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O CONDICIONADO
por Ademir Pascale Cardoso
*
publicado em 29/07/2007.
Alguns moradores de rua, são grandes intelectuais, como o ex-livreiro, Raimundo Arruda Sobrinho, 68 anos, sob o pseudônimo de "O Condicionado", morador de rua há 11 anos. Com muitas idéias, papéis e uma caneta, Raimundo "O Condicionado", escreve textos e frases inteligentíssimas, de uma pessoa ainda sóbria que vive no sol e na chuva, no calor e no frio, abrigado por um pai que não abandona ninguém, "Deus".
Durante 5 anos, fiz várias entrevistas e pesquisas com: professores, psicólogos, cientistas, ufólogos, historiadores, escritores, desenhistas, dramaturgos e cineastas, e ao saber das idéias de Raimundo "O Condicionado", não perdi tempo e tive que conhecê-lo pessoalmente e, fiquei surpreendido com seu alto grau de intelectualidade, e resolvi expor uma pequena parte de suas idéias, o qual ele escreveu e me cedeu em um pequeno pedaço de papel:
"Faça da arte literária, instrumento de incompreensão."
Ass.: Raimundo "O Condicionado".
Ass.: Raimundo "O Condicionado".
Além de frases, Raimundo escreve crônicas e histórias da sua vida em centenas de papéis, que guarda com muito carinho.
Muitas vezes, essas pessoas esperam um alimento para continuar sua sobrevivência, às vezes mais do que isso, elas esperam um aperto de mão...
Raimundo é morador de rua e passa a noite embaixo de uma lona. É revoltante ver que Raimundo fica próximo de uma das praças mais requintadas de São Paulo (Praça Panamericana), em uma localidade onde residem pessoas da classe alta, o qual é quase impossível alguém contribuir com o morador de rua. O incrível, é saber que pessoas da classe alta chegam a gastar mais de R$ 100,00 em um corte de cabelo, mais de R$ 1.000,00 em uma única camisa, R$ 80,00 em um par de meias de griffe, R$ 500.000,00 em um único carro, R$ 3.000,00 em uma única noite de diversão "balada", e com apenas R$ 5,00 ou R$ 10,00 reais, um morador de rua pode passar o dia alimentado.
A maioria das pessoas que contribuem com o Raimundo, são os taxistas e trabalhadores da classe média e baixa que passam por ali e já fizeram amizade com o mesmo, pois Raimundo é uma pessoa carismática, muito dócil e inteligente.
No dia 08 de agosto de 2005, presenciei um jovem sendo preso por policiais na rua de minha residência. O jovem, aparentando uns 20 anos, em prantos, rezava desfreadamente - pude ouvir a sua prece com um grande tremor em meu coração, enquanto que a maioria dos que presenciavam a terrível cena, ria e dizia "bem feito, mais um pra cadeia" - Com toda a certeza, é errado roubar, mas fiquei com muita pena daquele jovem, pois parecia uma pessoa simples, com vestimentas simples e com um sotaque nordestino, falava muito de sua mãe, que a mesma não sabia que ele era um ladrão. Provavelmente, veio para São Paulo para tentar mudar de vida em busca de um melhor emprego, mas devido a possível falta de estudo e a desleal concorrência etc., não teve opção. Eu poderia ser uma destas pessoas que se alegraram no momento da prisão deste jovem, pois teria muitos motivos para isso, já fui assaltado 4 vezes e perdi o meu pai quando tinha apenas 13 anos de idade. - Meu pai foi baleado por dois bandidos, deixando uma esposa e quatro filhos menores de idade. - Sou uma pessoa racional, sei que se as condições fossem melhores para todos nós, se não existisse tanta desigualdade e tivéssemos uma melhor distribuição de renda, meu pai talvez ainda estivesse vivo, o morador de rua Raimundo teria um lar para morar, um emprego e não existiriam tantos assaltos e violência em nosso país, pois as pessoas de classe baixa teriam um emprego, teriam dinheiro para estudar e se alimentar melhor. As condições de vida seriam melhores para todos nós...
"Se as portas da percepção fossem limpas, as coisas se revelariam ao homem como realmente são: Infinitas."
William Blake
William Blake
No dia 13 de julho de 2007, fiquei sabendo através de notícias do site Terra, que Raimundo tinha sido hospitalizado com indícios de pneumonia e que algumas horas depois de medicado, já estava novamente em seu local; no canteiro central da avenida Pedroso de Morais, em Pinheiros, próximo da praça Panamericana.
"O Condicionado" não gosta de falar do passado, diz ter sido vítima de um crime contra os direitos humanos e responsabiliza o Estado, mas não entra em detalhes. - Que segredos guardaria este incrível homem? - No ano de 1976, Raimundo "O Condicionado", passou dois meses no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e diz que antes deste ocorrido, possuía um lar com escrivaninha. Hoje, conhecido pela mídia brasileira, nosso protagonista diz desprezar seus próprios manuscritos e que não pensa em publicá-los, pois quando procurou, ninguém lhe deu atenção.
A primeira vez que escrevi sobre Raimundo "O Condicionado", foi no dia 08 de agosto de 2005, o qual publiquei no link: www.cranik.com/entrevista16.html . O artigo teve grande repercussão, sendo republicado em vários outros sites, um deles, no site "doaramor.spaces.live.com" de um trio de garotas "Meire, Andrea e Daniela", que ajudam entidades carentes e moradores de rua, arrecadando doações em dinheiro, comida e cobertores.
No dia 09 de maio de 2007, recebi um e-mail do autor e jornalista, Saulo Carrilho do Rego Barros, dizendo que publicaria meu artigo em seu livro, intitulado "Mendigos e Moradores de rua". Segue o comunicado abaixo:
"Prezado Ademir Pascale.
Comunico que estarei publicando o artigo de V. Sas. intitulado "Raimundo, O Condicionado" em meu livro "Mendigos e Moradores de rua". Para isto, estou dando o crédito conforme solicitado. Saliento que parte da venda deste livro, no que diz respeito a direitos autorais, será destinada a entidades sérias que cuidam de mendigos e moradores de rua em termos de socialização.
Um abraço
Saulo C. Rêgo Barros
Jornalista e Consultor de Segurança."
Torço para que cheguei um dia em que as pessoas tenham consciência de que todos somos iguais e que não exista tanta desigualdade neste mundo, pois todos somos irmãos, filhos de um único pai, "Deus".
*Esta crônica é parte integrante da obra que o autor está concluindo, intitulada "Heterônimos & Pseudônimos - Em busca do eu Interior"
Sobre o Autor
Ademir Pascale Cardoso: Crítico de cinema e editor do Portal Cranik, Ademir Pascale, é criador de um projeto de inclusão social e cultural, intitulado “Vá ao cinema!”, o qual já beneficiou mais de 5 mil e quinhentas pessoas de baixa-renda de todo o Brasil com o acesso gratuito às salas de cinema. Idealizador e Editor do Portal Cultural Cranik “www.cranik.com” desde 2003, é também crítico de cinema e coordena uma equipe de jornalistas e estudantes da área de comunicação social em seu portal ( http://www.cranik.com/equipe_cranik.html ), colunista de diversos sites culturais, Ademir Pascale é também um dos grandes divulgadores da sétima arte e do incentivo à leitura no Brasil, possuindo parceria com as maiores distribuidoras de filmes e editoras, o qual disponibiliza concursos culturais em seu Portal, incentivando a leitura e a ida ao cinema. O Editor já foi aluno de alguns dos maiores cineastas da América Latina, como: Paulo Betti, Guilherme de Almeida Prado, Toni Venturi, Imara Reis, André Sturm, Fernando Bonassi, Vera Hamburger, Lina Chamie, De Blasiis, Kátia Coelho, entre outros, além de ter concluído seu curso de roteiro para cinema com o conceituado autor e produtor norte-americano “Hugo Moss”.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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