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No mercado de créditos de carbono não há espaço para peixe pequeno

por Efraim Rodrigues *
publicado em 27/09/2007.

Todos ficamos assanhados quando ouvimos que a Prefeitura de São Paulo junto com algumas empresas, ganharam 34 milhões em créditos de carbono por conta do aterro sanitário da cidade. Já faz algum tempo que o gás metano que sai do aterro toca uma pequena termoelétrica, que gera eletricidade para 400.000 pessoas. Matéria prima gratuita e lucro com a eletricidade, além dos créditos, Mas no modo atual de organização do mercado de créditos de carbono não há espaço para peixe pequeno. O projeto é caro e complexo de fazer, e precisa passar por burocracia nacional e internacional. Se você não é responsável por uma estrutura milionária, esqueça.

No mês passado, um artigo na prestigiosa revista Science mostrava como as ONGS menores conseguem cumprir melhor suas metas. A idéia é que as estruturas menores são mais eficientes. Ao privilegiar grandes estruturas, o mecanismo de créditos de carbono se afasta da vida das pessoas e com isto perde oportunidades de conquistar mais adeptos e de educar as pessoas. A padaria Milani, por exemplo, onde eu todo dia compro pão e recuso a sacolinha de plástico, irá agora reutilizar os sacos de farinha para fazer sacolas de compras, que serão doadas aos clientes. Sacolas bonitas e bem. O Milani irá conquistar a simpatia dos clientes e economizar muito plástico, tanto do seu empreendimento, como de outros. Ele nunca receberá um centavo do mecanismo de créditos de carbono, por que o custo do projeto é muito alto para o tamanho do empreendimento.

Afora a burocracia, outra grande crítica ao MDL, é subsidiar empreendimentos que iriam acontecer de qualquer forma. O aterro paulistano vende energia elétrica. Será que só assim já não seria um negócio rentável ?

È consenso entre os grandes empresários, que os créditos não viabilizam um empreendimento. Só ajudam. Neste caso não seria melhor ajudar setores mais capilarizados na sociedade, onde estes recursos atingiriam mais gente ?
A matéria orgânica de solos, por exemplo, é um excelente reservatório de carbono, com benefícios marginais, como redução de erosão e de agrotóxicos. Pagar proprietários rurais para aumentar a matéria orgânica dos seus solos e mantê-la alta, seria uma forma de seqüestrar carbono, ajudar a natureza, melhorar a qualidade de nossos alimentos e irrigar a economia pela maior dispersão de recursos.

O gigantesco lixão pode ser mais visível, mas é o envolvimento individual que pode desalterar nosso clima.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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