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Homem maduro

por Urda Alice Klueger *
publicado em 28/12/2006.

Eu olho para um homem maduro, absolutamente lindo, absolutamente forte, como se fosse o tronco centenário de uma árvore de profundo cerne e madeira capaz de resistir à quase tudo – o homem está sério, em momento que é de seriedade para a Humanidade, falando uma fala de grande peso, e sustenta um microfone com força, com a bela mão com que a Natureza o dotou, e a força com que segura aquele microfone combina com a força das palavras que sei que disse naquele dia, e há mais coisas a olhar naquele homem, como a força da amplidão protetora do seu peito avistado pela ampla abertura da camisa creme – na verdade, trata-se de uma fotografia quase toda em tons de creme e amarelo, menos na beleza da prata que se mescla aos cabelos e à barba daquele homem que é um homem maduro e lindo, e onde, tempos atrás, não havia aquela prata a lhe contornar as feições, pois então ele não era nem tão maduro nem tão lindo!

Eu olho para o homem maduro da fotografia e no ângulo do seu queixo e do seu olhar pleno de inteligência fica muito visível a determinação que o move, e a sua determinação é a determinação do Bem, e eu sei que se ele pudesse, mudaria tanta coisa, tanta coisa!!! Se o seu poder fosse um pouquinho maior o mundo que temos seria outro, e já não haveria a fome, já não haveria a guerra, já não haveria a tristeza...

Aquele homem é o meu homem embora não o seja, e sei ler nele como acho que ninguém sabe. As rugas que se formam na sua testa, acompanhando o arco das sobrancelhas, quando fala em coisas assim tão sérias, formam-se exatamente porque ele não tem aquele pouquinho a mais de poder que lhe falta, e ele, sozinho, ainda não tem a capacidade de debelar deste mundo a fome, a guerra, a tristeza... Aquele semicírculo de rugas nasce daquela sua preocupação constante com a Humanidade, e lá por dentro dele, apesar de parecer ter por fora o tronco centenário da árvore centenária capaz de resistir a quase tudo, lá por dentro ele tem um cerne de profunda sensibilidade e compaixão por esta Humanidade que ele, sozinho, não consegue livrar dos sofrimentos. Eu o conheço, eu sei: por trás da sua madureza, da sua madeira quase pétrea, da sua seriedade e determinação, seu cerne é puro açúcar, e quando fala coisas assim sérias, segurando com determinação um microfone na bela mão, se ele não se controlar, num instante não suportará mais toda aquela dor pela Humanidade e, sem pejo, chorará aos soluços frente à sua platéia, por mais exigente que ela seja, e pegará todo o mundo desprevenido por permitir-se mostrar em toda a grandeza da sua sensibilidade.

Aquele homem que é como se fosse o tronco centenário de uma árvore carrega por dentro delicados colibris de sensibilidade, e o seu cerne profundo é como uma toca onde os colibris habitam e trepidam com a suavidade dos movimentos de namorados, e o forte tronco que parece invulnerável, na verdade, por mais forte e resistente que seja, tem a vulnerabilidade advinda da delicada beleza da sensibilidade dos colibris, e o homem maduro e que parece tão forte, na verdade, tem a vulnerabilidade do seu coração.

Eu vejo o homem maduro e lindo na fotografia e também dentro de mim, e sei que não há no mundo outro como ele, e seja ele duro e resistente como a árvore centenária, ou seja ele da doçura do seu cerne de colibris de sensibilidade, tanto faz: é ele o homem que eu quero, nem que seja para outro tempo, para um tempo além, de uma vida onde já não haja paixões físicas, quiçá para um tempo em que sejamos apenas energia solta no Universo – o homem maduro e lindo é o meu Homem, mesmo não sendo, e os demais não têm importância. Não há como não amar perdidamente um homem assim!

Sobre o Autor

Urda Alice Klueger: Escritora catarinense de Blumenau, onde vive e trabalha. Publicou inúmeros livros, entre eles "Entre condores e lhamas" e "Crônicas de Natal"

http://geocities.yahoo.com.br/prosapoesiaecia/urdaautores.htm




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