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Poetas Românticos, críticos e outros loucos

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Introdução do LIVRO
de Charles Rosen

As palavras não ficam paradas. Alteram seus significados, deslocam-se do elogio para a reprovação, corrigem suas associações. Em nenhum momento as palavras se tornaram tão escorregadias como no início do período que às vezes chamamos romântico. Estes ensaios, escritos ao longo de vários anos, goram uma tentativa, não de fixar alguns daqueles significados alterados, mas de tomar consciência da trajetória do caminho percorrido por aquelas mudanças. O renascimento religioso da época antes transformou que restaurou os padrões religiosos tradicionais do passado. A loucura e o pensamento irracional adquiriram novo prestígio sem espalhar o horror e a angústia que sempre os acompanharam. Modificou-se radicalmente o senso do sublime; gêneros que teriam sido considerados inacessíveis ao sublime, com cartas íntimas, ou poemas morais para crianças e música de dança, converteram-se em veículos importantes para o estilo grandioso. Até manuais práticos como livros de receitas culinárias passaram a ser obras de arte.

A visão tradicional da crítica era quase irreconhecível após o primeiro romantismo alemão. As diversas funções da crítica já não eram tão claras como se tinha pensado ou esperado. A crítica jornalística deixou de ser uma atividade servil: ao se tornar moda dominante, corroeu as altas pretensões que estavam reservadas às formas de maior imponência.

Sempre me deixei fascinar pela ambigüidade da crítica nas artes. Será que ela nos capacita a fruir melhor as obras? Até que ponto é capaz de nos dizer a respeito das obras algo pertinente que já não saibamos? Baseia-se ela em experiências e conhecimentos particulares ou está franqueada a todos os leitores, ouvintes ou espectadores? Se o profissional entende mais que o armador leigo, qual éo valor desse entendimento? Quase todos esses problemas e pseudoproblemas adquiriram importância quando o círculo de Jena, dos Schlegel, Novalis e seus amigos, questionou a base do julgamento estético objetivo. A despeito dos esforços de alguns filósofos e críticos como Heinrich Schenker, E. D. Hirsch e Harols Bloom no sentido de restituir a importância da objetividade, estas perguntas não perderam sua força. Estes ensaios, em sua maioria, lidam com a bem-vindavariedade de enfoques da arte. Fascina-me em particular a forma de crítica que tenta descobrir um segredo não percebido antes por nenhum outro observador. Incluí breves exames de alguns desses projetos: o esforço por revelar uma iconografia secreta nos quadros de Caspar David Friedrich, ou códigos numéricos e alfabéticos ocultos em Schumenn, ou referências bibliográficas encobertas em Schumann e em Wordsworth. Igualmente interessante é a crítica que diz revelar estruturas sistemáticas que só inconscientemente são percebidas em obras de arte: Urlinie de Heinrich Schenker ou os enterrados padrões sintáticos de Roman Jakobson.

É compreensível que um crítico deseje dizer alguma coisa original, revelar um aspecto de uma obra que pareça completamente novo. Esse desejo é inevitável e em grande parte benéfico, mas o estatuto de um sentido privado naquilo que sempre foi apresentado como obra pública tem um caráter peculiar que precisa ser levado em conta. Em alguns casos é pernicioso, em outros é esclarecedor, mas raramente é simples.

Ao reunir estes escritos, deixei-os intocados, salvo quanto à correção de um desastroso erro tipográfico. Não pretendo atribuir nenhuma antevisão factícia a estes ensaios, nem injetar quaisquer observações sobre a mais interessante das tendências recentes. Achei mais honesto tentar atualizá-los acrescentando-lhes um pós-escrito sempre que uma justificativa ou reconsideração pareceu aconselhável, ou quando era mister registrar desdobramentos subseqüentes. No ponto em que alguma parte da análise se mostrar datada, espero que o leitor tenha prazer em observar um certo aroma de época.


Ganhador do Prêmio Truman Capote de 199 por crítica literária.


Poucas pessoas se igualam ao refinamento e discernimento de Charles Rosen, seja como pianista, estudioso de música ou crítico. Aqui, ele faz uma demonstração de crítica literária como arte superior, uma habilidosa crítica do período romântico por meio de alguns de seus principais textos. Ao fazer uma comparação sagaz ou uma justaposição surpreendente, Rosen nos abre novas perspectivas.

Prazer é o mote deste extraordinário livro de ensaios que só pressupõe, da parte do leitor, uma disposição: a de se divertir e saborear os inteligentes e inovadores passeios pelas artes românticas do romance, poesia, conto, pintura e música, conduzidos pela cabeça privilegiada de Rosen. Mas sigamos seu raciocínio... Em nenhum momento as palavras se tornaram tão escorregadias como no início do período que as vezes chamamos romântico...

Rosen jamais barateia as questões,mas também amais deixa a escrita escorregar para o hermetismo que afasta a maioria dos leitores potenciais. Ao contrário, todos podem curtir e sair culturalmente enriquecidos saboreando a graça e profundo conhecimento com que maneja questões tão distantes como a função dos anagramas e palavras cruzadas, que Schumann adorada, em sua obra. (João Marcos Coelho, Caderno 2, O Estado de S. Paulo, 03 de Outubro de 2004.)

Sobre o Autor

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