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Espinhos e Escorpiões
por Amós Oz
*
publicado em 12/02/2008.
Porque o número de baixas numa invasão terrestre de Gaza seria muito maior do que o causado pelos mísseis Qassam nos últimos sete anos. Porque durante cinco, entre esses sete anos em que eles foram disparados, nós controlávamos toda a Faixa de Gaza. E centenas de foguetes foram lançados em Sderot do mesmo jeito, somados a repetidos ataques sangrentos contra os colonos israelenses que viviam ali. Parece que nos esquecemos disso...
Reocupar a Faixa de Gaza não irá necessariamente acabar com os bombardeios de Sderot e vizinhanças. Além dos ataques ali, nossa força de ocupação será fustigada dia e noite por fogo de armas leves e ataques suicidas.
Mais ainda, uma invasão de Gaza irá unir as massas palestinas e os mundos árabe e muçulmano em torno do Hamas, que no presente é isolado e antipatizado pela maior parte dos árabes.
Tão logo forças israelenses invadam Gaza, os homens do Hamas serão vistos - pelos palestinos, o mundo árabe e a opinião pública internacional - como os defensores da Massada Palestina - poucos contra muitos, bairros residenciais frente a um exército regular, campos de refugiados à sombra de esquadrões de artilharia, meninos combatendo tanques, David contra Golias.
Se conquistarmos Gaza, nos veremos sentados sobre espinhos e escorpiões. A força de ocupação não terá um único dia de paz. E tampouco terão os habitantes de Sderot e do seu entorno.
Mesmo em dias de raiva como estes, quando nossos corações se unem ao atual sofrimento dos israelenses que moram lá, não podemos esquecer que a raiz do problema de Gaza é que centenas de milhares de seres humanos estão ali apodrecendo em campos de refugiados - campos que incubam pobreza e desesperança, ignorância, fanatismo religioso e nacionalista, ódio e violência.
Do ponto de vista histórico, não pode haver solução para o problema de Gaza enquanto o horizonte não mostrar pelo menos o mínimo de esperança para essa gente desesperada.
Então, o que podemos fazer agora?
Podemos e devemos chegar a um cessar-fogo com o Hamas em Gaza.
Um cessar-fogo virá a um alto preço político, claro. Mas dado o preço que Israel iria pagar por uma decisão equivocada e impulsiva, é a opção menos mortal e mais suportável.
A alternativa de invasão militar seria catastrófica.
(*) AMÓS OZ é um premiado escritor israelense e um dos fundadores do Movimento PAZ AGORA. Original publicado no Globe & Mail/AFP em 14|02|2008 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR.
Sobre o Autor
Amós Oz: Nasceu em Jerusalém, em 1939. Considerado um dos melhores escritores israelenses da atualidade, já foi traduzido para mais de 22 línguas. Atualmente mora em Arad, no deserto de Neguev, dedicando-se à militância em favor da paz entre árabes e israelenses e ao curso de literatura hebraica que leciona na Universidade Ben-Gurion.Clique AQUI para ler a COLETÂNEA AMÓS OZ
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