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O Ajudante

Robert Otto Walser*

Ainda pouco conhecido no Brasil, Robert Walser é um dos expoentes da literatura pitoresca e popular. Reconhecido por críticos como um dos mais importantes nomes suíços da primeira metade do século XX, Walser era uma personalidade excêntrica. Toda sua excentricidade foi impressa nas obras que escreveu, por isso, tudo em Walser é autobiográfico.

O ajudante não é diferente. Um dos três romances mais belos do autor, O ajudante, confirma o estilo peculiar, repleto de monólogos irônicos, que fogem da concepção habitual da ficção. Os personagens de Walser são comuns, mas nem por isso pouco interessantes. Pelo contrário, as pitadas de ingenuidade e certa distância da realidade, os tornam únicos e bem engraçados.

Walser era o autor preferido de Kafka, alguns críticos afirmam encontrar uma grande proximidade com o autor, em obras como O castelo. Os textos de Walser são recheados de um humor sutil e talvez até dócil, o que pode ser interpretado como uma alienação perante o mundo. Na verdade, o autor toma uma postura irônica diante do século XX, vendo com desconfiança um século, no qual, a competitividade entre o ser humano exacerbou-se.

O ajudante foi escrito em 1908, quando o autor morava em Berlim, junto com o irmão, artista plástico. Por essa razão, pode-se dizer que suas obras têm traços vanguardistas, cujas inquietações demonstravam a preocupação da arte aliando-se à vida.

A obra conta a trajetória de Joseph, um empregado que vai trabalhar num escritório técnico, cujo dono é o Sr Tobler. Joseph é um " faz tudo" e aos poucos torna-se não só confidente, como parte da família, ajudando na educação dos filhos de Tobler, tomando as mais diversas decisões que caberiam ao engenheiro. Joseph assiste à decadência dos negócios nos oito meses em que permanece na casa dos Tobler e acaba tendo um relacionamento com a mulher deste. É aí que a vida de Walser mescla-se com a de Joseph, o autor também foi ajudante de um engenheiro, quando jovem.

A beleza da narrativa de Walser é justamente o fato de transcorrer sempre no mesmo tom e de preservar a "atemporalidade", em que nada tem nome ou data. O texto é coberto de delicadeza, o que não quer dizer que é extremamente fácil e é aí que se descobre o primor de um ser humano, que se vale de um humor que talvez não tivesse na realidade - sua vida foi dura, viveu miserável por um bom tempo e passou longos anos num sanatório.

Robert Walser nunca foi muito reconhecido no mundo literário ocidental, até o famoso ensaio de Walter Benjamin em 1929 ( que só veio a ser traduzido aqui em 1980), no qual afirmava não existir quase nenhum registro sobre ele, talvez por ser um autor de raízes populares ou pouco entendido. Roman Polanski chegou a dizer que as línguas eslavas têm um humor pouco absorvido no ocidente. Duas célebres frases de Walser podem explicar sua personalidade e o cerne de suas obras, que Benjamin acreditava ser a modernidade tratada como um conto de fadas desencantado: "Assusta-me a idéia de ter sucesso na vida" e "Eu não quero ter um futuro, eu quero ter um presente". Além de Kafka, já o leram Thomas Mann, Elias Canetti e Christian Morgenstern, entre outros.

"Quase um século depois, quando o mundo inteiro redescobre uma obra esquecida em seu tempo, mas surpreendentemente afinada com as inquietações desse início de milênio, o público leitor brasileiro vai conhecer o autor preferido de Franz Kafka e comentado pelos grandes da época", afirma Zé Pedro Antunes, tradutor da obra.

O ajudante é uma obra, na qual, podemos ver o ser humano, de maneira verdadeira, em sua condição mais pura.

Sobre o Autor

Robert Otto Walser: Robert Otto Walser nasceu em Biel, Suíça, em 1878. Aos quatro anos de idade, seu pai morre e ele se vê diante da esquizofrenia da mãe que, mais tarde, suicida-se. Entre 1894 e 1904, Walser muda-se diversas vezes de cidade, trabalha em bancos, seguradoras, ajuda nos serviços domésticos na casa de uma senhora judia e secretaria o engenheiro Dubler, que serviria de modelo para Tobler, de O ajudante.
Após vários poemas de sua autoria terem sido publicados em jornais, sem que seu nome fosse citado, Walser acabou despertando a atenção de Franz Kafka e, em dois anos, escreveu três grandes romances: Geschwister Tanner (Os irmãos Tanner), Jakob von Gunten e O ajudante.
Em 1933 ele se interna em uma clínica psiquiátrica e pára de escrever, morrendo em 1956.

 

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