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Finanças Pessoais em Equilíbrio

por Tom Coelho *
publicado em 22/03/2004.

“A parte mais sensível do corpo humano é o bolso.”
(Delfim Netto)


Presentes e ceias de Natal e Ano Novo, seguidos pelo Carnaval. Por mais controlado que você seja, é muito provável que tenha cometido excessos em seus gastos.

Se você é assalariado, é fácil fechar as contas e saber o quanto comprometeu de sua poupança ou renda futura. Por outro lado, se você é empresário, consultor, profissional liberal, enfim, se exerce qualquer atividade com remuneração variável, talvez esteja diante de um problema ainda maior, pois a Economia esteve pouco aquecida nestes dois primeiros meses do ano.

Administrar finanças pessoais não difere muito de gerenciar o caixa de uma empresa ou mesmo de um país. Mudam apenas a proporção e a complexidade. Você precisa analisar dois conjuntos de contas: as receitas e as despesas.

O lado das receitas é normalmente meio engessado. Se você é assalariado, pode buscar uma elevação de sua renda fazendo horas extras, evidentemente desde que com a anuência da empresa. Uma alternativa consiste em realizar pequenos jobs, ou seja, trabalhos autônomos para terceiros, a fim de reforçar o caixa.

Já o profissional com remuneração variável, ao mesmo tempo em que não dispõe da segurança proporcionada por um salário no final do mês, tem à sua disposição a possibilidade de, fazendo uso de sua habilidade e criatividade, gerar novos negócios, buscar novos clientes, aumentar suas vendas.

Mas é no campo das despesas que este jogo acontece. E o segredo é relacionar todas os gastos possíveis dividindo-os em categorias conforme ilustrado a seguir:

- Grupo da Habitação: prestação da casa ou aluguel, IPTU, seguro residencial, condomínio, água, energia elétrica, gás encanado ou de cozinha, telefone fixo, manutenção da casa;

- Grupo da Saúde: assistência médica e odontológica, farmácia, academia de esportes;

- Grupo da Alimentação: gastos com alimentação básica em geral, despesas em supermercado (inclusive produtos de limpeza e higiene pessoal);

- Grupo da Educação: escola e material didático dos filhos, cursos, seminários, congressos, livros técnicos ou não;

- Grupo do Transporte: prestação do carro, IPVA, seguro obrigatório, seguro do veículo, combustível, multas, transporte coletivo, estacionamento pago, manutenção do carro;

- Grupo da Cultura e Lazer: cinema, teatro, restaurantes, bares, assinatura de revistas, TV a cabo, provedor de acesso à Internet;

- Grupo das Despesas Financeiras: tarifas bancárias, juros de cheque especial e empréstimos, juros embutidos em financiamentos;

- Grupos dos Diversos: telefone celular, vestuário e acessórios, empregada doméstica, previdência privada.

É muito provável que eu tenha me esquecido de contemplar algumas contas na listagem acima. Mas os itens relacionados já são suficientes para demonstrar como nos enganamos na administração de nossas despesas pessoais. Isso acontece porque estamos habituados a considerar apenas aqueles gastos mais próximos e palpáveis, negligenciando aqueles que têm que ser provisionados, ou seja, que devem ser previstos porque eventualmente ocorrerão. Isso acontece, por exemplo, com medicamentos, multas de trânsito e manutenção.

De todas as contas apresentadas, uma muito perniciosa merece atenção: juros e tarifas bancárias. Isso porque você pode não perceber, mas desde o fim da inflação inercial (aquela de 30% ao mês que chegou ao extremo de 3% ao dia nos idos dos anos 80) os Bancos passaram a cobrar por todo e qualquer serviço prestado. Não é à toa que hoje as tarifas bancárias são suficientes para pagar, com folga, toda a folha de salários da maioria dos Bancos que atuam no Brasil.

Uma pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), realizada no ano de 2002 com 3.477 consumidores na cidade de São Paulo, demonstrou que 29,83% da renda das famílias é destinada ao pagamento de encargos financeiros. Este índice sobe para 35,43% no caso do trabalhador de baixa renda (um a cinco salários mínimos).

Assim, diante deste quadro, algumas sugestões mostram-se pertinentes.

Primeiro, monte sua própria planilha de despesas de acordo com sua realidade. Você poderá, por exemplo, chegar à conclusão de que não é o momento para adquirir um carro ou trocar o modelo atual.

Segundo, analise quais gastos podem ser eliminados, substituídos ou reduzidos. Sempre com os olhos voltados para sua receita, você pode concluir que certos serviços precisam ser eliminados de sua cesta, evidentemente reduzindo seu padrão de vida atual. Isso pode simbolizar o cancelamento da assinatura da TV a cabo, uma visita a menos por mês a um restaurante ou o uso mais regrado do telefone celular.

Terceiro, evite comprar por impulso ou através de financiamento com juros. Opte por comprar à vista, quando for possível. Um exercício interessante é aguardar uma semana para adquirir algum novo bem. Após este prazo, pergunte-se com franqueza se ainda precisa daquele objeto.

Finalmente, ataque de frente e sem piedade suas despesas financeiras. Saia do crédito rotativo do cartão de crédito. Cancele-o e busque um juizado de pequenas causas para efetuar o pagamento do saldo devedor sem a incidência atroz de juros que se aproximam de 15% ao mês. Faça o mesmo com seu cheque especial, negociando seu parcelamento com taxa máxima de 3% ao mês.

Em suma, tome as rédeas de sua vida financeira e tenha na disciplina sua maior aliada.

Sobre o Autor

Tom Coelho: Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting, Diretor do SIMB (Sindicato das Indústrias de Brinquedo do Estado de São Paulo), vinculado a ABRINQ (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos) e Membro Executivo do NJE (Núcleo de Jovens Empreendedores), vinculado a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Visite: www.tomcoelho.com.br

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