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O sentido do natal...

por Elaine Tavares *
publicado em 15/12/2006.

Contam que numa noite cheia de estrelas, de um dezembro, vingou um menino. Era assim, igual a todos os outros meninos viventes da Palestina. Mas, dizem, quando cresceu, ficou diferente. Inventou de andar com pescadores, miseráveis, prostitutas, doentes, lazarentos. Compartilhava a vida com a comunidade das vítimas, como diria o grande filósofo Enrique Dussel. Andava pelos caminhos e, aquecido pelas fogueiras, contava histórias de filhos pródigos, de semeadores, de bons samaritanos. Sacudia a ordem e, incrível, ainda fazia milagres. Só que seus milagres não eram coisas sensacionais, divinas. Eram simples, terrenas. Ele resgatava a dignidade das putas, das adúlteras, dos coxos, dos cegos. Ele fazia com que as pessoas repartissem seus bens, ensinava a solidariedade, arrancava sorrisos das caras enferruscadas e fazia com que os mortos andassem. Ele iluminava os caminhos com a força de seu amor. Ele queria o povo livre da opressão, queria a paz. Ele amava, simplesmente, na mais pura gratuidade.

Pois é para lembrar os gestos poéticos praticados por esse homem que se comemora o Natal. É, não é para comprar alucinadamente nos “xopingues” da vida como quer fazer crer a televisão e a propaganda capitalista. O natal é para re-cordar, para trazer de volta ao coração aquela noite mítica de um longínquo dezembro, quando o menino palestino nasceu e legou ao mundo essa lição tão pueril. Amar e partilhar. Não penso nele como deus, mas como um homem muito especial.

E é por ele que, invariavelmente em todos os natais, deixo meu sapato na janela. É claro que não espero o papai-noel (hoje uma invenção capitalista, desvirtuando a lenda do Santa Klaus). Tampouco espero os presentes insuflados pela voracidade do capital. Espero unicamente o sopro humano, demasiado humano, daquele menino, igual a tantos outros da tribo de Davi (palestino e judeu – que incrível!), que tem me ensinado tanto sobre como viver em comunhão e como lutar por vida digna, plena e de riquezas repartidas.

E, por mais inverossímil que possa parecer, meu menino nunca falhou. Nas manhãs de todos os meus 26 de dezembro, há sempre um presente...desses que não se pode ver nem tocar, mas o qual eu sinto no fundo do coração...Então, a despeito de todas as dores de um mundo cada dia mais desintegrado, eu sorrio e vou à vida...volto à luta, porque, enfim, há sempre uma batalha a travar... Sigo impávida porque a voz serena daquele homem sempre vem sussurrar nos meus ouvidos fatigados: “Estar no mundo, mas não ser do mundo”...amar..amar...amar e partilhar...

Hoje, nestes dias em que a grande Abya Yala principia sua hora histórica, fico a imaginar que aquele menino palestino de nome Jesus, em nada se diferencia dos pequenos aymaras, quéchuas, guaranis, navajos, kollas, mocovís, pataxós, palestinos, haitianos, timorenses etc..., que por aí andam a gritar por justiça. Meninos-profetas de nossa pátria grande, que estão a anunciar a boa nova de um mundo diferente do que está proposto pelo capital.

Então, tudo que desejo é que cada ser nesta terra possa deixar o sapatinho na janela, não à espera de um Noel inventado...mas deste presente único, a cada ano renovado, deixado pelo aniversariante da noite: amar, partilhar, lutar por justiça, sempre e todos os dias!

Abya Yala livre, povo soberano!

Sobre o Autor

Elaine Tavares: Jornalista e educadora popular. Mestre em Comunicação Social pela PUC/RS. Trabalha na universidade pública desde 1994, hoje integrando o grupo do OLA. É uma das coordenadoras gerais do Sindicato dos Trabalhadores da UFSC e atua no projeto de arte, cultura e comunicação popular Barca do Povo. Coordena o jornal comunitário O Sardinha, na cidade de Itajaí. Militante da luta contra a ALCA, do Movimento Contra a Violência e do Movimento Anti-Manicomial. É uma das idealizadoras da Companhia dos Loucos, um movimento político-cultural de libertação da palavra, criado em 2002 por jornalistas e educadores, e também do Movimento Janelas Abertas, que busca questionar a "shopinização" da arquitetura no mundo moderno.

eteiaufsc@yahoo.com.br

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