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Trocar de camisa
por Pablo Morenno
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publicado em 15/06/2006.
Maradona vestiu a camisa brasileira. Eu vi. Para quem, durante tanto tempo, alimentou arrogâncias, vestir a camisa do maior rival, acende uma vela para a convivência pacífica dos povos.
Maradona possibilita diferentes leituras. Pode-se olhar o comercial de refrigerantes como uma dessas qualidades de quem, com o tempo, torna-se menos radical.Vestir a camisa do adversário, não é apenas uma atitude externa. Pode provocar grandes mudanças internas. Pode-se, além de sentir-se na camisa do outro, sentir-se na pele do outro. Esta mudança de ponto de vista, pode ajudar a gente a entender as diferenças. Pode-se até –embora Maradona nem com ajuda de certas substâncias imaginou - sentir com o coração do outro.
Se Maradona pode se imaginar cantando o hino brasileiro, podemos sonhar até com o fim do conflito entre árabes e judeus.
Para nós, a atitude de Maradona, nem é tão inédita. Trocar de camisa no Brasil é coisa trivial. Lula trocou a camiseta de operário por uma camisa de linho e deu no que deu. Os deputados trocam camisas conforme as vantagens. Depois da Roberta Close, brasileiro que se preze precisa fazer alguma mudança em si mesmo, mesmo que por causas menos nobres.
E Felipão e Zico não trocaram a camisa? Imaginem a final da Copa entre Brasil e Portugal, ou entre Japão e Brasil? Será que a camisa mudou também o coração?
Mudanças de camisa afetam o manequim, mas não é regra. Mudar, por si só, nada significa. É preciso ver se a mudança representou melhora, crescimento essencial. Tem gente que muda de igreja e continua endemoniado. Tem gente que muda de mulher e continua sem amor. Tem gente que muda de partido e continua corrupto. Tem gente que muda de casa, de carro, de profissão, de cabelo, de roupa, de dieta, de posição social, de posição intelectual, mas, no fundo, no fundo, continua sendo o mesmo idiota de sempre.
Maradona nos ajuda a pensar um Brasil vestindo outras camisas quando a Copa do Mundo acabar. Trocar de camisa, ainda que em sonhos, agrega novos valores a quem veste. No caso de Maradona, foram apenas aqueles de um cachê irrecusável. Para nós, podem ser outros mais consistentes. Uma nação unida pela vitória da honestidade sobre a corrupção, da dignidade sobre a miséria, do humano sobre o econômico, da cultura sobre a ignorância, da justiça sobre os interesses pessoais e corporativos. No creo en cambios, pero que los hay, los hay! ¡Gracias, Maradona!
Sobre o Autor
Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno
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