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Sondando o abismo da paixão

por Moacyr Scliar *
publicado em 23/04/2006.

Já nos mostrava Machado de Assis: a combinação de inteligência com perturbação emocional, é capaz de desencadear tragédias.

Na entrada da Academia Brasileira de Letras, há uma estátua do Machado de Assis. Bela homenagem, à exceção da postura majestática da figura em bronze, não muito compatível com a imagem de um mulato de origem humilde, gago e epiléptico. Machado é o nosso maior escritor, mas isto não significa que seja um autor elitista. Pelo contrário, e exatamente por causa de suas origens, era um homem muito ligado à realidade de seu tempo: ninguém descreveu melhor a sociedade carioca da época. Mais: poucos escritores mergulharam tão profundamente na condição humana. Disso, o clássico “Dom Casmurro” continua sendo a maior prova. Raramente o ciúme foi tão bem abordado na ficção (à exceção, talvez, do Otelo de Shakespeare). No seu curto romance, Machado mostra-se como o autêntico "bruxo do Cosme Velho". A hábil trama até hoje mantém viva aquela que é a grande interrogação de nossa história literária: Capitu traiu ou não traiu? Machado, propositadamente, não esclarece a questão. Mais que isto, proporciona argumentos contraditórios. Sim, Capitu traiu: o filho, Ezequiel, é muito parecido com Escobar, amigo do casal Bentinho e Capitu e possível vértice do triângulo amoroso. Não, Capitu não traiu: "Na vida há dessas semelhanças assim esquisitas", garante o texto.

Lembremos que o livro é narrado na primeira pessoa. É a voz de Bentinho que ouvimos o tempo todo. Voz de um homem muito inteligente, mas perturbado pela desconfiança que dele se apossou. Este binômio, mostra-nos Machado, esta combinação de inteligência com perturbação emocional, é capaz de desencadear tragédias. Disso, Suzane Richthofen é o grande e atual exemplo. Muitas das pessoas que com ela conviveram, desde o assassinato de seus pais, mostraram-se impressionados com a frieza da moça e a sua capacidade de mentir. Aos pais, inquietava o namoro que ela mantinha com Daniel Cravinhos, que não estudava e era um usuário de maconha. Suzane conseguiu convencê-los de que tinha terminado a ligação. Notem: a mãe, Marisia, era psiquiatra, certamente familiarizada com as fabulações e as fantasias de doentes mentais. Mesmo assim, foi enganada (ou deixou-se enganar; difícil saber onde terminava a mãe e começava a médica). Oito dias após o crime, Suzane foi detida e confessou tudo à polícia. Não derramou uma lágrima. "Ela é fria e calculista", observou o delegado que a interrogou.

Essa moça é a própria personificação do Mal, dirá alguém. Não acho. É um ser humano, e o caso dela só mostra os extremos a que os seres humanos podem chegar quando barreiras morais e afetivas são arrastadas pela furiosa torrente da doença mental. Em “A Sangue Frio”, Truman Capote também descreve um crime bárbaro: uma família inteira assassinada. Machado de Assis, escritor sóbrio, contido, evita o crime passional em sua história. Para ele, o ciúme não chega a ser o "monstro de olhos verdes" do qual fala Shakespeare. Com isto, nos ajuda a entender melhor as pessoas. E entender as pessoas é o primeiro passo para que possamos entender, e domar, paixões - antes que elas transformem seres humanos em monstros.

Sobre o Autor

Moacyr Scliar: Nasceu em Porto Alegre, em 1937. É formado em medicina, profissão que exerce até hoje. Autor de uma vasta obra que abrange conto, romance, literatura juvenil, crônica e ensaio, recebeu numerosos prêmios, como o Jabuti (1988 e 1993), o APCA (1989) e o Casa de las Americas (1989). Já teve textos traduzidos para doze idiomas. Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, a televisão e o teatro.

O centauro no jardim, A majestade do Xingu, A mulher que escreveu a Bíblia e Contos reunidos são alguns dos livros marcantes de sua vasta obra literária, que soma hoje mais de 70 títulos publicados. Entre os recentes, destacam-se o romance Na noite do ventre, o diamante e o juvenil Um menino chamado Moisés, uma reconstituição imaginária da infância do famoso personagem bíblico.

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