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11/09, Ódio e Lucidez
por André Carlos Salzano Masini
*
publicado em 17/09/2003.
A resposta a essas perguntas é muito mais difícil do que muitos pretendem. A constância das guerras, ano após ano, milênio após milênio – a despeito de toda miséria e sofrimento que trazem – sugere a existência de algo em nossa natureza que nos arrasta para elas. E na verdade esse algo já foi estudado e compreendido pela ciência: Freud, em seu livro O Mal-estar na Civilização, chama-o de instinto de agressão e de autodestruição; Konrad Lorenz, ganhador de prêmio Nobel e fundador da moderna ciência da etologia, chama-o de agressividade inata.
Em nosso atual estado de civilização, só testemunhamos a agressividade quando vemos dois semelhantes brigando ou dois países guerreando, e temos boas razões para considerá-la uma deformidade. Mas devemos lembrar que nossa espécie levou milhões de anos para evoluir, e que não fomos biologicamente "moldados" para viver em civilização. Essa mesma agressividade – que hoje perdeu suas funções e tornou-se inadequada às nossas sociedades – foi no passado uma força de vida para a espécie: o impulso no interior de nossos antepassados que lhes permitia defender seu território e sua prole. Por isso ela é um dos quatro grandes impulsos inatos do ser humano, tão importante quanto alimentação, reprodução e fuga.
Lorenz mostrou que a agressividade brota espontaneamente de nós, sem precisar de estímulos ambientais: O sistema nervoso central não age apenas por reação, ou reflexo. Ele pode produzir estímulos por si próprio, e essa é a explicação fisiológica para certos comportamentos espontâneos de animais e humanos (incluindo a agressividade).
Certa vez tentaram-se criar crianças em um ambiente totalmente livre de agressão, oferecendo–se a elas ilimitada tolerância e a satisfação de todos seus desejos. Para desgosto dos "educadores", o impulso agressivo brotou espontaneamente do interior dessas crianças, que tornaram-se insuportavelmente mal educadas e extremamente agressivas!
Mas reconhecer essa agressividade inata não significa de modo algum justificar a brutalidade. Pelo contrário, talvez seja o único caminho que tenhamos para evitá-la. Lorenz mostra que o impulso agressivo, como qualquer impulso, não pode ser simplesmente suprimido, precisa ser descarregado ou redirecionado. Por isso – para que uma sociedade humana seja viável – seus indivíduos precisam ter meios de redirecionar sua agressividade para algo saudável, como trabalho ou esporte. E, para que essa agressividade não seja mal redirecionada, a sociedade deve impor claríssimos limites de comportamento, com responsabilização dos indivíduos e severas punições.
O quadro se torna ainda mais sombrio quando estudamos a agressividade de grupos. Entra em cena o entusiasmo militante (Lorenz), pelo qual a agressividade de cada membro se une às dos demais e é redirecionada para um grupo distinto.
Freud diz: A vantagem que um grupo cultural obtém, concedendo ao instinto agressivo um escoadouro sob a forma de hostilidade contra intrusos, não é nada desprezível. É sempre possível unir um considerável número de pessoas no amor, enquanto sobrarem outras pessoas para receberem as manifestações de sua agressividade. (...) Não é por acaso que o sonho de um domínio mundial germânico exigisse o anti-semitismo e que a tentativa de estabelecer uma civilização nova e comunista na Rússia encontre o seu apoio psicológico na perseguição aos burgueses.
Essa agressividade tem sido um fertilíssimo instrumento nas mãos de tiranos de má-fé – Marcus Cato, Hitler, Stalin, Mao, George Bush – que canalizam o ódio das massas contra grupos estranhos: cartagineses, judeus, burgueses, reacionários, etc...
Felizmente, existem pessoas que recusam a solução fácil do bode expiatório, e preferem suportar com lucidez a própria dor e ódio, que descarregá-lo indistintamente. Na semana passada, um grupo de familiares das vítimas de 11/09 disseram NÃO a Bush: Fora do Iraque! Não derrame sangue inocente em nome de nossos parentes!
Que dignidade! Tiremos desse exemplo esperança para nosso futuro, e não nos esqueçamos da advertência do passado: "Conhece-te a ti mesmo!"
Sobre o Autor

Hoje tem dois livros publicados: a ficção científica "Humanos" e o livro de traduções e estudos “Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa”, além disso tem uma coluna semanal no Jornal "O Paraná", e é diretor de um centro cultural virtual, a www.casadacultura.org, que divulga seus trabalhos e tem milhares de assinantes em todo o Brasil.
contato: andre@casadacultura.org
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