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O papel do artista

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 26/07/2007.

"O papel do artista consiste talvez em sublinhar os aspectos positivos das coisas."
Björk para El Pais, 07/07


Nunca pensei que um dia nesta vida eu citaria Björk, mas o "último uivo dos dinossauros" em sua entrevista ao El Pais, "antes que entrem em colapso", me cativou. Também gosto de observar o mundo sob esta ótica evolucionista. Estamos sempre em transição.

Quanto à definição que a cantora islandesa dá para o sempre controvertido papel do artista... nem sempre foi assim. Quando me contaminei pelo fascínio da arte, na verdade, era bem o contrário. Era artista quem denunciava, criticava o que andava ruim, e ao mesmo tempo apontava suas antenas premonitórias para um futuro melhor, uai, era o artista um profeta? Não. Apenas alguém com a sensibilidade aguçada e que se entregava, se oferecia de corpo e espírito à tarefa de perceber, e traduzir para as massas o percebido. De crescer e fazer crescer, não por samaritanismo, nada disso. Simplesmente por ser desse jeito, ter nascido assim e não ter feito nada para contrariar a própria natureza: um radical, determinado e fiel como um escorpião fatal. Hoje em dia, todo mundo sabe, o ofício da denúncia se generalizou, deixando de lado, infelizmente, o aspecto profético da coisa, o papel edificante da crítica como gestora da novidade, artífice universal da esperança.

Até mesmo o conceito de ecologia, pra quem não sabe, foi criado por um artista: Joseph Beuys. Bem. Isso foi antes do ambientalismo se tornar um negócio, antes mesmo da arte contemporânea se tornar um produto de mercado, bem, disso eu já não tenho certeza, mas de uma coisa não tenho dúvidas: foi bem antes de todo mundo aceitar, como indiscutível, o fato de ter algo a dizer (e saber como ninguém dizê-lo), reduzindo o artista a uma casca exposta de celebridade.

Já faz tempo que eu percebi que a culpa de tudo é do CorelDraw, um popular programa de criação gráfica canadense, lançado há mais de vinte anos. O software, hoje ultrapassado — para os íntimos apenas Corel —, foi ao mesmo tempo a sorte e a morte do artista, já que com uma versão na máquina qualquer um se habilitava a criar... e criava, cobrando por isso e relegando o talento nato ao banco de reserva.

Não é que eu acredite que a criatividade é privilégio de poucos. Não. Mas aquele toque a mais, aquele it, aquele tchan, continua raro. E me arrisco a dizer que vai ficando cada vez mais raro, afogado na mesmice multiplicadora do que é hoje em dia publicado, na avalanche de doutores em tudo que torna o pensamento moderno cada vez mais raso.

O motivo de eu estar escrevendo isso, afinal de contas, não tem nada a ver com a Björk, nem com Beuys, nem com outro beabá nenhum, mas com a noção recorrente de que o artista, hoje em dia, se limita demais ao próprio umbigo. Quer saber? Foi sempre assim, e assim sempre será: o artista é um sujeito que mostra ao mundo, com seu talento e sem pudor nenhum, sua própria visão das coisas, bem, geralmente uma visão incomum e lindamente expressada, sim, é isto, e não a técnica apurada por um bom software, nem o espaço democrático conquistado na mídia online, que faz dele o que ele é: um artista.

E ainda existe a questão da forma, sim, da beleza, da unânime ditadura poética da bela forma. Já supondo que há mesmo o que dizer, o como dizê-lo, sim, faz toda a diferença do mundo, e foi o que, sem dúvida absolutamente nenhuma, eu percebi na entrevista de Amós Oz a Edney Silvestre no Espaço Aberto, ainda resquício da presença do israelense na FLIP. O que ele diz muita gente diz, mas o que ele escreve, ah, e como ele escreve... a beleza intrigante nos trechos de seu livro de memórias citados no vídeo... a melodia pura, a música brotando muda do que, cá pra nós, poderia se limitar a ser apenas texto... Sim. O talento é essencial. E raro. Cada vez mais raro.

Por essas e outras é que deixo aqui a minha própria versão do axioma de Björk: o papel do artista consiste, talvez, em exercer, com o talento único que sua própria natureza lhe confere, o seu papel de artista, não se prendendo a papel nenhum.

E num mundo antenado, onde a crítica virou regra e a opinião publicada lugar-comum, atividade livremente exercida por qualquer um, a própria idéia da arte mudou. Artista é quem demonstra, na prática, em qualquer meio ou tema, que a qualidade do que se mostra sim, é que é fundamental.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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