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RESENHAS

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Bagunçando Brasília

Airo Zamoner*

Airo Zamoner encaminhou-me seu novo livro: "Bagunçando Brasília". Uma leitura muito agradável: aquela que não vontade de parar. O único desejo é chegar ao final da leitura; uma história muito bem contada e carregada de humanismo e escrita no estilo característico do autor, um estilo firme e crítico.

Realmente, trata-se de uma história cheia de aventuras, mistério, ação, onde os fatos se sucedem de forma frenética, levando-nos a uma diversão intensa, mas principalmente fazendo-nos repensar nossa sociedade e os métodos obscuros de muitos políticos e autoridades. Uma obra que deve ser indicada pelos professores aos seus alunos. Mais, deveria ser distribuída pelo Ministério da Educação a todos os estudantes. Uma verdadeira aula de cidadania.


Leia a seguir uma parte do primeiro Capítulo intitulado BANCO DE PEDRA. Temas transversais como cidadania, ética e pluralidade cultural, são abordados de forma intensa, dinâmica, onde os acontecimentos se sucedem freneticamente prendendo o leitor da primeira à última página.


CAPÍTULO I

BANCO DE PEDRA

Um estrondo seguido de um longo berro e de novos estrondos, fez tremer toda a velha casa de madeira. O bule de café quase fervendo, que Elita transportava para a cozinha, voou desastradamente para o chão.

Paralisada, suas mãos franziram o avental contra o rosto. Viu Fabiano chegar com os olhos esbugalhados de susto. Manteve-se estática. Parecia em transe hipnótico.

– O que é isso, mãe?

Congelada, Elita não respondeu. O pandemônio sonoro continuou vindo do quarto do casal. Fabiano agarrou a mãe pelos ombros e a sacudiu com firmeza. Saiu do transe, sem largar o avental premido sobre a boca e ambos correram para o quarto. Porta fechada, lá dentro, repentinamente, se fez silêncio. Entreolharam-se assustados. Fabiano deu um safanão violento na porta leve de madeira compensada. Ela se abriu submissa, fazendo dois ou três vaivéns irregulares. Um último empurrão escancarou o quarto e a cena descortinou-se patética.

A velha cama do casal estava tombada sobre a parede. Os móveis, há pouco arremessados para todos os lados, tinham se transformado em estilhaços imprestáveis. A balbúrdia era total. Roupas espalhadas pelo chão. Cacos do espelho da velha penteadeira, humilde herança da avó de Fabiano, salpicavam o cenário. Sentado em meio aos escombros, Giusto cobria o rosto com as grandes e fortes mãos calejadas e recém feridas. Escondia lágrimas e sangue. As mãos apertavam a boca e o nariz, na tentativa inútil de escamotear soluços irreprimíveis.

Fabiano nunca havia visto seu pai tão desgraçadamente batido. Correu para ele. Tentou abraçá-lo. Giusto não se moveu. Elita, com o dorso da mão esquerda, fez sinal insistente e mudo para que o filho deixasse os dois sozinhos. Lágrimas amargas e quietas saltaram do rosto jovem.

Afastou-se de costas. Viu a mãe repetir o gesto sem parar. Giusto se entregava como um menino ao consolo da mulher, liberando soluços envergonhados.

***

Fabiano correu para a rua como se soubesse aonde ir. Na verdade sabia. Nos momentos de desespero ou de intensa alegria, corria para Guacira.

Desceu a ladeira íngreme. Suas lágrimas secavam ao vento. A longa subida reduziu seu ímpeto e suas forças pareciam minguar. A imagem de seu pai dilacerava seu coração e não desmarcava seus olhos.

Aproximou-se do alto da rua que agora se estreitava, quase saindo da cidade. O frescor das árvores inclinadas sobre o caminho estreito, renovava seus pulmões. No final da rua sem saída, a casa de Guacira. O portão se aproximava. Não precisou bater. Guacira veio ao seu encontro.

– Fabiano! O que é isso? O que aconteceu?


**** Diz o Prof. Doutor Vicente Ataíde: "Dono de agudo humanismo, crítico da sociedade contemporânea, estilo firme e tenso, onde as coisas depressa se vão complicando, por certo Airo Zamoner está alçado ao primeiro escalão da literatura brasileira. Tudo o que ele faz é forte e poderoso, útil no sentido crítico, renovador no trato das consciências. Ninguém termina a leitura de um texto de Airo Zamoner do mesmo modo que iniciou

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

 

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