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Nua e crua: por onde anda a verdade?
por Noga Lubicz Sklar
*
publicado em 14/03/2009.
Susan Jacoby, autora de The Age of American Unreason, relato best-seller sobre o antiintelectualismo contemporâneo
Outro dia um amigo meu, leitor do Noga Bloga, comentou que tem me achado muito tensa. Bem. É verdade. E, ao mesmo tempo, não é. Deixa ver se me explico.
Se eu fosse rotular o meu "tipo" genético de personalidade, a tensão permanente estaria no pódio elevado das descrições, é isso aí: sou uma pessoa tensa. Mas tensa, vamos combinar, por me arrebentar com vontade nas coisas, dedicar-me intensamente ao que me emociona, não fugir ao desencanto quando for o caso e não resguardar-me no canto quando a onda da empolgação (ou da indignação) me leva. Mergulho mesmo.
Fora isso, sou pura. Não mantenho agenda nenhuma [agenda, aqui, embora segundo Alan meu inglês seja pobre demais pra ser considerado claro, no sentido anglicista da coisa: pre-conceito, pre-julgamento, cartas marcadas, ideias formadas sobre tudo, deu pra entender?] e mesmo sofrendo um tanto com a crítica alheia jamais respondo amarrando a língua, bem ao contrário: solto mais ainda.
Tudo bem que ao desabafar cotidianamente na escrita não me furto a perceber, com um laivo envergonhado de autoinsulto, que eu talvez alimente a tensão pra forjar assunto. Imaginem uma vidinha assim bem arrumadinha, sem crise, sem dor de cabeça, barulho de vizinho abusado e com direito assinado a mansidão de marido, dinheiro no banco e verdurinhas na horta, leituras calmantes com vista pra mata de historinhas com começo, meio e fim num portuguesinho comportado chinfrim... eu ia escrever sobre o quê? Desafinar em quê?
Pois é. Que importância poderia ter gostar ou não de determinado autor [em tempos antigos sim, queridos, já defini liberdade como a atitude desdenhosa de largar pelo meio um livro que não me agrade, mas agora não, me agarro à infelicidade da leitura como um carrapato faminto dentro de um sapato apertado, por puro dever autoimposto de ofício, o que não recomendo a ninguém, de maneira alguma]? Cumpre aqui, por sede de justiça, esclarecer que não guardo uma birra marcada por escritor nenhum, ah, quem me dera um mundo onde a língua escrita fluísse por todos os rios da imprensa com impetuosidade verbal de talento explícito, ah, gente. Nada há que me agrade tanto como entregar-me numa tarde de encanto a um texto excelente (exceto, talvez, vocês sabem, um cálido gosto amoroso naquela outra parte), e agora vem cá, por que seria diferente?
Atiro-me a um autor (por mim) desconhecido, por recomendação de alguém ou de algum artigo, como uma voracidade mental, uma curiosidade, um cuidado acadêmico de cientista, sempre dedicada. Agora. Se termino no mais das vezes tão decepcionada que beiro ao desespero, desespero proporcional em progressão geométrica à qualidade literária esperada, não é minha culpa, mas culpa, isso sim, dos atalhos esburacados e mal iluminados da língua, atalhos que quando os reconheço, evito. Mas reconhecê-los assim, de enfiada, é difícil. Muita palavra inútil seria poupada se a leitora em mim se limitasse, por medidas de segurança intelectual, às clássicas avenidas de quádruplas pistas à altura de um Tolstói, por exemplo, com o radar ligado pra prevenir arroubos em excesso, mas qual, se não sou da pressa tampouco aprecio as pistas limpas. Gosto de aventura. Me arrisco. Me perco. Aprecio uma prainha escondida, mas cá entre nós, até mesmo os recantos mais idílicos da prosa têm sido sistematicamente poluídos pelo afã da renovação vocabular gratuita.
"A linguagem política", escreveu George Orwell em ensaio de 1946 sobre a língua, "- e com variações isto é verdade para todos os partidos, dos conservadores aos anarquistas - é concebida para que mentiras soem como verdade e o assassinato pareça respeitável, e para dar uma aparência de solidez ao que é puro vento". Onde há "política" leia-se "crítica" e aponha-se "da língua" a assassinato: eis aí o que eu frequentemente sinto.
Se me dedico ao fruir literário com todo o sangue quente que me corre nas veias, seria isso um pecado? Ou simples luxúria de alguém que, por falta de uma voz clara que apuradamente a defina, tem sido condenada ao tédio da leitura?
Ainda bem que em tempos de cobrança o "ponto de mutação" se aproxima, como explica otimista Judith Warner em seu delicioso artigo no NY Times, é, gente, até que de vez em quando eu curto de verdade alguma coisa: "talvez a gente veja uma muito necessária reabilitação da básica noção de "melhor e mais brilhante", conceito intelectual criminosamente desvirtuado, nos ávidos tempos já derrubados da extrema ambição de Wall Street, em favorecimento das mais recheadas carteiras.
Ops. Não há mais dinheiro que pague o uso deslavado de tantos adjetivos. Peço perdão a vocês por meus pecados literários.
Sobre o Autor
Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.
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