Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Dante Gatto


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Sobre o Romance

por Dante Gatto *
publicado em 04/03/2006.

Segundo Lukács, que se reporta a Hegel, essa forma só adquirirá um caráter típico na sociedade burguesa. O filósofo de Berlim constrói a sua teoria do romance baseado na contraposição entre o caráter poético do mundo antigo e o caráter prosaico da civilização burguesa. O prosaísmo da moderna época burguesa é fruto, segundo ele, do inevitável desaparecimento tanto da atividade espontânea quanto da ligação imediata do indivíduo com a sociedade. Embora considere impossível eliminar esta contradição entre poesia e civilização, Hegel pensa que seja possível atenuá-la: o romance como epopéia burguesa deve conciliar as exigências da poesia com os direitos do prosaísmo e achar uma média entre eles. Isto, na linha do pensamento bakhtiniano, é resultado do plurinlingüismo próprio desta forma literária.

A dialogicidade interna do discurso romanesco exige a revelação do contexto social concreto, o qual determina toda a sua estrutura estilística, sua "forma e seu "conteúdo", sendo que os determina não a partir de fora, mas de dentro; pois o dialogo social ressoa no seu próprio discurso, em todos os seus elementos, sejam eles de "conteúdo" ou de "forma".

O prosador-romancista introduz em sua obra as intenções alheias da língua, feita de diferentes linguagens, não destruindo as perspectivas sócio-ideológicas. Isto implica a utilização de discursos já povoados pelas intenções sociais de outrem, que agora servem ao autor. Por conseguinte, as intenções do prosador refratam-se e o fazem sob diversos ângulos, segundo o caráter sócio-ideológico de outrem, segundo o reforçamento e a objetividade das linguagens que refratam o plurilingüismo.

O processo é outro com o poeta. O lirismo permite um trabalho de expurgação de todos os momentos, intenções e acentos alheios da linguagem em nome de um forte unidade. No caso do épico, argumenta Bakhtin: "Esta unidade pode ser ingênua e existir somente nas épocas mais raras da poesia, quando ela não saía além dos limites de um grupo social ingenuamente fechado sobre si mesmo e ainda não diferenciado, cuja ideologia e linguagem ainda não havia se estratificado efetivamente." O mundo clássico permitia a realização de formas épicas como a epopéia que possuía uma perspectiva única e exclusiva, na qual o herói agia em sua perspectiva particular, apesar da tensão permanecer imanente. Ora, "habitualmente sentimos esta tensão profunda e consciente através da qual a linguagem poética única da obra literária se eleva do caos das diferentes falas e línguas, caos este da linguagem literária viva que lhe é contemporânea".

Lukács, ainda, encara o romance como sendo o lugar de confronto entre o herói problemático e o mundo do conformismo e das convenções. O herói problemático está ao mesmo tempo em comunhão e em oposição ao mundo, encarnando num gênero literário, o romance. A forma interior do romance não é senão o percurso desse ser que, a partir da submissão à realidade despida de significação, chega à clara consciência de si mesmo. Isto implica dizer que, em maior ou menor grau, o romance absorve e reproduz o espírito da tragédia. Seria melhor dizer, por fim, que essa clara consciência de si mesmo é um ponto essencial que aproxima todas as formas de arte, ficando a diferença numa questão de nível.

Ainda, Bakhtin considera a natureza acanônica do romance. "Trata-se da sua plasticidade, um gênero que eternamente se procura, se analisa e que reconsidera todas as suas formas adquiridas. Tal coisa só é possível ao gênero que é construído numa zona de contato direto com o presente em devir." A crescente reificação capitalista, a padronização do modo de vida e o nivelamento do indivíduo (ainda Lukács ), geram, no âmbito do romance realista, as formas mais variadas de expressão do "protesto subjetivo". Completa Aguiar e Silva, tal gênero "não cessa … de revestir novas formas e de exprimir novos conteúdos, numa singular manifestação da perene inquietude estética e espiritual do homem".

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

LUKÁCS, G. O romance como epopéia burguesa. In: LUKÁCS,G., BACHTIN M. et al. Problemi di teoria del romanzo; metodologia letteraria e dialéttica storica. Trad. Letizia Zini Antunes. Torino: Einaudi, 1976. p.131-178. (Mimeogr.).
BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética. A teoria do romance. São Paulo: Unesp-Hucitec, 1988.
LUKÁCS, G. Ensaios sobre Literatura. Trad. Leandro Konder. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
AGUIAR e SILVA, V. M. Teoria da literatura. 8. ed. Coimbra: Almedina, 1997.

Sobre o Autor

Dante Gatto: Professor de Teoria da Literatura da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), campus de Tangará da Serra (MT), e doutorando da UNESP de Assis, na área de Letras (Teoria literária e literatura comparada).

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


Da Dardânia antiga à Kosova nova, por Engjëll Koliqi.

Oficialmente velho, por Leonardo Boff.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos