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O bicho papão da auto-estima tupiniquim

por Carol Westphalen *
publicado em 04/10/2003.

Num país como o Brasil, descobrir forças para levantar a auto-estima sempre foi um desafio. A felicidade e o sucesso, em todos os sentidos da vida, estão relacionados à auto-estima. Só consegue amar o próximo aquele que realmente se gosta e/ou se relaciona bem consigo mesmo. A perplexidade constante diante de autocríticas indica que é preciso, inicialmente, trabalhar numa auto-avaliação. O desprezo ao auto-conhecimento implica na incapacidade do indivíduo de se arriscar e tomar decisões necessárias para levar uma vida plena. A carreira, um relacionamento, uma amizade e a relação que o indivíduo tem com a família, tudo isso tem grandes chances de desmoronar quando se tem uma baixa auto-estima.

Valorizar a si mesmo e alimentar o amor próprio é imprescindível para se ter uma vida saudável, mas, infelizmente, o discurso da mídia sobre os padrões aceitáveis por certos grupos sociais ainda é uma das maiores barreiras para quem está disposto a tentar. No Brasil, segundo pesquisa realizada, a maioria dos brasileiros tem tendência a se diminuir e viver embriagado em meio a uma pasmaceira extremamente passiva, a ponto de aceitar qualquer tipo de extorsão e/ou exploração do mundo externo. Existe uma grande massa com complexo de inferioridade em nosso país, em sua maioria crianças e adolescentes, pois quando se é adulto alguns complexos podem ser controlados, ou melhor, camuflados.

Os pequenos tupiniquins passam o início da infância sendo amedrontados e aterrorizados por canções de ninar aparentemente inocentes, ou seja, desde cedo, nossas crianças, ainda bebês, já são obrigadas a encarar tragédias. Que tal "O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada. O cravo saiu ferido e a rosa despedaçada!" ou "Boi, boi, boi! Boi da cara preta, pega esse menino que tem medo de careta!" ou ainda "Nana neném que a cuca vem pegar!"? É difícil acreditar que a maioria das crianças conseguem dormir escutando esse tipo de contexto. Elas dormem, mas o medo do boi da cara preta ou a desgraça da briga do cravo com a rosa ficam incrustados em seus subconscientes.

Essas musiquetas infantis que cantamos há décadas para nossas criancinhas estão longe da inocência. Somente um indivíduo que sofre de extremo sadismo inconsciente acredita ser normal dizer a uma criança que a música que seus pais cantam para fazê-la dormir é, literalmente, ameaçadora. "Marcha, soldado, cabeça de papel! Quem não marchar direito vai preso pro quartel." Quer dizer, se a criança não fizer tudo direito ela será presa. É realmente lindo assistir menininhos de 5 anos de idade marchando como soldados, não é mesmo? E quando se tornam adolescentes são incentivados pelos pais a lutar pela paz mundial. "Eu sou pobre, pobre, pobre de marré de si. Eu sou rico, rico, rico de marré de si." Eis aqui pedaços de uma canção infantil que, inconscientemente, incentiva a criança a dar início a um processo de discriminação social financeira.

Não é certo esconder a verdade das crianças, mas antes de dormir é aconselhável que ouçam coisas meigas, pois a dura realidade da vida, certamente, elas enfrentarão mais tarde. O clássico "Atirei um pau no gato" é uma menção nada honrosa à falta de respeito com os animais e também à crueldade. E o medo de levar umas boas palmadas por ter ficado doente como "Samba Lelê? Ou o receio de trabalhar em equipe por não poder deixar "a canoa virar" algumas vezes? Que criança vai acreditar no amor depois de ouvir "O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou."? Infelizmente, são raras as canções infantis do folclore brasileiro que apontam para causas positivas e alegres. As ameaças são tantas que podemos compreender porque grande parte dos brasileiros se diminui e admite quase tudo de cabeça baixa. Não nos lembramos muito bem das coisas da infância, mas algumas delas ficam em nosso subconsciente sob a forma de um trauma. Em algum momento da vida eles vêm à tona e, infelizmente, acabam afetando, de forma negativa, nosso projeto de vida plena.

Sobre o Autor

Carol Westphalen: Caroline C. Westphalen nasceu em Porto Alegre, mas aos 10 anos foi morar em São Paulo. Formou-se em Comunicação Social e fez pós-graduação em Sócio-Psicologia. Atualmente, mora no litoral do Rio Grande do Sul, faz Psicologia e trabalha como jornalista/colunista.Em 1999, escreveu "Confluência dos Ws" (Editora Writers), uma pequena compilação de crônicas e contos, junto com o amigo Diego Weigelt, crítico de música e radialista. Carol reuniu algumas crônicas em 2004, mas ainda não tem editora. Sinto que meus textos incomodam. Também não gosto de perceber e encarar certas realidades, diz Carol.

Seus textos sobre comportamento e vida também podem ser lidos no site da revista TPM.Carol também escreve um diário: http://www.diariodecarolw.blogger.com.br

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