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Pedindo água

por Efraim Rodrigues *
publicado em 30/03/2007.

Na semana passada, eu fiz uma crítica à ineficiência dos programas de melhoria de águas. Apontei que plantar árvores ao lado de um rio poluído é inócuo, e que eu desconheço o caso de um rio brasileiro que tivesse tido melhora consistente.

Ouvi muitas críticas, e gostei de todas. Ouvi que meu desânimo é desarticulador. Ou seja, que ao ler um texto como aqueles, muitas pessoas deixariam de envolver-se com a causa ambiental, por sentir que nada que façam irá fazer diferença.

No entanto, passamos do momento de precisar arregimentar pessoas para a causa ambiental. As recentes alterações climáticas foram um golpe mortal para os céticos. Lomborg, o autor do fracassado "Ambientalista Cético" não poderia ter lançado seu livro em pior momento. Sua idéia fez um vôo de galinha.

Com este exército de pessoas motivadas para causas ambientais, temos agora que dar solidez à nossa atuação. Não quero saber quantas mudas foram plantadas. Quero saber quantas se tornaram árvores. Não quero saber quanto dinheiro ganhou o corredor de biodiversidade do Rio Tietê ou Iguaçu, quero saber quantas espécies de aves vivem ao longo dele. Não quero saber quanta educação ambiental têm as escolas, quero saber quanto papel fica no chão depois do recreio. Não quero saber quantos animais são liberados, quero saber quantos mantém uma vida saudável em seu ambiente natural.

Precisamos aprender com aqueles que mais achincalhamos. Precisamos de administradores gabaritados. Sergey Brin, por exemplo, disse que o mecanismo de neutralizar emissões de carbono precisaria ser mais pessoal e direto. O inventor do Google não entende nada de clima, mas está certo. Não adianta dar indulgências carbônicas para os que podem pagar.

Outra crítica que ouvi, é que há um exemplo em São Carlos onde uma das bacias de captação da cidade não precisa mais de pré-cloração, portanto este rio melhorou.

A melhora em São Carlos é motivo de enorme comemoração. Isto não se consegue com pouco esforço. Este exemplo, infelizmente confirmador da regra, deve ser divulgado e estudado, para ser multiplicado. Vale tudo, até tentar gravar capítulo de novela às margens dele. Será certamente mais fácil convencer um canal de TV a fazer isto, do que foi ter limpado o rio. Igualmente exótico, Lydia Polgreen divulgou o replantio da Floresta no Niger, realizado pelos próprios moradores da região.

Está em nossas mãos definir se o rio de São Carlos e as florestas do Niger continuarão como exceções ou serão os precursores de uma nova era.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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