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RESENHAS
A volta do conto
Manoel Hygino dos Santos*
De pequenas editoras em diversas regiões do país, surgem publicações que confirmam a inclinação, na atual literatura brasileira, da explosão do conto, gênero que tem apontado autores de inegável carpintaria. A opinião é de Ronaldo Cagiano, também contista, poeta e crítico literário.
O julgamento é com referência a Lima Trindade, já que comentado, e autor de «Todo Sol mais o Espírito Santo» e «Supermercado da Solidão». Nascido em Brasília, com 38 anos, vive em Salvador, há algum tempo, dedicou o «Todo sol» a esse gênero, menor em dimensão, mas não em qualidade de produção. Sobre ele, disse Cagiano no site Verdestrigos, que «tem tutano e fôlego para novos e ousados vôos».
Há predominância na publicação de livro de contos. Pelo menos, é o que me parece, levando em consideração o grande número de volumes que me chegam regularmente. Aliás, edita-se bastante no Brasil, em todas as regiões e são produtos, quase sempre, de bom nível. O de que mais se precisa são os leitores, desviados a outras formas de lazer, por sinal nem sempre as mais sadias.
Houve tempo em que se menosprezava o conto, como até se julgava a crônica escrito de méritos menores. Conceitos errados. Escrever bem não depende da dimensão do produto. Há os bons e os maus, canso-me de falar, e ando bem acompanhado no juízo que faço.
São inúmeros os que não têm tempo ou disposição para ler um romance, de cabo a rabo, por exemplo. Até mesmo uma novela. Então, a saída está no conto, que encerra as mesmas exigências de princípio, meio e fim. Pode-se lê-lo no metrô ou no ônibus, enquanto se espera a vez de ser atendido pelo médico ou pelo dentista.
Ademais, existem contos que são primorosas obras de redação e conteúdo. Que esse gênero renasceu, e com força, não há dúvida e reconhece-o Wilson Martins, expoente da crítica literária brasileira. Já em 1986, ele registrava que o conto voltara, mas observando que perdera boa parte da vitalidade que ostentava nos anos 60 e 70.
A maioria dos concursos no país no gênero ficção é de contos, o que demonstra o seu prestígio. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, constitui predomínio, o que é bom para quem a ele se dedica, esperando sua vez ao sol, e evidentemente para as editoras, que não querem perder dinheiro.
Agora mesmo, a ANE _ Associação Nacional de Escritores e a Thesauras Editora instituiu o Concurso de Contos ANE, destinado a premiar uma obra inédita do gênero, podendo concorrer qualquer brasileiro, nato ou naturalizado. Aliás, o prazo para entrega do trabalhos se está esgotando. Podem ainda concorrer os que fizeram chegar os originais à ANE, em Brasília. Para obras remetidas pelo Correio, a data de postagem será considerada de inscrição.
O fascínio pelo conto se manifesta, aliás, na própria «antologia do Conto Brasiliense», que o mineiro Ronaldo Cagiano cuidou de organizar com todo carinho e que a Projecto Editorial lançou, em grande estilo, em 2004.
Segundo Cagiano, seu trabalho «buscou a pluralidade na escolha dos nomes, refletindo a atmosfera heterogênea da criação literária em Brasília», uma cidade nova que acolheu bons autores anteriores à sua fundação e gerou novos contistas. A obra «oferece a possibilidade de cotejar vários estilos e tendências formais e conceituais, com a intenção também de firmar a memória literária, em um amplo registro que servirá, no futuro, de valioso material para pesquisadores, estudantes e leitores».
Para se avaliar como o gênero é fecundo, lembraria que são 83 autores, ponderável parcela premiada em prestigiados concursos no Brasil e exterior. Logo, gente que sabe o que faz e como fazer. Não se trata, ademais, de uma primeira coletânea de contos brasilienses, mas a quinta. Assim, Brasília é quase uma espécie de conto... de fadas, para quem para lá se transferiu nestas décadas desde sua fundação. O conto não privilegia o que nasce aqui ou ali. É universal, é brasileiro também, claro.
Sobre o Autor
Manoel Hygino dos Santos:
*Jornalista e escritor. Membro da Academia Mineira de Letras, cadeira n. 23.
Livros publicados:
Vozes da Terra , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 1948 , Contos e Crônicas
Considerações sobre Hamlet , Ed. Imprensa Oficial de Minas Gerais , Belo Horizonte , 1965 , Ensaio Histórico – Literário
Rasputin – último ato da tragédia Romana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1970 , Ensaio
Governo e Comunicação , Ed. Imprensa Oficial , Belo Horizonte , 1971 , Monografia
Hippies – Protesto ou Modismo , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1978
Antologia da Academia Montes-Clarense de Letras , Ed. Comunicação , Belo Horizonte , 1978 , Coordenação de Yvonne de Oliveira Silveira
Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1979 , Ensaio
No rastro da Subversão , Ed. Faria , Belo Horizonte , 1991 , Ensaio
Darcy Ribeiro, o Ateu , Ed. Fumarc , Belo Horizonte , 1999 , Biografia
Notícias Via Postal , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 2002 , Correspondências
E-mail: colunaMH@hojeemdia.com.br
Matéria originalmente publicada no Jornal "Hoje em Dia", Belo Horizonte/MG
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Domingos Pellegrini nasceu em Londrina, no Paraná, cidade em que vive até hoje, cuidando de uma chácara, de sua literatura e escrevendo para um jornal local. Jornalista e publicitário de formação, publicou em 1977 seu primeiro volume de contos - exatamente o premiado O homem vermelho. Leia mais