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por Rubens Shirassu Júnior *
publicado em 24/08/2003.

No caminho do apartamento para o aeroporto, fico olhando as casinhas tipicamente japonesas de Terada-cho, não por encanto com o estilo arquitetônico. Os olhos se fixam é nas janelas. Mesmo no térreo, a grande maioria não tem grades, apenas grandes vidraças. Dá uma baita inveja. Por que os japoneses podem escolher, por gosto pessoal, pôr ou não grades nas suas janelas, ao passo que os brasileiros são obrigados a fazê-lo sob pena de serem assaltados todo dia ou mais de uma vez por dia?

Não que a criminalidade no Japão seja desprezível. É até alta, para os padrões orientais. Mas, ainda há esse luxo de não pôr grades nas janelas. Aí, vejo o governo brasileiro preocupado com a segurança do país. Ótimo. Mas, como quase tudo no país, chega tarde. Certa vez, declarou José Carlos Dias, ex-ministro da justiça, que precisou de sete meses no cargo para descobrir a gravidade da situação. Já é grave o fato de que uma autoridade que passou por cargos executivos em São Paulo, como é o caso de Dias, descobrir em 2000 o que seus conterrâneos conhecem faz tempo.

E as demais autoridades, onde estavam até agora? Se Dias levou sete meses para descobrir a gravidade da crise na área de segurança, o que dizer, então, de Fernando Henrique Cardoso, Collor, Itamar Franco e José Sarney, de governos passados?

De certo, alguns casos de mais impacto na mídia, como a morte do empresário do ramo de cervejas ocorrido nesta semana que passou, aguçam uma sensação generalizada de insegurança. Por outro lado, não se pode cobrar da esfera federal uma política que tenha efeito direto na melhoria da ação ordinária de repressão policial, que está a cargo dos Estados. Seria mais efetivo se, em médio prazo, as autoridades federais conseguissem atingir melhores metas de desempenho no que tange a seu papel constitucional de coibir o contrabando de armas, de reprimir o tráfico de drogas e de debelar quadrilhas interestaduais que agem de modo organizado. Reduzir a entrada de armas e de drogas já seria de grande valia na prevenção das cadeias menores de criminalidade que se instalam pelo país afora.

Com relação às corporações militares e civis estaduais, em que pesem as enormes diferenças regionais, há alguns pontos que parecem comuns e que mereceriam os maiores cuidados. Ressaltam-se, nesse ponto, a dificuldade de produzir e lidar com informações sobre a criminalidade, a falta de ação integrada entre as corporações, o despreparo técnico e humano, a corrupção.

Vale lembrar, outra vez, que segurança era uma das prioridades simbolizadas pela mão espalmada da primeira campanha de FHC. Se leva tanto tempo para formular um plano, fica fácil (e desesperador) imaginar quanto tempo vai levar para executá-lo, se o fizer. Desconfio que o Japão e suas janelas sem grades continuarão me dando inveja.

Sobre o Autor

Rubens Shirassu Júnior: Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.
É o autor da coluna OLHO MÁGICO na VERDES TRIGOS.

Contato: jrrs@estadao.com.br

Veja também o "ORIENTE-SE: Manual de Procedimentos no Japão"
Edição Independente de Rubens Shirassu Júnior
Site do Livro: http://www.stetnet.com.br/orientese/

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