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O sonho e o sonho de Leopold Bloom (crônica de uma despedida sentida)

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 12/08/2008.

"Outro dia subi a serra e fui a Petrópolis, fui fazer uma coisa de que sempre gostei: ver a cidade de cima, o Rio todo através daquela bruma bonita..."
Dorival Caymmi - 1914/2008


No carnaval passado, quando tudo isso ainda não passava de um vago desejo, pleno plano mirabolante de futuro, eu disse em silêncio pra mim mesma, num franco e meio medroso tom de profético delírio: este é meu último verão aqui no Rio. Me entendam: apesar de adorar (ou ter adorado um dia, vamos combinar: antes da violência, das balas perdidas, do tráfico de drogas, do caos urbano, da obra predadora de um certo e ausente prefeito e... da campanha neurotizante da imprensa) a cidade, e me considerar por dentro completamente carioca - como cronista mineira voluntariamente exilada e sebastiana nata, de 20 de janeiro - nunca, em 36 anos de zona sul, suportei o calor de 40 e tantos graus, que em tempos loucos de aquecimento global tem invadido até mesmo a sombra quase-sem-água das nossas tardes de inverno. Pra quem duvida, está tudo registrado e sacramentado aqui e em outros blogs, em breve, com sorte, quem sabe em livro. Pois é. O tempo passou e o dia chegou e eu deixo o meu Rio amanhã de manhã, de mala e cuia como diz o outro.

Eu até poderia dizer que vou logo ali e já volto, vocês sabem, afinal de contas são menos de 100 quilômetros bem rodados, e visto assim do alto, o Rio ainda parece o céu no chão, não é mesmo? Mas a verdade é que deixando a cidade deixo para trás toda uma série - às vezes penosa, outras prazerosa - de conexões com a família, com o mercado, com sonhos frustrados, outros realizados, e o resultado sempre esperado de um trabalho bem feito, embora nem sempre bem remunerado. Deixo tudo para trás e, em todo o caso, é a liberdade de tudo, a calma, o silêncio, uma nunca experimentada tranqüilidade interior que eu busco. Se vou encontrar não sei, não faço a menor idéia de como vai ser daqui pra frente. A gente bem que tenta.

Neste último domingo de praia e de sol, depois daquele muito lindo eclipse de ontem à noite e honrando, muito adequadamente, o espírito de Caymmi agora solto, flutuando por aí em direção à luz, cai bem como nunca um desejo de oração. Afinal de contas, Iemanjá acaba de perder o seu melhor cliente, não é mesmo? Quem sabe daqui pra frente sobra mais tempo pra gente, mesmo praqueles que decidiram, por um motivo ou outro, deixar o mar lá atrás, reduzido a prosaica paisagem, mera passagem: bem aquém da real possibilidade do mergulho.

Vou confessar pra vocês que durante muitos fins-de-anos (fins-de-ano?) cortejei, num ritual infalível, a imagem da santa, rosas brancas, pulinhos no sal, boa-sorte etc e tal. E mesmo tendo deixado essa coisa de superstição poética para trás (ih! de novo! este post deveria se chamar "Deixando para trás", vocês não acham?), reencontrei Iemanjá recentemente balançando em outra rede, imaginem: patrocinando James Joyce, é, aquele mesmo que vocês (mal) conhecem. Pois esta mulher que hoje vos fala, e que pega a estrada amanhã em direção a não-sabe-bem-o-quê, está mais para Joyce do que para rosas, mais pra montanha do que para o mar, mais para o campo do que pra cidade, mais para o amor maduro do que pra ansiedade constante que é se apaixonar. Queira Deus que essa calma toda não me cale pra sempre a sempre angustiada fonte da literatura.

Pelo menos subo a serra com o coração ( )tranqüilo? ( )apertado? ( )inseguro? ( )esperançoso?... num ritmo aprendido faz pouco de Dorival Caymmi, realizando de um jeito ou de outro o sonho frustrado do famoso Leopold Bloom, que coitado, vamos combinar: nunca se mudou para uma casa no campo.

Shalom. Saravá.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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