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A CULPA DA CULTURA

por Pablo Morenno *
publicado em 06/07/2008.

A ignorância pode ser uma coisa boa. Não falo da ignorância como estupidez. Trato da ignorância como desconhecimento. Ando pensando que o surto de infelicidade do mundo contemporâneo se deve à informação. Mesmo que não se queira, ficamos sabendo de tudo, ou quase tudo. Acontece que “quase tudo” é tudo, praticamente.

A imaginação pode ser uma coisa ruim. Por culpa da imaginação o quase tudo é tudo. Porque quando sabemos pouca coisa sobre algumas coisas, logo tratamos de imaginar outras coisas ainda não explícitas. Como é de conhecimento público, imaginar não tem limites. E, neste rumo, as coisas degringolam.

Veja-se o caso da fita do Feijó, o vice-governador aqui do Rio Grande do Sul que levantou o esquema de corrupção das estatais gaúchas. O que saiu na imprensa foram apenas alguns minutos. E deixou qualquer um com quase tudo em pé, exceto aquilo que só sidenafil levanta. A feijoada do Feijó só tem algumas coisinhas de porco e a gente já fica imaginando que lá no fundo, lá onde a concha não alcança, há qualquer tipo de coisas. E o Feijó que fez a feijoada acaba sendo culpado pela existência do porco. Por isso que eu estou achando que a ignorância pode ser uma coisa boa e a imaginação pode ser uma coisa ruim.

Vejam o que uma simples feijoada pode causar. Tudo por causa da imaginação. Dos pelinhos sujos no courinho já vamos para o fundo da panela, da panela para o porco, do porco para o chiqueiro. Logo estaremos nos dando conta de há outros chiqueiros, outros criadores. Em poucos minutos estaremos sabendo de toda a agropecuária e a culpa pela falta de alimentos no mundo. Se fôssemos mais ignorantes e menos imaginativos, seguiríamos aqui o nosso mundinho, tocando a vida, e esperando se Flora ou Donatela é a boazinha da nova novela das oito.

Minha segunda prova para fundamentar a tese é a conduta dos policiais militares no Rio. Seria melhor não saber e ficar imaginando que eles são a segurança do país. Eu gostava tanto daquelas propagandas de jovens militares ajudando a ribeirinhos na Amazônia, ou levando remédios aos índios. Como a imaginação começa funcionar, vejo os jovens das favelas do Rio fazendo paráfrase do sapo da fábula da festa dos animais no céu: “Por favor, me entreguem à polícia! Os bandidos do Rio são muito perigosos!”. E a imaginação prossegue tentando incluir na história dezenas de jovens mortos por traficantes, presentinhos dos policiais a bandidos. Como se pode ver, mais uma vez a ignorância nos protegeria, e a imaginação passa a ser uma coisa ruim.

Talvez o que acontece comigo poderá acontecer com você. Esses sintomas são graves, e ando observando o mesmo sinal clínico em muita gente. Fico sabendo que a leitura aumenta pouco a pouco, que o acesso à universidade também. Por conseqüência, estamos passando a ser menos ignorantes, e nossa capacidade de imaginação está perdendo as rédeas.

Falar da ignorância como coisa boa e de imaginação como coisa ruim beira à ética. Pode não ser muito científico. Mau e bom são conceitos subjetivos e posso estar errado. Em algum tempo eu havia aprendido que o conhecimento era fundamental, não a ignorância. Na mesma época, minha professora fazia discursos a favor da imaginação. Só que agora, nestes tempos, essas duas coisas estão me trazendo sérios problemas e isso anda acontecendo com conhecidos meus. Alguma coisa anda errada. Tenho a impressão que não somos nós, mas não acho que tenho a verdade, ainda.

Sobre o Autor

Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.

Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno

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