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A volta de um passarinho

por Pablo Morenno *
publicado em 08/12/2006.

A filhinha de amigos ganhou um canário. Um dia adoeceu e morreu, o pássaro. Consumiram com o corpo da ave para não visse, a menina. Contaram-lhe em meias verdades. Disseram-lhe que ele tinha saído voando da gaiola. Não chorou. Foi passear lá na casa da vovó dele – disse ela para os pais –, um dia ele volta. E fez os pais manterem comida e água na gaiola durante semanas. Com o passar do tempo, foram desdizendo a mentira. E a menina foi crescendo, crescendo... Hoje nem lembra que o passarinho ainda pode voltar.

A maior virtude das crianças é a fantasia. E essa virtude, é a primeira coisa que fizemos os pequenos perder. Por causa da fantasia na infância não há morte, não há trabalho, e a insônia é apenas despertar com pesadelos de um fantasma inventado.

Extinguir o medo dos fantasmas é a segunda malvadeza que fizemos com os menores. Pensando bem, a primeira, porque tornar-se adulto é um castigo da natureza e ficar sério sua conseqüência inerente. Fizemos de tudo para que as crianças deixem de acreditar em fantasmas. Depois a indústria cinematográfica fatura milhões com seus fantasmas assassinos. E os adultos fazem um gritedo nos cinemas. Depois, lá fora, são os primeiros a convencer ao primeiro menino da rua que o mundo do cinema não existe no mundo da vida.

Passa o tempo. De filhos viramos progenitores. Esse nome requintado de quem se muda do castelo da imaginação para a casa da realidade. Trocamos os dragões do castelo, suas bruxas e fadas, por cachorros e empresas de segurança, por piscinas e carros na garagem. Nada se torna mais preocupante do que as metas do trabalho, do que o ganho mensal, do que uma viagem para a Europa sorteada pelo cartão de crédito. Estratégias, programas, treinamentos. Tudo somado nas teclas da calculadora.

Há as recaídas. As falsas desculpas de comprar fantasias do Batmam para o filho e ou uma mochila da Hello Kitty para a filha. E os homens carecas e as mulheres de coque passam horas fuçando as prateleiras das lojas e observando a vida que se foi, o menino e a menina que ficou idiota com o tempo.

Observo a cidade com suas vitrines, ruas decoradas, as casas que ainda põe arranjos nas portas. Analiso as propagandas na televisão e nos jornais, os folhetos dos supermercados, os pacotes de ano novo, as promoções das revendedoras de automóveis. Rio das pessoas correndo pelas ruas, olho as festas de final de ano das empresas, as brincadeiras de amigo-secreto ...

É tempo de Natal. Toda a cidade se pinta como uma Cinderela. Ouço as canções natalinas enjoadinhas e até me emociono. Nesta época, a infância é um passarinho que volta para o mundo adulto por algumas semanas. E toda essa fantasia pode ser vivida sem medo de que alguém recrimine nossa imaginação infantil ou que nos convença de que a existência mesma, que a vida mesma, é apenas fruto dos delírios de algum fantasma inventado.

Sobre o Autor

Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.

Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno

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