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Cerimônia do chá
por Terezinha Pereira
*
publicado em 12/04/2008.
Para, junto a ela, participarem de uma “cerimônia do chá”.
Que fossem de branco e que levassem lápis
de variadas cores e uma xícara desalada.
Seria para dividirem, além do chá, o silêncio das falas,
as notas das melodias, olores e sabores diversos,
a diversidade das cores inventadas pelo deus que habita cada ser,
a partir da trindade primária dos pigmentos.
Além disso, precisariam colocar os pés no chão, pedregoso, áspero, atapetado e
caminhar, passos lentos, à luz do fogo de velas, em direção
a seu eu interior e, nesse ponto, atinar o seu ponto da emoção.
Então, por isso mesmo, ninguém foi meio a esmo.
De primeiro, a mandala, cada uma delineada de um jeito,
em preto no papel branco, foi oferecida às convivas.
Era o momento de se usar as cores, pensar seus desejos,
Dos simples aos mais íntimos, ao som de música criada além mar.
E o tempo, o tempo, o tempo........ Esse se vai, despercebido. Nem mesmo
a mandala estava já coberta de cores, chegada era a hora de sentir
os pés no chão. Dar os passos. Num silêncio de vozes, ao som de música
branda e pura, vinda de terra distante.
Num repente, voz desconhecida entremeia a música.
Chega para conduzir as caminheiras, em ajustado compasso,
ao destino daquele ir, meditar.
Singular momento........
Cada ser dentro de seu próprio ser, de seu deus,
criado à sua imagem-semelhança.
Não importa o nome: Deus, Jesus, Flor de Lótus,
Canjerê, Kyrie, Tupã, Javé, Ganesha, Buda........
Imóveis, olhos fechados, o toque de um sino, seguido da voz da mestra.
Chegara a hora do chá, do retornar ao mundo de fora do corpo.
No abrir dos olhos, vê-se o fogo de velas.
Não se pode dizer, se clareia ou penumbra o ambiente. Apazigua.
Cada uma, uma a uma, é convidada a buscar, na mesa posta,
sua xícara desalada e a seu lugar retornar.
A música que sai do aparelho de som , no servir do chá,
chaleira borbulhante, nesse momento é daqui da terra.
“Theotókos”, que para os do além mar é mãe de Deus,
chega ao som de instrumentos de Urbano Medeiros, que lhe deu vida.
Deveras.
Chegou no momento e no lugar perfeito para ser ouvida.
O sabor dos petiscos exigem, antes, o sentir do seu cheiro.
Disseram, as que lá estiveram, nunca haverem
compartilhado de banquete de tamanho apreço.
Nem faltou o sentir dos laços do abraço, da permuta dos ganhos.
Houve risos, lágrimas, ternura e muito mais. Um sentimento de paz.
E cada uma, praticamente sem dizer mesmo quase nada,
no findar da “cerimônia do chá”, saiu de lá, renovada.
E seu entranhado eu não ficou por isso mesmo.
Sobre o Autor
Terezinha Pereira: Terezinha Pereira é romancista, contista, cronista, graduada em Letras, membro da Academia de Letras de Pará de MinasPublicações:
_ "Em confidência", romance publicado pela Mazza Editora, Belo Horizonte, 2000, premiado em concursos literários realizados no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais;
_ "Uma pianista numa noite branca..." , Caderno Literário de contos, 2004, pela Academia de Letras de Pará de Minas em parceria com o Jornal Diário;
_ Contos, na "Revista da Academia Mineira de Letras" (4 revistas);
_ Artigo, projeto de estudo do livro "Dom Quixote" para alunos de 8ª série do Ensino Fundamental, publicado na revista "Presença Pedagógica", de setembro/2005;
_ JB Online, Café Literário: Colunista da Semana, 23 a 29/11/2005.
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