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"Estão todos aqui" confirma talento de Alexandre Brandão

Ronaldo Cagiano*

Depois de dez anos de sua estréia, Alexandre Brandão oferece uma nova safra ficcional em Estão todos aqui, livro que reúne quatro contos e uma novela, enfeixados por um caprichado projeto gráfico da coleção Novo Conto Novo, da editora Bom Texto.

Detido numa fiel abordagem dos territórios afetivos, o autor prescinde de um apelo à acrobacia da linguagem - recurso muito em voga na prosa atual e que serve apenas para escamotear a falta de talento - concentrando-se na trama, na elaboração de uma história que tenha foco no humano e suas múltiplas re(l)ações cotidianas. Trata dos dramas e dificuldades psicológicas do ser dentro de uma perspectiva estética em que as perdas e os fracassos são evocados com sutileza sentimental, ao mesmo tempo em que impinge certa dose de humor, em contraponto à dureza dos conflitos.

Percebe-se que o autor não se contaminou pela angústia do processo criativo, que muitas vezes mancha ou aborta carreiras literárias em razão do afã editorial. Essa longa e profícua hibernação é sintoma da busca de uma identidade, não de um estereótipo. Desde Contos de homem (Ed. Aldebarã, 1995), sua literatura vem num crescendo, sem favor às facilidades ou influxos de uma estética da diluição ou requentamento de fórmulas, o que muito têm rotulado a prosa e a poesia em nosso país.

Nos primeiros contos de Brandão, o gaúcho João Gilberto Noll prognosticava uma grande promessa literária, reconhecendo que o autor 'não vem apressado para os líricos abandonos da raça; ele reluta em aderir assim, sem mais, às liturgias primordiais que a tudo consolam, pois como profundo escritor, quer ir muito além'. Os novos trabalhos confirmam essa percepção e garantem a consolidação de uma obra preocupada com a realidade.

Refletindo sobre a nossa condição, não encarna uma visão sublime da vida, mas constata que a solidão, a incomunicabilidade, os desencontros e desencantos, os amores desfeitos e as vidas precárias ou interrompidas são alguns sintomas da modernidade, ingredientes que habitam o inóspito cotidiano de nossas vidas. Com uma dicção que não se exacerba nas tintas ao denunciar esses mundos e a atmosfera claustrofóbica dos personagens, esse trabalho é um desdobramento do próprio olhar do autor sobre o vazio existencial.

O conto brasileiro, que nos últimos anos vem experimentando um novo 'boom' semelhante à ebulição da década de 1970, tem possibilitado o conhecimento de novas vertentes e linguagens e nesse cipoal de títulos e autores, ainda é possível separar o trigo em meio a tanto joio.

Alexandre Brandão, mineiro de Passos, radicado no Rio de Janeiro, é uma das revelações dessa nova geração. Não faz literatura como mero figurante, nem vai permanecer porque tem a homologação artificial de alguma crítica apaniguadora, mas porque seu projeto literário sustenta-se pela densidade, perseguindo a qualidade e privilegiando a harmonia entre a forma e o conteúdo. É um autor que, silenciosamente, vem construindo uma fecunda trajetória, demonstrando não apenas domínio da narrativa, mas provando que tem tutano para continuar no páreo e alçar vôos mais altos. (Ronaldo Cagiano)

Sobre o Autor

Ronaldo Cagiano: De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.

Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.

 

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