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O amor zumbi
por Miguel Sanches Neto  
* 
publicado em 18/07/2007.
				Saudado por gente de peso, como Ricardo Piglia e Roberto Bolaño, como um dos maiores escritores latino-americanos vivos, o argentino Alan Pauls, de 48 anos, demorou a se decidir pelo título de seu quarto romance. Pensou em chamá-lo de A Mulher Zumbi, por causa da natureza fantasmagórica de Sofía, cujo amor doentio pelo tradutor Rímini, seu ex-namorado, impulsiona a narrativa. Considerou um título curto, Ex, até chegar ao simples e definitivo O Passado (tradução de Josely Vianna Baptista; Cosac Naify; 478 páginas). "O amor é uma torrente contínua", diz um dos personagens, e este também seria um bom título: Torrente Contínua. Trata-se, afinal, de um romanção que se lê compulsivamente. O Passado é cheio de lacunas, descontinuidades e mudanças de trajetória – mas, a essa força desagregadora, Alan Pauls opõe o poder da memória, que garante alguma constância onde tudo se desfaz rapidamente.
Muito bem arquitetada, a estrutura do livro envolve o leitor e o joga sempre à frente, ao longo das várias fases da vida de Rímini. Separado de Sofía depois de doze anos de amor, ele começa o livro como um tradutor solitário, tentando se desintoxicar da paixão e das drogas que consumia em excesso. Curado, torna-se um intérprete de palestras e se apaixona pela ciumenta Vera, que virá a morrer tragicamente. Rímini começa então a esquecer as línguas estrangeiras que eram sua ferramenta de trabalho. É nesse período que se reencontra com Carmen, amiga de faculdade. Os dois se casam e têm um filho, mas Sofía acaba provocando a traumática separação do casal. Rímini se faz professor de tênis e acaba amante de uma aluna rica.
Em cada uma dessas vidas, Rímini depara sempre com a sombra da amada, que o persegue como um espectro. Uma mórbida paixão comum mantém os dois ligados, mesmo depois do rompimento: a obra do pintor inglês (fictício) Jeremy Riltse, criador da sick art, uma estranha vanguarda que procura dar status artístico à doença. Depois de uma excursão à Europa para ver o artista, no tempo em que ainda eram gêmeos siameses, Rímini e Sofía passam a ser uma representação da própria lógica artística de Riltse. Enquanto o inglês colocava pedaços de seu corpo nas telas e sonhava ir mais fundo na automutilação em nome da arte, o casal fazia de seu amor doentio uma verdadeira obra, passando por contínuas experiências de doença, envelhecimento precoce e degradação física. O Passado parece estabelecer fronteiras entre livros muito diversos entre si – por exemplo, Em Busca do Tempo Perdido, do francês Marcel Proust, O Jogo da Amarelinha, do argentino Julio Cortázar, e O Amor nos Tempos do Cólera, do colombiano Gabriel García Márquez. E convida o leitor a se perder num território de obsessões perigosas, que só se tornam claras quando vistas pelas lentes deformadoras da arte.
Sobre o Autor
			Miguel Sanches Neto: Escritor paranaense e crítico literário, assinando coluna semanal no maior diário do Paraná, a Gazeta Povo (Curitiba), tendo publicado só neste jornal mais de 350 artigos sobre literatura, fora as contribuições para outros veículos, como República e Bravo!, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde (São Paulo) e Poesia Sempre e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro).
 		    
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