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Centenário de Ary Barroso
por Ronaldo Cagiano
*
publicado em 13/11/2003.
Com sete anos de idade, ficou órfão de pai e mãe, que morreram de tuberculose - ela, aos 22 anos, e ele, aos 31. O menino acabou sendo criado numa fazenda por uma avó e pela tia Ritinha, que tocava piano e foi a responsável por sua introdução no mundo da música.
Ary estudou, inicialmente, na escola pública Guido Solero. Depois de passar por várias escolas da Zona da Mata, acabou concluindo o curso no Ginásio de Cataguases, cidade onde travou os primeiros contatos com a boemia e o futebol (tomando cerveja com os ferroviários da Leopoldina e estreando como goleiro do Botafogo Futebol Clube local), duas outras paixões que o acompanharam por toda a vida.
Com 12 anos, acompanhava a tia ao piano, executando fundos musicais para filmes mudos no Cinema Ideal, em sua cidade natal.
Com 15 anos fez a sua primeira composição.
Aos 17 anos, herdara 40 contos de réis de um tio muito querido. Com o pretexto do curso de direito, o rapaz se mandou pro Rio de Janeiro e caiu na farra.
Dois anos depois, reprovado na faculdade e já sem dinheiro, Ary teve de trabalhar para se sustentar, fazendo o que sabia, claro, tocando piano.
Em 1926, Ary voltou ao curso de Direito, concluído em 1929. Na década de 30 estão suas composições mais importantes.
Como bom cataguasense e a título de curiosidade, devo citar que, em 1936, Ary Barroso compôs o "Hino do Colégio de Cataguases", com Tostes Malta.
Ary Barroso foi, ainda, apresentador de TV e locutor esportivo. Como locutor, ficou famoso por tocar uma gaita de boca toda vez que era marcado um gol e também por sua parcialidade em favor do Flamengo.
O ano de 1939 representou um divisor de águas em sua trajetória musical. Numa noite de chuva que o impediu de sair de casa, Ary se dirigiu para o piano, tentou mimetizar o som do pandeiro e acabou compondo "Aquarela do Brasil", que se transformaria no maior sucesso de sua carreira.
Estava inventado o samba-exaltação, com versos enaltecendo a nossa terra, o nosso povo, as tradições e riquezas naturais, de melodia extensa e sempre apoiado em grande aparato orquestral, com final apoteótico.
Aquarela do Brasil
Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil samba que dá
Bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil... Brasil... Pra mim... Pra mim...
Ô ô ô ô abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do serrado
Bota o rei congo no congado
Brasil...Brasil... Pra mim... Pra mim...
Deixa cantar de novo o trovador
À merencória luz da lua
Toda a canção do meu amor
Quero ver essa dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil... Brasil... Pra mim... Pra mim
Brasil
Terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
O Brasil samba que dá
Bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil... Brasil... pra mim ...pra mim
Ooooh esse coqueiro que dá côco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil... Brasil
Oooh ouve essas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Oh esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e de pandeiro
Brasil... Brasil
Pra mim... pra mim...
Engana-se quem acha que obteve unanimidade com esta música. O cunhado foi o primeiro a esboçar um protesto que acompanharia a canção até hoje: coqueiro que dá côco, Ary? E você queria que ele desse o quê?!? Ary não deu bola, como faria sempre que voltassem com piadinhas sobre essa mesma frase.
Mais do que qualquer canção, a Aquarela se transformou numa espécie de Hino Nacional Alternativo.
A carreira internacional de "Aquarela do Brasil" começou por Hollywood em 1943, quando Walt Disney a incluiu no filme "Alô Amigos" ("Saludo Amigos"), com o título de "Brazil" e versos em inglês de S. K. Russell. A música está entre as 10 mais gravadas da história, junto com Something, do George Harrison, e Garota de Ipanema, de Tom Jobim.
Por ironia, Ary Barroso, faleceria, no Rio de Janeiro, em um domingo de carnaval (9 de fevereiro de 1964), quando a Império Serrano se preparava para entrar na avenida tendo como homenageado o próprio Ary.
Todos nós nos sentimos mais ufanistas, ouvindo:
"Isto aqui ô, ô
É um pouquinho de Brasil, iaiá
Desse Brasil que canta e é feliz
Feliz, feliz
É também um pouco de uma raça
Que não tem medo de fumaça, ai, ai
Que não se entrega, não"
"No tabuleiro da baiana tem
Vatapá, caruru, mungunzá, tem umbu
Pra Ioiô
Se eu pedir você me dá
O seu coração, seu amor
De Iaiá"
Que a terra lhe seja leve!
"No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria nem de noite nem de dia"
Hino ao Colégio de Cataguases
Salve o Colégio que é sem par
de Cataguases
que do alto dessas verdes mansas colinas
ensina as moças e aos rapazes
a dar glória maior a Minas.
Sob o seu teto um coração juvenil
desperta para o culto e amor ao Brasil
e desde cedo aqui aprendemos
que é para a pátria que vivemos.
Sempre audazes a lutar
colégio de Cataguases
colégio sem par.
Sobre o Autor
Ronaldo Cagiano: De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.
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