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Vaginocracia
por Noga Lubicz Sklar
*
publicado em 29/09/2007.
"... os instruí em alguns fundamentos do funcionamento sexual: ...como Marvin podia abordar o sexo menos mecanicamente; e como ele podia, se perdesse a ereção, levar Phillys ao orgasmo, manual ou oralmente."
Irvin Yalom em "O Carrasco do Amor", aconselhando um casal na faixa dos 60
Irvin Yalom em "O Carrasco do Amor", aconselhando um casal na faixa dos 60
Uai, gente. E eles não sabiam disso? Não sei se foi minha irritação com o último capítulo deste livro e suas pretensões terapêuticas sobre o prazer sexual. Ou se foi porque li no Verdes Trigos que filósofos modernos "trouxeram para o centro do debate as questões de gênero, poder, sexualidade e etnicidade até então jamais abordadas". O fato é que a noite passada tive um quentíssimo, e estranhíssimo sonho erótico. Eu tinha ido a uma rave com um casal de amigos, e lá pelas tantas, me perdi deles e fiquei sozinha. A mulher do meu amigo, aparentemente, estava por trás disso: sem motivo nenhum, morria de ciúmes de mim. Na cena seguinte eu estava na cama com um garoto, hum, digamos, um cara bem mais jovem, cheio de gás. A gente pulava, se retorcia, voava sobre a cama num malabarismo tão inédito quanto impossível, até que o rapaz ejaculou com energia comparável à performance. Não cheguei ao orgasmo e ele ficou meio sem graça mas eu, compreensiva, disse que não tinha problema. Me levantei pra ir ao banheiro, tão sujo aliás quanto o resto da sala, e encontrei a mulher do meu amigo saindo de debaixo da cama: "o que estava acontecendo? ouvi uns ruídos estranhos."
Caminhando pela praia eu ia refletindo sobre o sonho, com foco na idade, na diferença entre os sexos, na ignorância sexual da mulher — preocupada apenas com o ciúme —, na minha insatisfação, ou melhor: na ilusão do desempenho frenético e no grande alívio que senti ao acordar tranqüila na minha cama limpinha. Eu tinha planejado — e o Segundo Caderno do Globo parecia enfatizar isso — prosseguir com minha análise da velhice, da decadência física, do poder jovem, ou melhor, da obsessão em se manter jovem, mas não sei como nem porquê acabei desviando o assunto para a ignorância feminina em relação aos nossos próprios atributos.
Eu sei, eu sei. Avançamos muito e já somos capazes de seduzir, conduzir o jogo do sexo, freqüentar sex-shops e até "telefonar no dia seguinte". Mas será que é disso que se trata? De manipular o parceiro, tratar das aparências? Sim, porque pensando bem, a indústria da vaidade se concentra, até certo ponto, em dessensibilizar o corpo. O botox alisa a pele e paralisa os nervos. E o silicone? Diminui a sensibilidade dos seios? A mobilidade e o toque, pelo menos, sei que são alterados, mas ninguém parece ligar pra isso. E o que dizer dos aterrorizantes antissépticos vaginais, divulgados como se fossem indispensáveis para a saúde? Não cheira tudo a conspiração anti-sensual?
Tá certo. Posso estar exagerando. É meu estilo, mas vale a pena refletir a respeito. A indústria da eterna juventude quer nos convencer, de qualquer maneira, que com a idade estamos condenadas à frigidez, à decrepitude: tudo cai. A pele racha; a vagina seca; a libido encolhe. Mas, gente! Quem sabe não é nada disso? Hein? Já pensaram nisso? Há quem diga que, na maturidade, o prazer sexual da mulher aumenta. A basear-me na minha própria história, sou inclinada a acreditar. E foi isso que me veio à mente esta manhã, enquanto eu caminhava. Imaginem o que acontecerá neste mundo quando deixarmos as frescuras de lado e nos dermos conta do nosso verdadeiro prazer —ao descobrirmos que a vaidade extrema nada mais é que uma conspiração vazia, nada a ver com o gozo real da vida — e de como é incrível o nosso poder.
Sobre o Autor
Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.
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