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A Volta da Indignação

por Rubens Shirassu Júnior *
publicado em 19/10/2003.

Ando preocupado com o papel do intelectual na sociedade brasileira e também movido por grande indignação, um sentimento que muitos escritores parecem ter abandonado. Lamento que os autores se tenham entregue ao sonho do sucesso e ficado acríticos.

Digo com convicção que estou livre da “síndrome da publicação”, que acredito contaminar a maioria dos escritores atuais, entregues ao calor das armadilhas que arrastam atrás de si – a pressa, a vaidade, o desejo de publicar seja o que for, a avidez pelo mercado, em resumo, o vencer a qualquer preço.

Sigo uma lição de Baudelaire, que o fracasso deve estar na conta do escritor, já que o risco é inseparável da literatura. O padrão global, que não passa de um eufemismo para o imperialismo, lançou os intelectuais numa atitude de isolamento, impasse e defesa. Agora, eles se afirmam pela busca de carreiras no Estado. Há uma adesão incondicional ao poder em detrimento de valores universais como a liberdade e a justiça social, principalmente, entre os novos escritores. E isso é o que de mais nefasto lhes pode suceder, porque o intelectual é justamente aquele que deveria ter uma visão crítica aguda do mundo.

Que conseqüências isto traz para a literatura? Uma renúncia generalizada da busca de uma linguagem e de um estilo. Hoje, confunde-se roteiro de TV com literatura, como se o roteiro tivesse se transformado num gênero literário à altura do romance. Existe uma tendência à padronização, não há mais gosto pelo risco.

No Brasil agora, ao contrário, os escritores preferem escrever histórias policiais que possam ser filmadas. O que mostra uma preguiça mental, uma atitude defensiva e um recuo antecipado. A busca, hoje, é imediatista e a literatura passou a ser confundida com a novela das 8. Mas o sucesso, para o escritor, não é nada benéfico. Muito dinheiro e sucesso tornam o escritor prisioneiro, ou vítima, de um fetiche que lhe rouba o que lhe é próprio, ao contrário, literatura é arte de uma minoria. As obras de qualidade precisam de longo tempo para ser digeridas.

O livro tem um momento de repouso, de espera, que é considerável. O tempo da recepção, da avaliação crítica, de atrair os leitores,é um tempo longo, não é o tempo acelerado da televisão. A lógica do mercado, porém, não admite o fracasso e não cogita a respeito da literatura como uma experiência de linguagem, mas, um produto cultural que necessita vender o mais rápido possível, em pouco tempo, sem importar com a qualidade!

Sobre o Autor

Rubens Shirassu Júnior: Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.
É o autor da coluna OLHO MÁGICO na VERDES TRIGOS.

Contato: jrrs@estadao.com.br

Veja também o "ORIENTE-SE: Manual de Procedimentos no Japão"
Edição Independente de Rubens Shirassu Júnior
Site do Livro: http://www.stetnet.com.br/orientese/

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