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Do Código e Lacre

por Rubens Shirassu Júnior *
publicado em 31/05/2004.

Não faz muito tempo, apareceu um estudo de que o fim dos matriarcados e o começo da falocracia, que até hoje domina o mundo, teria coincidido com a criação do alfabeto e, podemos relembrar a catequese dos jesuítas. Em suas cartas, eram freqüentes as referências à dificuldade que certos padres tinham com a gramática no seu trabalho de catequese, nas Missões. Freqüente e obscura – não se sabia se a dificuldade tão citada era com a gramática que os próprios padres ensinavam ou com a gramática dos nativos. Até descobrirem que “gramática”, na verdade, era um código para castidade. O problema de alguns padres era manter seus votos de abstinência em meio aos índios. Ou, no caso, às índias.

Conscientemente ou não, o código foi bem escolhido. Pecar contra a gramática é um pouco pecar contra a castidade, se aceitarmos que a correção gramatical é uma norma de boa conduta, e as regras de língua equivalem a parâmetros morais.

Todo o nosso drama milenar foi resumido numa pequena ação: Yoko Ono seduzindo John Lennon e desfazendo uma idílica ordem fraternal, quase destruindo um mundo. E o que é a supervalorização da virgindade e a estigmatização civil do adultério, como constam da lei brasileira, senão uma tentativa de garantir que a mulher só descubra o tamanho do pênis do marido quando não pode fazer mais nada a respeito? Continuamos vivendo na aparência hipócrita do “lacre” da virgem santa, ou dos “tapa-sexo” dos primatas, que comentei em outra crônica. Numa sociedade que cria os homens carentes, infelizes, materialistas e machistas, de preconceitos fixos, sedimentou-se um patriarcado no planeta, o dos pobres, macacos vazios e imitadores exibidos.

A virgindade, independente das teorias, é um tema para muitas divagações. Ninguém, que eu saiba, ainda examinou a fundo, sem trocadilho, todas as implicações do hímen, inclusive filosóficas. Já vi o hímen – que salvo grossa desinformação anatômica, não tem qualquer outra função biológica a não ser a de lacre – descrito como a prova de que o Universo é moralista. E, levando-se em conta a dor do defloramento e, mais, as agruras da ovulação e do parto em comparação com a vida sexual fácil e impune do homem, também é misógino. Mas, em comparação com o que a mulher, historicamente, sofreu num mundo dominado por homens e seus terrores, o que ela sofre com a Natureza é “caracas”. Com trocadilho.

Sobre o Autor

Rubens Shirassu Júnior: Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.
É o autor da coluna OLHO MÁGICO na VERDES TRIGOS.

Contato: jrrs@estadao.com.br

Veja também o "ORIENTE-SE: Manual de Procedimentos no Japão"
Edição Independente de Rubens Shirassu Júnior
Site do Livro: http://www.stetnet.com.br/orientese/

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