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ENTREVISTA => José Aloise Bahia: "os ares de Minas são muitos"

por Rogério Miranzelo *
publicado em 04/10/2006.

José Aloise Bahia é um agitador cultural em Belo Horizonte. Nasceu em Bambuí (MG), em 1961, mas na capital mineira é que vem construindo sua trajetória como poeta, pesquisador e colecionador de artes plásticas, além de participar ativamente de vários eventos culturais e de sites de literatura. Autor do livro de poemas Pavios Curtos (anomelivros, 2004), participou da antologia O Achamento de Portugal, da mesma editora, que reuniu autores portugueses e mineiros. Tem uma queda para a poesia visual e a poesia concreta, mas seu apuro técnico na poesia de um modo geral o leva a resultados de grande qualidade. José Aloise concedeu esta entrevista ao escritor Rogério Miranda, especialmente para o site Verdes Trigos.

1) Cite e comente algum autor ou livro que tenha sido fundamental na sua descoberta da literatura como algo maior e imprescindível.

José Aloise: Sempre temos os nossos prediletos. Autores e livros clássicos, de cabeceira e canônicos. Todavia, tenho aprendido a valorizar com mais intensidade algumas leituras, livros e autores contemporâneos. Descobertas e redescobertas. Como, por exemplo, Ronald Polito, Wilmar Silva, Fabiano Calixto, Cláudio Daniel, Orides Fontela, Ricardo Corona, Adília Lopes, Jovino Machado, Cláudio Willer, Francisco Alvim, Fabrício Marques, Anízio Vianna e muitos outros. Os livros A Idade da Escrita e Outros Poemas da lusitana e quase octogenária Ana Hatherly e Poemas (1975-2005) do mineiro Júlio Castañon Guimarães são muito bons. O mundo da literatura é tão vasto e plural, que somente no ano passado tomei conhecimento e li um belíssimo livro de poesia do paulista Cláudio Daniel, Figuras Metálicas. Há também a poesia visual - outro ramo da poesia que gosto de explorar - da Ana Hartherly. O jogo da antítese (claro/escuro) lembra o ornamental e um eterno duelo da emoção que confessa a procura de uma substância viva através das imagens. Eu sinto isso nos poemas visuais dela: uma procura do invisível através do visível e vice-versa, no qual o poeta se revela e se esconde. Tudo é quase. Um agreste que incendeia os olhos. O mapa da sua poesia é o fim da noite.

2) Em seu poema "Noturno azul e vermelho", cujo início transcrevo abaixo, há referências de forma, temporais e pictórias, e uma relação passado/passageiro. Poderia comentar este poema, falar de sua relação com as artes plásticas e dizer o que o leva a escrever poesia?

"Foi assim no vosso convívio
um hóspede passageiro,
obscuro como uma casa
sem portas e janelas,
escravo do passado
atados a nós amargos.

Tão longe, uma agonia
num adorno de aparências,
e no seu mundo invisível
asas pela metade em azul
cobalto, um medo
incompreendido".

José Aloise: É! Determinados poemas acontecem de acordo com o tempo, o clima, a condição, o estado de espírito e alguns envolvimentos emocionais. Sejam descobertas, redescobertas ou decepções. Ou até uma tentativa de aproximação através de imagens e metáforas. É bem procedente a sua leitura. Somos viajantes e passageiros. Viajantes numa determinada via estética que quer enxergar alguma coisa bela naquilo que é nebuloso, desfigurado ou feio. É claro que as categorias do belo e do feio são absolutas e relativas de acordo com os vários sentidos do tempo em que se vive. Já o colecionador de artes plásticas lida com a difícil possibilidade do resgate da memória. Como falou Walter Benjamin: "Toda paixão beira o caos, a do colecionador beira o caos da memória". Talvez seja o meu caso em relação às artes plásticas e às questões do amor, no qual tenho todas as idades da lua em movimento e navego nos signos possíveis e passageiros para um determinado encontro. O desejo do encontro com o outro. O desejo do encontro tortuoso na tentativa desvairada com o outro. Aí entra a poesia, pois uma das possibilidades da poesia é a tentativa de (a)tingir o outro, seja através de laços ou nós amargos. A poesia é uma viagem de máscaras caídas ao vento... Uma tentativa de eternidade atada a nós amargos. Cabe ao leitor estabelecer os laços e cruzar os mares, mesmo que o barco afunde...

3) Você está constantemente envolvido em eventos culturais, e o faz com afinco e desprendimento. A editora do site Germina www.germinaliteratura.com.br) o saudou como um mineiro extremamente solidário. Esse seu envolvimento com a arte é uma questão de amor, de crença, é um vírus, o que é?

José Aloise: Faço por desejo e necessidade. Pela espiritualidade do Verbo e da Carne. A minha natureza ou condição humana é assim: compartilho de uma estética comunal. Busco sempre agregar o outro em minhas experiências. Tenho a necessidade do outro como tenho a necessidade da palavra. Esse comportamento solidário é muito importante, pois estamos perdendo uma certa idéia de coletividade. De ajuda. De compartilhamento. A crença no outro é a crença em mim mesmo: por mais estranho que o outro seja, ele habita o meu ser, minha história, minhas compaixões, meu desejo mal ou bendito em servir... Ajudar a literatura, a poesia, divulgar o outro, isso é o que importa. Em política, o meu partido é o Partido da Solidariedade. Senão o mundo fica muito pequeno.

4) A poesia mineira tem um forte passado e continua viva. Ela tem futuro?

José Aloise: Minas é um celeiro... Um mar de poetas dentro de uma ausência declarada. A falta desse mar, dessa coisa física e aberta que transporta pessoas. Alguns acham que as montanhas de Minas são as coisas mais importantes e simbólicas. Na minha opinião, o futuro de Minas está no ar. Nesse ar de diálogo com os antepassados, com a história, com o lugar. O ar de Minas não é doce, é carregado, salgado, é a matéria-prima do poeta. O ar de Minas está impregnado de palavras e ecos que acompanham a gente pelo resto da vida. Relembrando Guimarães Rosa e fazendo um trocadilho: os ares de Minas são muitos, pois aqui tem história e um povo que sente a necessidade das palavras em movimento. A poesia navega pelos ares de Minas. E quando bate de viés na montanha vira conto, prosa, novela e romance.

Sobre o Autor

Rogério Miranzelo: Rogério Miranzelo (Belo Horizonte/MG) nasceu em 1961. Escritor e jornalista, colaborou em vários jornais, revistas e sites do Brasil, com crônicas, artigos e resenhas. É autor dos livros "Lua Diferente" (poemas - 2007) e "Belo" (crônicas - 2004).
www.miranzelo.com

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