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Nostalgia de nossas raízes

por Vânia Moreira Diniz *
publicado em 28/07/2004.

Por vezes nossa memória nos prega uma peça e começamos a pensar em algo que constitui o encanto de anos atrás quando a infância brincava em nós. E a rememoração de toda uma vida se faz presente encantadora ou não, conforme as lembranças mais marcantes. Jamais poderemos esquecer o lugar que nos deu origem à vida e mesmo que o deixemos para trás ele continua presente e atuante.

Uma das coisas que estou sempre me lembrando é de um rapaz que fora cliente de meu pai e eu vi caindo com um ataque epilético em frente à minha casa. Não esquecerei a pressa que tentaram me tirar dali para que não visse o rapaz a se debater. Impressionou-me como era bonito e se fixar minha memória revejo-o, a expressão desalentadora, o esgar da boca e os olhos que me pareceram vidrados numa espécie de sono entrecortado cheio de agonia. Por mais que me falassem que aquilo era apenas passageiro eu não parava de pensar na figura atlética e ao mesmo tempo frágil do jovem epilético. Só sosseguei, no entanto quando pude conversar com ele e saber que estava bem e que um tratamento impediria ou pelo menos controlaria outras crises iguais a essa que me impressionaram.

Ele estava fazendo faculdade de medicina e eu era apenas uma criança de dez anos, mas passamos a ser realmente amigos e ele gostava de conversar comigo e apreciar minhas teorias. Eu ficava empolgada com o brilho de seu espírito e jamais deixei de sentir uma especial admiração por aquele jovem.

A vida de certa forma separou-nos porque eu muito cedo saí de casa e fui percorrer o meu próprio caminho. Sempre perguntava por ele a meu pai e quando vim morar em Brasília perdi completamente o contato com meu amigo Samuel. Não deixava de recordá-lo nas ocasiões em que minhas lembranças faziam um passeio pela memória concentrada nas raízes de minha existência.

Uma das surpresas mais caras que tive foi quando há cerca de três anos atrás visitando uma clínica para crianças especiais, vi uma pessoa que me olhou intensamente enquanto eu entrava. Quando o vi pareceu-me que o conhecia há muito tempo, como se fosse uma figura extremamente familiar. Ele realmente estava concentrado completamente em mim e então como por um passe de mágica, revi no homem que me fixava aquele rapaz que eu contemplara em expectativa quando ainda era uma criança rolando os poucos degraus da varanda na casa de meus pais. E fiquei por um momento aturdida pela recordação daquele momento.

Meu coração bateu muito forte e pude reconhecer nos traços ainda muito bonitos e atualmente maduros o jovem Samuel. Ele simplesmente aproximou-se de mim sem, contudo tirar os olhos do meu rosto enquanto dizia:

- Não posso acreditar que seja você!

- Como pode me reconhecer? Eu era uma criança!

- Todas as vezes que ia à casa de seus pais pedia notícias suas e via fotografias. Reconheci-a na mesma hora que entrou como se tivesse lhe acompanhado esses anos. Como poderia esquecê-la?

- O que faz aqui?

- Sou terapeuta, psiquiatra e especialista em crianças especiais.

Abracei-o, encantada e totalmente eletrizada pelo fato daquele psiquiatra que eu vira pela primeira vez tendo um ataque epilético e pelo qual tivera sempre muita admiração, estivesse naquela clínica dando sua ajuda profissional a crianças que precisavam de compreensão, carinho, conhecimento e entendimento pleno do que era uma deficiência.

Choramos ambos, pelos dias em que conversávamos tão detida e agradavelmente, pelo espaço de separação involuntária e reabilitada e por nos reencontrarmos justamente num lugar tão susceptível às nossas fascinantes lembranças.

Sobre o Autor

Vânia Moreira Diniz: Vânia Moreira Diniz é pesquisadora, humanista, escritora y poeta.
Participa do livro Roda Mondo, Roda-Gigante
http://www.vaniadiniz.pro.br

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