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Odisséia Poética, Uma paragem obrigatória em "Polifonia"

por Neiza Teixeira *
publicado em 12/11/2006.

O reconhecimento do Poema como verdade não é um trabalho onde não se despenda energia, concentração e aceitação. Envolvidos nesta compreensão se fazem presentes o corpo-vivo, a máquina-desejante, o prazer e o místico. Todos estes são conceitos acobertados pelo desprezo, pela má fé e sublimados pela má literatura e má arte. Foi graças a esta camuflagem que grandes poetas, em nome da razão, morreram nos manicômios. Por isso, Van Gogh se suicidou. Por isso, o INDEX e a fogueira nos tiraram a possibilidade de construir outros destinos - nossos e diferentes. Por isso, as ditaduras, que não garantem, apenas, o poder aos tiranos. Por isso, os poetas malditos, os filósofos oficiais, os preconceitos, as guerras em nome da fé e para trazer a paz. Por isso, a AIDS, o PROZAC, a pobreza, os embargos econômicos. Por isso, o sexismo. Por isso, os dogmas, os tabus e os milagres. Por isso, DEUS.

Enfim, contra tudo isto, regozijemo-nos com A alegria do mal!

***

Para uma pessoa que entende o pensamento como um instrumento e como o objeto do seu trabalho, é muito difícil ler uma obra poética ou ver uma obra de arte sem refletir e sem manifestar a sua posição sobre as mesmas. Muito mais difícil é quando, numa reunião de poemas, encontra linguagens que ora se cruzam, ora se misturam, ora se justapõem, ora se destroem para, numa linguagem múltipla, falar de um único objeto - o homem - e, dela, apreender a totalidade que enceta.

Há algum tempo, sigo lendo a poesia de José Emílio-Nelson. Normalmente, e isto é trágico, sentimo-nos mais à vontade para falar da poesia dos mortos. No presente caso, felizmente, o poeta está vivo o que, dependendo de quem o lê, pode ser bom ou mau. O homem que o abriga sai da sua casa, diariamente, para trabalhar, para ler e recolher a matéria-prima necessária para o poeta experimentar o labor que o aproxima de nós, e que o humaniza e que nos humaniza também. Pode-se dizer que a sua poesia faz, verso a verso, este registro e esta integração. Da arte de Mantegna[i] (pode-se constatar no poema citado) ela recolhe um antagonismo radical. Por um lado, o religioso e, por outro, o grotesco, o extravagante e virtuoso num contraponto entre o divino e o terreno (a monumentalidade na construção da obra do escultor e pintor, com o intuito de exaltar o terrífico, é tentado, através dos sons e dos versos, por Emílio-Nelson). Além do mais, há entre ambas a voracidade em apreender o objeto em todas as suas dimensões, tornando-o cativo do fazer e do ser humano. Ambas criações são hereges. Todavia, herético é aquele "que escolheu". Assim, não é possível uma coisa sem negar outra já conhecida. Este é o caminho dos criadores em questão. O poeta identifica-se com o pintor que o antecede em tantos séculos, no ponto onde secularizam o divino, sacralizando o homem. Ambos reforçam a antiga missão: renegam[ii]. Obedecendo a esta dialética, eles realizam as suas artes. Para a poesia em questão, este é o culminar de um percurso que iniciou com um olhar diário do poeta à mesa do pai e das viagens de criança ao Museu do Prado. Para Mantegna, o culminar dos longos anos que perfazem o Medievo.

Há pouco tempo, nas livrarias de Portugal e nas Fenac´s, através das Edições Quasi, chegou ao conhecimento do público português a obra A alegria do mal: obra poética I (1979-2004), com uma introdução bastante trabalhada de Luís Adriano Carlos e a capa belamente composta de António Quadros Ferreira, a partir de gravuras de Mantegna. Estes dados devem ser observados. Através de uma introdução, que quase se constitui à parte da obra, e de uma montagem, a partir do pintor renascentista, os poemas apresentam-se como que recobertos por uma proteção e apontando numa direção, entretanto, que não se pode considerar única.

De gesta expressionista, os versos de Vida quotidiana e arte menor[iii] reúnem-se para dar conta de um cotidiano que, à maioria das pessoas, é indiferente. No entanto, perfeitamente reconhecível quando os lemos. Mas esta é apenas uma das perspectivas pela qual o poeta projeta, filtra e lapida o seu objeto, pois, como registra Mexia[iv], a sua poesia revisita um cânone extremo, mas também elabora um mundo pessoal, presente, reconhecível, demoníaco, sacro, mitológico. Por seu lado, Adriano Carlos afirma que, com Emílio-Nelson, nasce uma das poéticas mais originais da poesia portuguesa[v]. De fato, é reconhecível que se trata de um poeta muito culto e que é necessário um instrumental teórico bastante consistente para compreendê-lo; é verdadeiro que a sua poesia, de si hermética (muitas vezes profética), exige sensibilidade, entrega e quase devoção (talvez na mesma intensidade da do seu criador); também é verdadeiro a novidade da sua abordagem, como também é original a sua insaciabilidade em arrecadar todos os oferecimentos possíveis, o que faz com que um mundo circular se nos ofereça as suas inúmeras entradas, mas que nos conduzem sempre ao mesmo ponto (não é apenas a palavra que requer a atenção do poeta, pois um mundo visual-plástico e sonoro abre-se diante dos nossos olhos), com o intuito de tudo capturar e identificar, de tal forma que a sentimos exaurir-se diante dos nossos olhos e do nosso pensamento, entregando-nos o objeto sem mediação, e tudo isso com um único fim: descarnar seu objeto sem, no entanto, desprezar que este somente se reconhece como ser-no-mundo.

Alguns critérios são exigidos para uma boa leitura. No caso da poesia de A alegria do mal, a melhor forma de lê-la é através da ruminação. Talvez esta seja a atitude do poeta, pois, antes de qualquer coisa, é pelos sentidos que ele se informa sobre o mundo. Aí começa a sua recolha. Na segunda fase, o entendimento realiza a tarefa de separar, aprofundar, formular e garantir a totalidade que se apresenta na obra poética. Ao leitor não resta outra solução senão sentir, experimentar, fazer agir o entendimento e totalizar-se. Neste sentido, ler, reler, constituir, reconstituir congrega laços que aproximam e irmanam o poeta e o leitor. E ambos, no mesmo círculo, fazem o mesmo caminho. O círculo identifica a poesia que vimos falando, justamente porque sentimos a sua ânsia em expor-se em todas as suas perspectivas e de oferecer-se a quem aceita o convite de acompanhá-la no percurso do homem no mundo. A sensação que experimentamos ao lê-la pode, mais ou menos, ser esta: a presa é capturada e o seu caçador, girando à sua volta, a examina, evitando que lhe escape qualquer fragmento ou por ela ser devorado. É com lupa que a olha; é com receio de ser tragado que se aproxima, afasta-se, toca-a, enfim, rumina. E nós temos que adentrar no caminho que ela oferece: O círculo?

Leia o texto COMPLETO, no blógue da autora "Brincadeira, ardil e vingança"

Sobre o Autor

Neiza Teixeira: Sou Neiza Teixeira. Nasci na ilha de Parintins, no rio Amazonas, no mês de Setembro, dia 17. Portanto, sou de virgem. Acredito no acaso e, como Tales de Mileto, acredito que tudo está pleno de Deuses. Sou Professora de Filosofia. Gosto, principalmente, de ficar em casa escrevendo, lendo, ouvindo música, assistindo filmes ou dormindo. Amo a Natureza. Gosto da chuva, amo o sol, amo as flores, mas gosto do barulho das cidades. Uma das coisa que mais gosto é viajar; adoro a Alemanha; meu maior desejo, se me fosse possível realizá-lo, seria viver para sempre; ambiciono muito um dia escrever bem; sempre gostaria de ser boa amiga para os meus amigos e, quem sabe, algum dia alcançar a sabedoria da Blimunda; também, talvez deseje encontrar alguém absolutamente conforme as minhas exigências, que não são poucas. Por isso, penso que estou condenada a procurar.Não quero um animal de estimação; quero uma casa cheia de livros, cds, filmes, bom vinho, boa comida, alguns amigos e, se voltasse no tempo, com meus filhos dormindo comigo, como na infância deles.

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