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Buena-dicha...

Neide Maganhas*

Neide Maganhas nos encaminha seu livro "Buena-dicha..", a saga de uma família andaluza, dos Blas, que possui inúmeros descendentes no Brasil. De Tabernas, uma região extremamente seca e árida, um lugarejo no meio do deserto, de ruelas estreitas, casas brancas com forte influência islâmica, inicia-se a saga de Milagros e José, que lá permanecem em noites de lua cheia para alimentar os gatos abandonados.

Henrique Chagas
verdestrigos.org


Buena-Dicha

"Autodidata desde cedo, seu hobby é a escrita.

Escrever é uma terapia, faz-me perceber o mundo, seus medos, anseios, expectativas, coragem, alegria. Somos realmente todos iguais, diz ela.

Escreve o que gosta e quando acha que é preciso - como é o caso de seu primeiro livro, a produção independente, Sob o olhar da Pedra Grande, onde, em forma de crônicas, descreve alguns fatos que marcaram sua vida. Fala sobre sua infância, juventude e parte de sua vida adulta, expectativas e, claro, sobre o discernimento.

Seu segundo livro, Mundo Paralelo, editado em 2001 pela Editora Madras, foi escrito depois que seu filho mais velho, Willian, morreu tragicamente aos cinco anos de idade. Conta a trajetória da curta vida do filho que, mesmo depois de sua morte, partilhou ainda com ela uma experiência pouco comum, de amor e amizade sem fim.

Mundo Paralelo foi escrito com a finalidade de ajudar tantos outros pais que perdem seus filhos e não conseguem alcançar o consolo desejado. Minha experiência, apesar de cruel, deu-me uma fé em Deus que eu realmente não possuía e consolo ao saber que não estamos aqui neste mundo como turistas. Existem caminhos misteriosos. Devemos aprender a prestar mais atenção naquilo que nos parece inimaginável, pondera a autora.

Após esse fato lastimável, Neide Maganhas desenvolveu uma enorme vontade de amar a todos, como a si mesma.

Aprendemos isso desde cedo, mas, de forma alguma, colocamos em prática. A vida, por si só, nos restringe certas virtudes, mas tento, na medida do possível, fazer o melhor que posso por aqui, desejando sempre o melhor para todos do planeta e acredito que, se todos quiserem isto, muitos problemas serão resolvidos. A falta de boa vontade é lamentável, continua a autora.

Seu novo livro intitulado, curiosamente, Buena-dicha, conta a saga de uma família espanhola, temperada com o humor peculiar da autora e recheado de magia e misticismo, mas sempre com um final feliz para todos, sua condição básica para desenvolver uma história. Ficção e realidade: Buena-dicha é a história da família de meu pai, que teve início na Espanha do século passado e um final já aqui no Brasil, intensa e cheia de paixões por si só. A ficção fica por conta da minha imaginação em tentar achar boas desculpas para a vida. Gosto de pensar que o divino, o mágico, o irreal contribui em nossos destinos, sorri a autora.

Buena-dicha ainda não foi editado; espera avaliação de algumas editoras brasileiras.

Sinto que este livro me trará grandes alegrias. É bonito, comovente. As pessoas, de um modo geral, se interessam em saber sobre a trajetória de uma família, principalmente, com direito a um grande final. Todos temos grandes histórias para contar. No Brasil, a maioria possui antepassados vindos de alguma outra parte do mundo, assim, nossa história de vida está repleta de relatos interessantes, ricos em beleza, experiências, que valem a pena serem compartilhados, conclui a autora."

[Trechos] do prólogo

Agora, Milagros era responsável pela propriedade. Tinha permissão para tudo. Mandar e desmandar. Entrar e sair, assim como, comprar ou vender o que quer que fosse, somente com sua autorização. Correta e trabalhadeira. Com sua estatura pequena, ancas largas, rosto muito moreno e com a contínua fisionomia de desconfiança. Milagros. Quem saberia dizer sua origem?

José também ainda trabalhava por ali e, juntamente com Milagros, cuidava para que tudo caminhasse direito, apesar de tudo. Os dois criados estavam ali desde o começo. Chegaram à mesma época. Os dois muito jovens ainda, porém, o tempo e o vento talharam seus rostos com fúria e adquiriram uma pele grossa com aquela estranha coloração.

De calças listradas e sempre menores do que precisava, camisas amareladas e suspensórios, José era feio que só. E muito exagerado no que fazia ou falava.

Figuras engraçadas, cheias de trejeitos inusitados que divertiam os que se aproximavam deles. Os dois, de total serventia e confiança, ainda mais nesta época de total isolamento e tantas fagulhas.

- ...Mea culpa ...mea culpa... fiat voluntas tua... (Minha culpa... minha culpa... que seja feita a tua vontade...) - murmurava Milagros, batendo a mão no peito, esperançosa por perdão.

- Viu? Não tem nada... Não ouço nada... Imagine se dá para ouvir... - sussurrou José, de cara feia.

- Eu escuto e você não? Esse porta-jóias nunca mais funcionou, por que só eu estou escutando? - questionava Milagros.

- Porque é doida! Vamos embora daqui!

Parado e sem saber o que fazer, José se assustou ainda mais quando Milagros entrou no quarto aos tropeços, pálida e sem poder falar.

Finalmente, entre tantos mistérios sobre a vida, uma ela havia tido permissão de desvendar.

- Credo quia impossibile est... (Acredito, porque é impossível) - comentou Milagros, olhando pela janela do quarto (...)

Sobre o Autor

Neide Maganhas: A paulista Neide Maganhas lança seu primeiro romance, depois de estrear com as crônicas de "Sob o olhar da pedra grande" e prosseguir com "Mundo paralelo", em que relata a morte de um filho aos 5 anos. O título, esotérico, significa boa sorte ou batiza as ciganas que lêem a sorte.

 

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