Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Airo Zamoner


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

O Honório, quem diria?

por Airo Zamoner *
publicado em 14/08/2003.

Que ele tinha um segredo, ninguém podia negar.

Segui-lo em noites escuras pelos caminhos do bairro não surtia efeito algum. Quantas vezes o seguidor acabava exatamente no mesmo lugar. Depois de uma ou duas horas, já pela madrugada, saía novamente, dava uma volta rápida e retornava para casa. Conjeturava-se que ele, ladino como poucos, desconfiava da vigilância e enganava a todos.

O segredo não podia ser simplesmente dar uma volta de alguns quarteirões em plena madrugada, absorto, solitário, cabisbaixo e voltar para casa como se nada tivesse ocorrido. Muito pouco para alimentar o falatório estimulante de todos os dias. Era imperativo que algo acachapante perpassasse a vida de Honório. E porque saía duas vezes? E porque trocava de roupa entre uma saída e outra? Certamente, havia um segredo!

Bem casado, filhos na melhor escola, emprego antigo. Público, é claro! Vida regrada, mulher apaixonada. Pois é!, Isto intrigava a todos. E intrigava mais porque Honório era o protótipo supremo da feiúra, considerando-se os padrões modernos. Magro, esquelético, corpo sempre arqueado, forçando um cabisbaixismo insistente. Óculos atartarugados, esparsos fios de cabelos, sempre antenados na captura de um suposto caos invisível dos pensamentos, dando a sua expressão um ar abobalhado. É, ele não era realmente um símbolo sexual.

Na repartição, muito respeitado por sua competência contábil. Mergulhava nos papéis amontoados em babel estapafúrdia e construía, sem parar, relatórios infindáveis e complexos sobre as falcatruas da nação.

A mulher, exuberantemente atraente, cobiçada, linda. A notícia do casamento fez estremecer a história do bairro. Ela sempre fora cortejada por um batalhão de mancebos arretados, mais em busca de um conluio libidinoso rápido que um casamento promissor. E queriam aquele conluio, mais para se glorificarem perante os pares que para a satisfação de machos frustrados. Ela, na puberdade, exibia sempre um ar de ninfeta, provocadora dos sonhos eróticos da gurizada excitada. Nunca se comprovou que alguém tivesse tido a tal honra. Muitos se vangloriavam, mas eram desmascarados vergonhosamente.

E ela cresceu e se casou! E logo com Honório, aquele magricela feioso, calado, sem graça, esquisito, dando inveja e raiva perene à turma dos mocinhos “sarados”.

Mas, que ele tinha um terrível segredo, ah, isso ele tinha. O que todo mundo vinha notando, é que, com o passar dos anos, ela ficava cada dia mais linda, ele cada dia mais abominavelmente feio. E tinha um segredo!

O detetive chegou com imponência sherloquiana, arrastando uma claque solitária de um garoto com ares watsonianos. Baixou por lá em plena madrugada, prometendo desvendar a história. A coleta feita com facilidade fez sobrar recursos. Queriam hospedá-los no melhor hotel. Ele se recusou. Quis a mata próxima e que o deixassem em paz. Em poucos dias traria o resultado. Não trouxe. Honório desconfiou dos movimentos, ladino que era. Despistou o detetive por noites a fio até que desistisse. Ele desistiu também. Nunca mais saiu à noite. A mulher estranhou a brusca interrupção do indispensável “serão”. A rotina mudou e o divórcio foi inevitável. Motivo: a depressão da esposa que não podia viver sem aquele amante das madrugadas tão parecido com o marido, mas tão arrebatador na cama.

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


Getúlio Vargas: Fragmentos do Diário de uma Paixão, por Antônio Ribeiro de Almeida.

Que jogo!, por Sabine Kiefer.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos