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Sérgio e Stanislaw Ponte Preta

por Rubens Shirassu Júnior *
publicado em 17/08/2003.

Para reunir tantas esquisitices em sua coluna diária na imprensa carioca, Sérgio Marcos Rangel Porto (nascido a 11 de janeiro de 1923, no Rio de Janeiro) contava com a colaboração dos amigos, que depositavam em sua gaveta na redação frases tiradas de banheiros públicos. Qualquer fato inusitado entrava no Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País), um catálogo de episódios grotescos que faziam rir e pensar. No Diário Carioca, nos anos 50, adotou o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta (inspirado no personagem Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade) para assinar uma coluna social. A notoriedade só veio na revista Manchete, onde inventou a seção “As Mulheres mais bem despidas do ano” – para contrapor “as mais bem vestidas” – em que apresentava as “certinhas do Lalau”, beldades da época que desfilavam com o umbigo de fora.

Os amigos diziam que se apaixonava até por manequim de boutique. Mas ele avisava: “Ninguém entende de mulher, nem o diabo. Se ele entendesse não tinha chifre.” Teve duas esposas, três filhas e inúmeras amantes. “Era um pai severo. Não nos deixava brincar na rua nem dormir na casa de amigas”, contou a ISTOÉ a filha mais velha, Gisela. Após 23 anos no banco, pediu demissão e assumiu um ritmo de trabalho frenético. Chegava a passar mais de dez horas datilografando notas para programas de rádio e a coluna no Último Hora, que estreou em 1954. Só se levantava para mudar o disco de jazz da vitrola ou ir ao banheiro (tinha a estranha mania de, às vezes, urinar na pia e não no vaso sanitário).

De Bandeira Arriada

À noite, tornava-se galã de tevê – ou “máquina de fazer doido”, como preferia chamar – e apresentava suas “certinhas” no programa de Flávio Cavalcanti. Também fazia comentários mordazes sobre política na TV Excelsior. Na hora de dar boa-noite e listar as próximas atrações, certa vez Stanislaw recomendou o filme Os Sete Pecados Capitais, em especial uma cena em que havia um strip-tease num táxi. “Acho que vocês não podem perder. Pelo menos para saber se o motorista fica de bandeira em pé ou arriada.” Sérgio encontrava tempo para desbravar madrugadas nos bares. Mão aberta, pagava rodadas e rodadas de cerveja e não se recusava a emprestar dinheiro aos amigos – mas não sabia cobrar. E batia ponto no Maracanã, todos os domingos, para ver seu Fluminense.

Era muito pique para um coração frágil demais. O primeiro infarto veio aos 36 anos. “Em casa, cumpria a dieta alimentar e tomava os remédios. Abolimos a banha de porco e passamos a usar só óleo Mazola, que era a última palavra em combate ao colesterol”, lembra a filha Ângela. Na rua, porém, a vida lhe reservava fortes emoções. “Não é nenhum tabu que, quando o uísque dele virou xarope, começou a cheirar cocaína”, afirma Ângela. Sérgio sobreviveu a outros quatro infartos, até morrer de insuficiência cardíaca, a 30 de setembro de 1968, aos 45 anos. “Prefiro viver assim até os 40 do que vegetar até os 80”, dizia.

Frases Feitas

“A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente que eles vêm lutando pelo progresso de nosso subdesenvolvimento”.

“Uma feijoada só é realmente completa quando tem uma ambulância de plantão”.

“Certos produtores de televisão dão tanto em cima das artistas que deviam receber ordenado de reprodutores”.

“No Brasil a imunidade parlamentar existe para muitos poucos deputados. Para a grande maioria o que existe mesmo é a impunidade parlamentar”.
(Do livro “Máximas Inéditas de Tia Zulmira”, Editora Codecri, 1976.)

“Estava mais duro do que nádega de estátua”.

“Carro é como mulher: só é bom pra quem tem dois”.

“Consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói”.

"Difícil dizer o que incomoda mais, se a inteligência ostensiva ou a burrice extravasante”.

“O terceiro sexo já está quase em segundo”.

“Dono de cartório de protesto é uma espécie de cafetão da desgraça alheia”.

“Mulher e livro, emprestou, volta estragado”.

“Os valores morais são os únicos que conservaram os preços de antigamente”.

“O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto”.

Sobre o Autor

Rubens Shirassu Júnior: Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.
É o autor da coluna OLHO MÁGICO na VERDES TRIGOS.

Contato: jrrs@estadao.com.br

Veja também o "ORIENTE-SE: Manual de Procedimentos no Japão"
Edição Independente de Rubens Shirassu Júnior
Site do Livro: http://www.stetnet.com.br/orientese/

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