escreveu "Confluência dos Ws" (Editora Writers), uma pequena compilação de crônicas e contos, junto com o amigo Diego Weigelt, crítico de música e radialista. Carol reuniu algumas crônicas em 2004, mas ainda não tem editora. Sinto que meus textos incomodam. Também não gosto de perceber e encarar certas realidades, diz Carol.Seus textos sobre comportamento e vida também podem ser lidos no site da revista TPM.Carol também escreve um diário: http://www.diariodecarolw.blogger.com.br
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