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LUTA CONTRA O CONSUMISMO
por Rubens Shirassu Júnior
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publicado em 26/07/2003.
Um dos primeiros textos do livro, O Discurso dos Cabelos, originalmente publicado no Corriere della Sera em 1973, fala de "seres monstruosos" que Pasolini viu no Irã, seres parecidos com seu suposto assassino Pelosi, proletários que se pretendiam filhos de burgueses pródigos. Essa falsa imagem, mais do que um equívoco, exprime o espírito de uma abominável mutação, que não é genética, mas histórica. Essa atitude isolacionista dos jovens iranianos, rejeitando seus pares, é condenada por Pasolini mesmo antes do advento do "cromatismo" tribal americano (vide a guerra das cores em Colors, de Dennis Hopper). A contrapartida "reacionária" fica por conta da redução dos "cabeludos" a estereótipos de debilóides a proferir discursos dislógicos, quando Pasolini conhecia o perigo da generalização (um exemplo disso é que Julian Beck, diretor do Living Theater, que fez o cego Tirésias em Édipo Rei, estava longe de ser um imbecil.)
A defesa apaixonada de um mundo pré-moral, bárbaro (no sentido religioso), é na verdade, a mensagem subliminar de quase todos os artigos de Os Jovens Infelizes. Ao analisar uma campanha publicitária do jeans Jesus ("Não terás outro jeans além de mim"), Pasolini acusa os industriais de representarem o "novo poder laico" que coloca por terra qualquer possibilidade de sobrevivência do humanismo. Há uma religiosidade na poesia dialetal que seu companheiro Cesare Zevattini não percebe em seu livro "Stricarmín d´na Parola" (Restringir-me a uma Palavra), embora Pasolini seja generoso com ele, poupando o escritor e roteirista de críticas mais duras do que uma simples fobia homossexual.
A generosidade se transforma em conselho ao escritor Ítalo Calvino, que condenava em Pasolini sua nostalgia do mundo agrário. Calvino escreveu que não conhecia os jovens fascistas aos quais o cineasta se referia em suas críticas, a quem nem pretendia conhecer. A resposta de Pasolini é brilhante. Esses jovens fascistas, segundo ele, não nasceram para ser fascistas. "Talvez uma simples experiência diversa na sua vida, apenas um simples encontro, tivesse bastado para que seu destino fosse outro". A cultura, diz, "produz certos códigos, que produzem certo comportamento". É na linguagem que deriva desse comportamento que está a ponte ou o precipício para os jovens infelizes.
Sobre o Autor
Rubens Shirassu Júnior: Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.É o autor da coluna OLHO MÁGICO na VERDES TRIGOS.
Contato: jrrs@estadao.com.br
Veja também o "ORIENTE-SE: Manual de Procedimentos no Japão"
Edição Independente de Rubens Shirassu Júnior
Site do Livro: http://www.stetnet.com.br/orientese/
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