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PARA GOLDBERG, UTOPIA FOI SUBSTITUÍDA PELA EGOLATRIA
por Chico Lopes
*
publicado em 27/10/2008.
Mas quis a vida que eu conhecesse só agora o que ele escreve, através de um de seus livros, "Psicologia em curta-metragem", que me interessou pela óbvia relação com um assunto que amo tanto.
Goldberg não escreve para todo mundo. Sua escrita, mais que convencer, procura incomodar, provocar. E, para isso, ele mistura filmes e idéias psicanalíticas e desvenda as coisas de uma maneira pouco ortodoxa. É uma proposta diferente, em matéria de livros de psicólogos sobre cinema. Li alguns do gênero, e me cansei daquelas análises fáceis do complexo de Édipo do personagem X, da ninfomania da mulher Y ou da neurose de Fulano e Beltrano. A psicologia de Goldberg quer outra coisa, quer arrebentar camisas-de-força sociais e provocar atitudes. Ele também procura entender a pavorosa experiência do dia a dia de violência neste país, onde o sado-masoquismo popular vem atingindo picos dementes, e eu converso com ele sobre filmes e violência, recebendo respostas curtas, sintéticas e implacáveis, como o leitor pode conferir logo abaixo.
Chico Lopes: - O teu perfil intelectual, desde sempre, foi o de um questionador, de um descrente nos valores convencionais. Por isso, um livro como "Psicologia e curta-metragem" parece um trabalho de difícil definição, de um psicanalista-cinéfilo que é também um poeta com muitos livros publicados. O que esse livro propõe?
R: Toda questão da cultura é um processo de reflexão sobre os conflitos da contradição humana. Eros versus Tanatos. O cinema e a psicanálise atravessam através da poesia as beiradas do cinismo e da canalhice que as convenções impõe para mediocrizar a pessoa. Meu livro é um filme do livro da minha vida. A proposta é transitar da lama para o sublime. Alias este é o destino final da Ética.
Chico Lopes: - A vida de filho de judeus poloneses de Juiz de Fora te confere uma visão peculiar do mundo. Você escreveu, sobre a cidade, que "Quem nasceu no meio daquelas montanhas, sem o horizonte do mar, e nessas circunstâncias, tem as alternativas da poesia e da demência". No livro, diz, que se refugiava da vida limitada indo aos cinemas da tua cidade...
R: Na infância, fui vítima do `bullyng´ anti-semita e mais tarde de um ou outro judeu covarde. A maldade não tem religião, etnia, nacionalidade. O cinema é refúgio e inspiração para a dimensão da Arte , portanto, o horizonte do impossível a ser alcançado. Lá eu sou amigo do Rei...
Chico Lopes: - O desejo de evasão típico de quem entra numa sala de projeção ou se tranca com DVDs na privacidade de sua sala pode ser indicador de quê? Esse desejo pode levar indiretamente à compreensão da própria alma ou a uma fuga desesperada e impotente à realidade?
R: Creio que são inúmeras as alternativas que respondem ao ato da solidão do viver cinema: Fuga da realidade, mergulho na realidade incorpórea, viagem pelo mundo intra-psiquico. De qualquer maneira ampliando o pobre individual que nos condena ao prejuízo da ótica singular. A tela é a projeção do Golem sublime que estratifica a competência da criatividade que adivinha as percepções sensoriais.
Chico Lopes: - Como enxerga as figuras de psicanalistas que o Cinema apresenta? São verossímeis?Ou a realidade costuma ser muito diferente?
R: A psicanálise é uma das vertentes da psicoterapia e, aliás, não é a minha. Mas o que fica evidente é a resistência da cultura em aprofundar sua auto-critica e mergulhar nas razões irracionais da demência social. Machado de Assis desnudou as contradições de nossa mente. O psicanalista, bem como o cineasta ou o taxista, é um delirante a mais na tentativa de resolver o pesadelo da espécie.
Chico Lopes: - Quais os cineastas, filmes ou situações cinematográficas que mais te afetaram não só pessoal, mas também profissionalmente, a ponto de serem registrados no teu livro?
R: Prefiro fixar em duas figuras essenciais: Kurosawa e Carlitos. O japonês mais cosmopolita que se possa imaginar e Chaplin, que destronou Hitler da onipotência e o jogou na lata de lixo de onde nunca poderia ter saído, excremento do ódio.
Chico Lopes: - A questão da violência, da agressividade do brasileiro, te interessa bastante também. A violência se tornou mero espetáculo anestesiante, nos filmes. Pioramos muito em termos de relação humana, nos últimos anos. Quais podem ser as causas disso? O que o teu trabalho clínico acusa?
R: A Utopia foi substituída pela Egolatria. O individuo desenha o seu narciso à custa do sofrimento alheio. A clinica deve ter o objetivo de re-alojar o seu papel na fraternidade.
Sobre o Autor
Chico Lopes: Chico Lopes é autor de dois livros de contos, "Nó de sombras" (2000) e "Dobras da noite" (2004) publicados pelo IMS/SP. Participou de antologias como "Cenas da favela" (Geração Editorial/Ediouro, 2007) e teve contos publicados em revistas como a "Cult" e "Pesquisa". Também é tradutor de sucessos como "Maligna" (Gregory Maguire) e "Morto até o anoitecer" (Charlaine Harris) e possui vários livros inéditos de contos, novelas, poesia e ensaios.Mais Chico Lopes, clique aqui
Francisco Carlos Lopes
Rua Guido Borim Filho, 450
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